cada um na sua casa cartazBela e divertida animação, Cada Um na Sua Casa é mais um acerto da DreamWorks que dessa vez traz uma história cheia de elementos ousados que funcionam também como reflexo da nossa sociedade.

Dirigido por Tim Johnson (responsável pelos excelentes Formiguinhaz e Os Sem-Floresta) e escrito por Tom J. Astle e Matt Ember que adaptaram o livro The True Meaning of Smekday de Adam Rex, o filme conta o dia em que nosso planeta é invadido por alienígenas da espécie Boov e a imediata colonização. Oh é o único boov diferente da coletividade de seres impessoais e sem relacionamento social entre eles e liderados pelo Capitão Smeck. Após uma frustrada tentativa de dar uma festa no apartamento recém-invadido, Oh encontra a jovem Tip, que por sua vez tenta “sobreviver” à invasão alienígena que abduziu todos os demais humanos. Motivada a encontrar a mãe, Tip (com seu gato Porquinho) tem a ajuda do alienígena que naturalmente tem mais informações sobre o paradeiro dos humanos.

As escolhas para o desenvolvimento dos personagens são pontos fortes da história e de um roteiro que insere questões sociais sem que isso seja o motor da história. Tem a medida certa para deixar a narrativa equilibrada entre uma mensagem bacana sobre minorias e uma aventura bem alucinante graças à psicodelia dos alienígenas, desde as características latinas da garota até o fato de Oh ser socialmente mais humano do que boov. Uma das coisas mais legais no desenvolvimento dos alienígenas é a expressão corporal incontrolável e manifestada pela cor da pele de cada um de acordo com o sentimento que experimenta no momento, que faz deles uma espécie muito mais transparente que a humana.

Desde o início da invasão, o diretor utiliza elementos para estabelecer uma série de diferenças entre nós e eles. Logo, a retirada utilizando gravidade e magnetismo de tudo o que é inútil para os boovs funciona perfeitamente para dar o ritmo do filme (pois é praticamente instantânea) e para acentuar as diferenças entre as espécies, garantindo ainda boas piadinhas internas. Mais do isso, ao estabelecer imediatamente as diferenças entre humanos e boovs, Johnson ganha tempo para desenvolver as semelhanças entre as espécies, uma vez que Tip e Oh estabelecerão uma divertida sinergia para resolver os problemas colocados no filme de uma forma bastante natural.

cada um na sua casa

A direção de arte faz um trabalho genial nesse sentido. É impossível não nos identificarmos, nos dias de hoje, com aqueles alienígenas conectados em uma espécie de smartphone que determina cada ação de cada indivíduo. E aí reside uma crítica sutil que sugere até mesmo que os boovs desenvolveram essa impessoalidade ao se tornarem dependentes de dispositivos assim, e logo seriam subjugados por uma liderança autoritária e deliciosamente idiotizada pelos autores.

E é através do uso das cores e formas geométricas que percebemos outras diferenças, dessa vez entre humanos e boovs de um lado e os vilões gorgons, retratados na maior parte do tempo em tons escuros, sombras e com cenários e naves pontiagudas, bem diferente do mundo colorido e de formas arrendondadas e aconchegantes construído pelos boovs – que conseguem fazer até como que todo o nosso lixo seja um objetivo decorativo simático nos céus das grandes cidades.

Também eficiente na trilha sonora pop, as músicas não só remetem à participação das cantoras Rihanna e Jennifer Lopez nos papéis de Tip e sua mãe Lucy, respectivamente, mas também funcionam na narrativa para garantir mais momentos divertidos, especialmente quando Oh se sente dominado pelo ritmo da música. E se alguém tiver alguma reclamação com a trilha sonora, espere para ouvir a trilha boov para tirar as conclusões…

Afinal, como sugere o filme, somos uma espécie que não fica feliz com nada: nem naquele shangri-la carinhosamente construído para assentar os humanos enquanto os boovs limpam nosso planeta.

Author

Escritor e Crítico Cinematográfico, membro da Associação Paulista de Críticos de Arte e da Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos.

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