2018 se encerra como um ano agitado e cheio de acontecimentos marcantes. Tivemos um período de eleições que dividiu o país como há muito tempo não se via. Mas o Cinema, como sempre, foi uma belíssima válvula de escape.
O Brasil deu mais um show, com produções de alto nível como Benzinho e Tungstênio, porém mais uma vez escorregou na escolha de nosso representante no Oscar. O Grande Circo Místico, o escolhido da vez, não só era uma escolha equivocada, como também se revelou uma das piores produções do ano. Os critérios que o levaram a derrotar obras infinitamente superiores são um obscuro mistério (politicagem, talvez).
Já a equipe do Festival do Rio mostrou grande resiliência e contra todos os (terríveis) prognósticos, foi capaz de realizar um evento competente e muito digno. Para aqueles que temiam o inédito cancelamento, os dez dias devem ter sido um bocado surpreendentes. Infiltrado na Klan, Capernaum (ou Capharnaüm) e Guerra Fria foram os grandes destaques de uma curadoria que trouxe pérolas do mundo todo. Só no meu circuito, tive o prazer de encaixar obras de países como Japão, Dinamarca, Polônia, Noruega, Sérvia e Itália. Um deleite cinéfilo.
O ano de 2018 também reservou fortes emoções para os fãs de quadrinhos que já em Fevereiro foram presenteados com Pantera Negra, cuja qualidade inquestionável lhe rende elogios e indicações a prêmios importantes até hoje (será que virá uma indicação ao Oscar de Melhor Filme?). Vingadores: Guerra Infinita ofereceu uma montanha russa de sentimentos aos seus espectadores, entregando um misto de diversão e apreensão com um final pra lá de sombrio, enquanto a concorrência, famosa pela seriedade, entregou-se às cores e fez de Aquaman uma das maiores surpresas de ano.
Mas ainda que esteja disposto a aumentar esse texto com mais alegrias e decepções, sinto que não devo me alongar mais. Como de hábito, encerrarei este artigo com os dez melhores filmes que estrearam esse ano no Brasil e também os dez piores. Lembrando sempre que as produções a que assisti no Festival do Rio e que ainda chegarão aos circuito comercial (casos de Guerra Fria e Capharnaüm, por exemplo) ficarão de fora da lista final, mas darei um jeito de incluí-las na ala das recomendações. Só entraram as películas que estrearam até o dia de hoje. Nos cinemas, ou nas plataformas de Streaming.
Portanto, sem mais delongas, seguem as listas:
Os dez melhores filmes do ano (quando azul, clique para ler a crítica):
10. Pantera Negra (Black Panther)
Diretor dos excepcionais Creed e Fruitvale Station, Ryan Coogler era a escolha perfeita para comandar a primeira super-produção de um super-herói negro. Talentoso, Coogler conseguiu fazer de Pantera Negra um Blockbuster com muito a dizer. Quebrando paradigmas, a história de T’Challa empolga, diverte e faz refletir, deixando um pouco de lado a famigerada fórmula Marvel para entregar um filme digno de aplausos.
9. A Casa que Jack Construiu (The House That Jack Built)
Por falar em violência, não seria um filme de Lars Von Trier se não houvesse uma profusão de cenas chocantes regadas à muita violência. A Casa que Jack Construiu possui tudo isso e muito mais, em 152 minutos que envolvem discussões de assuntos que vão desde a Arte até comportamento humano. Pode ser prolixo para alguns e demasiado forte para muitos, mas a verdade é que Von Trier segue em pleno domínio de sua Arte.
8. Jogador Número 1 (Ready Player One)
Ainda na seara dos blockbusters, quem melhor do que Steven Spielberg para entregar entretenimento ao público? O retorno do lendário cineasta às suas origens presenteia o espectador com uma história que remete ao auge de sua carreira, quando De Volta Para o Futuro, Indiana Jones e E.T. levavam multidões aos cinemas. Jogador Número 1 bate o recorde de referências numa trama esculpida para todas as idades. O ritmo alucinante, a trilha sonora deliciosa e o espírito juvenil sacramentam Ready Player One (no original) no Top 10 de 2018.
7. Missão: Impossível – Efeito Fallout (Mission: Impossible – Fallout)
Superando-se a cada novo capítulo, a franquia Missão: Impossível novamente atinge seu ápice com esse que certamente está entre os melhores filmes de ação das últimas décadas. Aos 56 anos, Tom Cruise não dá sinais de cansaço nem mesmo depois de quebrar o tornozelo durante as filmagens, Efeito Fallout apresenta sequências de ação que não apenas elevam o patamar da franquia como também desafia Hollywood a superá-las. Novamente sob a batuta de Christopher McQuarrie, Missão: Impossível 6 possui um roteiro feito sob medida para surpreender e entregar momentos de tirar o fôlego. Não é apenas um filme de ação, é pura magia cinematográfica do mais alto nível.
6. Hereditário (Hereditary)
Este foi apontado como um dos mais aterrorizantes filmes de todos os tempos e, sinceramente, não discordo. Com uma Toni Collete inspiradíssima a seu dispor, o diretor estreante Ari Aster oferece uma história que vai além dos sustos e dos arrepios, mergulhando o espectador numa atmosfera genuinamente apavorante ao incluir o satanismo numa família aparentemente normal. A direção de arte irrepreensível e o design de som preciso ajudam a construir sequências que demorarão a sair da mente daqueles que o assistem.
5. Ponto Cego (Blindspotting)
Ainda na órbita da crítica social, Blindspotting (no original) narra um conto cru e sem medo de expor a violência policial dos Estados Unidos. Acompanhando os dias que antecedem o fim da condicional do afrodescendente Collin (Daveed Diggs), o diretor Carlos López Estrada faz o espectador sentir o pânico e a tensão de ser um cidadão negro nos Estados Unidos. Com alguns dos planos mais emblemáticos do ano (como aquele que envolve dezenas de negros num cemitério), Ponto Cego também é capaz de oferecer risadas e descontração através de personagens espirituosos e um roteiro afiadíssimo.
4. Artista do Desastre (The Disaster Artist)
Baseado numa história real, Artista do Desastre narra os bastidores da produção de The Room, filme que viria a ser rotulado como “o pior de todos os tempos”. Tommy Wiseau, seu diretor/roteirista/protagonista/produtor ganha a espetacular interpretação de James Franco (a melhor de sua carreira) numa máquina ininterrupta de provocar risadas. E ainda há espaço para reflexão.
3. Trama Fantasma (Phantom Thread)
Depois de Sangue Negro, o diretor Paul Thomas Anderson retoma a parceria com Daniel Day-Lewis naquele que pode ter sido seu último filme (Day-Lewis declarou que se aposentaria). Caso a aposentadoria se confirme, o ator três vezes vencedor do Oscar terá saído de cena em altíssimo nível, com uma história sofisticada sobre amor, mas com generosas pitadas de thriller psicológico.
2. Infiltrado na Klan (BlacKkKlansman)
Spike Lee conseguiu de novo. Depois de um tempo longe das grandes produções, o cineasta veterano assinou uma das mais ácidas e divertidas críticas ao racismo institucionalizado, dos últimos tempos. Baseado em eventos da década de 70, Lee mostra o quão atrasados ainda estamos. Não evoluímos e ainda vivemos numa sociedade preconceituosa. Grandes atuações e uma trilha sonora matadora fazem parte do pacote que ainda inclui um final aterrador.
Em 2018, a violência nunca foi tão bem satirizada como em Três Anúncios Para um Crime. O texto afiado, as grandes atuações e a direção precisa fazem desse filme vencedor de dois Oscars a melhor produção do ano, além de representar uma verdadeira aula de Cinema.
Menções honrosas:
- O Primeiro Homem (First Man)
- Tully (Idem)
- Utøya, 22 de Julho: Terrorismo na Noruega (Utøya: 22 July)
- Um Lugar Silencioso (A Quiet Place)
- Culpa (The Guilty)
- As Viúvas (Widows)
- Benzinho (Nacional)
- Roma (Idem)
- Nasce uma Estrela (A Star is Born)
- Vingadores: Guerra Infinita
- Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi
- Tungstênio (Nacional)
- Você Nunca Esteve Realmente Aqui (You Were Never Really Here)
- Te Peguei! (Tag)
A lista completa (com todos os filmes que vi em 2018) pode ser conferida no meu perfil do Letterboxd: https://boxd.it/1spVs
Agora vamos ao outro lado da moeda, os dez piores filmes de 2018
10. Venom (Idem)
Talvez o único prazer em assistir a Venom seja a atuação de Tom Hardy. A direção frouxa de Ruben Fleischer deixa o ator completamente à deriva, entregando uma atuação muito acima do tom. É divertido ver até onde Hardy pode chegar. Tirando isso, sobram sequências de ação datadas, efeitos visuais nada especiais e uma trama recheada de clichês e convenções que parece ter sido retalhada na ilha de edição.
9. Titã (The Titan)
Produção original da Netflix, Titã extrai uma das piores atuações da carreira de Sam Worthington e ainda desperdiça Taylor Schilling e Tom Wilkinson. A história, com elementos surrupiados de obras consagradas, põe Worthington novamente na pele de um ser azul apenas para se entregar a uma trama mirabolante e previsível.
8. Mentes Sombrias (The Darkest Minds)
Mais uma daquelas adaptações literárias feitas sob medida para atrair os fãs de Jogos Vorazes, Maze Runner e afins. Sucumbe à falta de carisma de seus personagens, que se submetem a situações pra lá de batidas. Com diálogos risíveis e um pedante gancho para uma improvável continuação, Mentes Sombrias entra também para a lista de filmes mais ridículos do ano.
7. Cinquenta Tons de Liberdade (Fifty Shades Fred)
Figurinha carimbada nas listas de piores do ano desde o primeiro filme, a franquia Cinquenta Tons chega ao fim com um capítulo que mais parece uma novela mexicana, mas que, surpreendentemente, acabou apenas na sétima colocação. Sinal de alerta para Hollywood.
6. O Grande Circo Místico (Nacional)
De escolhido para tentar o Oscar, para a lista de piores do ano. Isso é o que acontece quando a politicagem entra em jogo. Na tentativa de se promover com a imagem veterana de Cacá Diegues, O Grande Circo Místico só reflete a imagem de seu diretor: obsoleto e preso a valores velhos e contestáveis. A história sem sentido só serve como veículo de divulgação dos mais reprováveis valores, como a misoginia, o sexo gratuito, a objetificação da mulher bem como sua exploração e o machismo.
5. Refém do Jogo (Final Score)
Convenhamos, sem a maquiagem do Drax de Guardiões da Galáxia, Dave Bautista revela-se um ator bastante limitado. E nem mesmo a presença dos experientes Pierce Brosnan e Ray Stevenson salva essa produção datada e que busca desesperadamente ser uma espécie de “novo Duro de Matar”. Flertando perigosamente com a imitação barata, submete-se ao absurdo de quem comprova não entender nada de futebol (peça-chave da história) e ao ridículo de seus furos narrativos.
4. O Paradoxo Cloverfield (The Cloverfield Paradox)
Depois de acertar em cheio com Roma (possível vencedor do Oscar), a Netflix emplaca dois filmes entre os piores. Com um elenco invejável e sob a sombra do poderoso produtor J. J. Abrams, o céu era o limite. Mas o roteiro implausível e afoito para se encaixar no cânone da franquia Cloverfield, sepultam qualquer chance de relevância.
3. Uma Dobra no Tempo (A Wrinkle in Time)
Oprah Winfrey parecendo uma drag queen gigante. Reese Witherspoon se transformando numa couve gigante (ou alface?). E um personagem que confessa não ter ideia de como entrou na história. Tinha como dar certo? Pois Ava DuVernay até tenta, mas seu primeiro blockbuster é um show de efeitos visuais que não chega a lugar algum. Frases de auto-ajuda e um senso de encantamento que justificam a presença de Uma Dobra no Tempo no pódio dos piores do ano.
Clint Eastwood ficou tão fascinado pela história do grupo de jovens turistas que impediram um ataque terrorista num trem de Paris, que resolveu tomar uma inusitada decisão: escalar os três para interpretarem a si mesmos no filme que conta a história daquele ato de heroísmo. 15h17: Trem para Paris é o que acontece quando um péssimo roteiro é colocado a serviço de pessoas que passam longe de serem atores. Sem ter o que dizer, o filme coloca o trio numa trama que mais parece ter saído de um programa de viagens e culmina num desfecho que, previsivelmente, não justifica a espera.
O pior filme do ano não poderia ser outro. Com a inesquecível tentativa de susto durante uma cena de sexo e um grupo de imbecis fúteis enfrentando uma criatura que mais parece uma árvore vestida de terno e gravata, Slender Man provoca mais sustos involuntários do que qualquer sinal de arrepio. O problema é quando o material é tão ruim que ao invés de ser engraçado, torna-se entediante. Aí, não há quem aguente…
Menções desonrosas:
- No Olho do Furacão (The Hurricane Heist)
- Correndo Atrás de um Pai (Father Figures)
- A Justiceira (Peppermint)
- Robin Hood: A Origem (Robin Hood)
- Hotel Artemis (Idem)
- O Predador (The Predator)
- Gente de Bem (The Land of Steady Habits)
Dicas para 2019:
Assunto de Família (Shoplifters)
Se a Rua Beale Falasse (If Beale Street Could Talk)
Um grande abraço a todos e um feliz 2019 com muitos grandes filmes para todos nós!
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