A atriz Jennifer Lopez e o cineasta Peter Segal guardam alguns elementos em comum em suas carreiras. A estrela de ascendência porto-riquenha já brilhou em projetos médios como os açucarados Encontro de Amor e Dança Comigo?, ao passo que Segal teve em Corra que a Polícia Vem Aí 33 ¹/³ e Como Se Fosse a Primeira Vez os pontos altos de sua trajetória como cineasta.

Mesmo com alguns sucessos no currículo, é patente que ambos flertaram, sim, com a sala vip de Hollywood, mas jamais chegaram a atingir, de fato, sucesso absoluto. Para comprovar isso, basta conferir os trabalhos recentes da dupla, o que também serve para entender o motivo dessa reunião. Lopez, já há muito tempo está escanteada no Cinema, o que a levou a se enveredar pelo caminho da TV e tenta com este Uma Nova Chance, uma espécie de retomada da carreira. Ou, pelo menos, voltar aos holofotes.

Mas Lopez, embora carismática como de hábito, é sabotada por um roteiro que recicla elementos de várias outras obras que vão desde novelas mexicanas até filmes açucarados do início do milênio, como Encontro de Amor, estrelado pela própria atriz veterana. A trama acompanha Maya (Lopez) uma mulher madura que se vê prejudicada em seu trabalho por não ter feito faculdade. Com dificuldades para se inserir novamente no mercado de trabalho, ela acaba recebendo a ajuda do filho de sua melhor amiga para ser contratada por uma poderosa empresa do ramo de cosméticos. O problema é que a tal ajuda gerou um currículo repleto de informações falsas e Maya deverá ter jogo de cintura para comprová-las.

Não haveria o menor problema se Uma Nova Chance optasse por se contentar com essa premissa, aproveitando a simpatia de sua protagonista para entregar uma história divertida e descompromissada. O problema é que o roteiro de Justin Zackham (do fraco O Casamento do Ano) e da estreante Elaine Goldsmith-Thomas resolve incluir uma tremenda reviravolta lá pelo metade da trama e todo o progresso adquirido até então cai por terra. Para evitar spoilers, me limitarei a dizer que trata-se de uma revelação chocante sobre o passado de Maya, que afeta não só seu futuro como todo o restante da narrativa.

Sendo assim, o que antes se apresentava como um simples conto sobre o sucesso depois dos quarenta anos, ganha tons de drama rocambolesco e melodramático, fazendo com que o ritmo seja irremediavelmente impactado e empurrando a história ladeira a baixo, como se um novo filme começasse a partir desse momento.

Isso, infelizmente, desencadeia uma sucessão de equívocos que vão desde justificativas risíveis, passando pela utilização agressiva da trilha sonora e culminando num desfecho que tem a pachorra de incluir uma suposta lição de moral, sem perceber que isso trai a personalidade da própria protagonista que tem sua jornada invalidada. 

Enquanto se concentrava em se adequar às típicas comédias voltadas para o público adulto (e majoritariamente feminino), Uma Nova Chance, de fato, servia como um veículo adequado para mostrar que Jennifer Lopez ainda possui presença de cena: carismática e segura, a atriz não demonstra dificuldades em segurar a trama, apresentando até mesmo uma surpreendente faceta cômica, até se entregar a mudanças bruscas forçadas pelo roteiro.

Já em relação ao elenco secundário, se Treat Williams (da série Chicago Fire) e Milo Ventimiglia (da série This Is Us) são pouco aproveitados pelo roteiro, Leah Rimini (de Kevin Can Wait, também uma série) rouba a cena como a melhor amiga de Maya, exibindo bom timing cômico e divertindo num papel que ela mesma já desempenha na vida real, visto que também é amiga íntima de Jennifer Lopez. Por fim, Vanessa Hudgens é, assim como Lopez, prejudicada pelas mudanças secas do roteiro. Assim, Hudgens oscila entre o estereótipo da jovem megera que rivaliza com a protagonista e a menina prodígio com passado comovente.

Às vezes pode soar pejorativo a uma produção dizer que esta trata-se de “um filme que passaria na Sessão da Tarde”, mas no caso de Uma Nova Chance e diante de uma reviravolta tão absurda e cáustica, essa afirmação além de ser um tremendo lucro talvez seja muito pior para a reputação da Sessão da Tarde. Para todos os efeitos, A Lagoa Azul continua sendo uma alternativa, fica a dica…

Author

Crítico de Cinema e Carioca. Apaixonado pela Sétima Arte, mas também aprecia uma boa música, faz maratona de séries, devora livros, e acompanha futebol. Meryl Streep e Arroz são paixões à parte...

Comments are closed.