264CA794-6783-46AF-A686-01EF16FD4E5EA menina submersa: memórias, o obscuro romance da irlandesa Caitlín R. Kiernan, já demonstra que essa é uma autora de quem só se pode esperar grandes trabalhos. A Darkside® Books presenteou os leitores apostando nesse ganhador do Bram Stocker Award (prêmio apresentado por uma associação de escritores de terror – Horror Writer Association, HWA – em reconhecimento aos feitos de grandes artistas do gênero).

Um princípio nessa obra de Kiernan que guia o desenvolvimento da narrativa é o de que duas testemunhas podem narrar o mesmo acontecido de formas completamente diferentes sem contar uma mentira. A verdade é bastante subjetiva, e a mente pode pregar altas peças em nossa percepção do contexto e dos acontecimentos.

Então… Como ter certeza do que aconteceu?

CE1EBE42-EFF3-4B9E-9963-7BC7C879C71CIndia Morgan Phelps, mais conhecida como Imp, é a protagonista de A menina submersa: memórias. Como o título dá a entender, ela dispõe-se simplesmente a narrar sua história. Algo que se entende conforme o enredo evolui é que o que a faz escrever é uma necessidade de registrar o que aconteceu para si mesma. Ela sabe que sua narração é problemática, e suas memórias são uma tentativa de colocar em perspectiva tudo o que ocorreu – ou o que ela pensa ter sucedido.

Imp, como a mãe e a avó antes delas, sofre de esquizofrenia. Esse legado de família faz dela uma jovem peculiar – não num sentido negativo; sua doença apenas significa que simplesmente que ela tende a perceber os acontecimentos de forma diferente da maioria. Seu cérebro parece uma esponja de informações devido aos dados que é capaz de citar. Mas toda essa capacidade está restrita apenas aos assuntos que lhe interessam verdadeiramente, como a arte. Sua dificuldade, por exemplo, nas aulas, a impede de se dar bem nos estudos ou querer ir à faculdade.

Há muito tempo, Imp é acompanhada por uma psiquiatra; contudo uma crise faz com que ela se torne a narradora pouco confiável apresentada ao leitor. No começo dessa crise, ela conhece uma mulher misteriosa, e o primeiro encontro acontece mais de uma vez. A ficção d’A pequena sereia e de Chapeuzinho vermelho misturam-se à realidade, e esses contos de fada infantis tornam-se histórias de horror.

“Vou escrever uma história de fantasmas agora”, ela datilografou.
“Uma história de fantasmas com uma sereia e um lobo”, datilografou mais uma vez.
Eu também datilografei.

Esteja preparado a uma leitura em que as viagens são muito mais importantes do que o destino, miragens aguardam à beira da estrada e fato e ficção, real e fantástico misturam-se até que não seja possível diferenciá-los. É um excelente pedida para quem gosta de dark fantasy.

Isso sem falar na aparência do livro. A Darkside mais uma vez investe nas capas duras de cair o queixo. Quando peguei pela primeira vez, tive a sensação de estar segurando uma caixa de metal. É como se fosse o recipiente em que Imp guarda suas memórias.

Os desenhos na capa e contracapa são todos gravados no livro, e a lombada tem duas dobradiças. O livro não tem título, nome de autor, editora, nada: tudo em favor de autenticamente parecer outro objeto.

Apesar de a borda ser rosa quase fluorescente, por dentro as páginas tem uma cor mais tradicional. Belas ilustrações de insetos (sim, os desenhos são tão bem feitos que não dá para não gostar) decoram o interior e páginas específicas.

Apaixone-se pela aparência e depois pela história. Não dá pra perder essa leitura.

Author

Universitária, escritora de contos presos na gaveta, nerd e "apenas uma dessas pessoas estranhas".