Danny é uma oceanógrafa determinada e prestes a realizar seu sonho de embarcar num submarino e conhecer o fundo de um abismo submerso. Submersão James é um espião disfarçado que acaba sendo capturado durante uma missão em território inimigo, onde a morte é iminente. Esse paralelo traçado, no qual Danny e James encontram-se à beira do abismo, é uma boa sacada de Submersão. Mas suas qualidades não vão muito além da premissa, servindo muito mais para evidenciar um projeto sem muita vocação para preencher 100 minutos, que parecem intermináveis.

Dirigido por Wim Wenders, Submersão atinge seus melhores momentos quando está contando a Origem do relacionamento dos protagonistas, em sequências que comprovam o talento de seus intérpretes e a química inquestionável entre estes. Mas a verdade é que por mais que James McAvoy e Alicia Vikander se esforcem para encontrar camadas em seus personagens, o roteiro parece muito mais interessado num pano de fundo filosófico e pseudocomplexo, suscitando questionamentos onde apenas o romance seria suficiente, e interrompendo seu desenvolvimento frequentemente para transitar entre flashbacks e a realidade.

Flashbacks que, no final das contas, surgem como o ponto alto do filme ao enriquecerem o relacionamento do casal principal. Vivido por James McAvoy com a segurança habitual, James More apresenta-se como o típico agente secreto durão que não dispensa uma companhia feminina, mas gradualmente passa a revelar uma vulnerabilidade que, se passa longe de afetar seu trabalho, serve para indicar seu apego emocional a Danny que, por sua vez, é encarnada por Alicia Vikander como um misto de determinação e inteligência, convertendo-a nume mulher forte, mas que não abre mão de seus sonhos.

E os diálogos entre Danny e James são uma atração à parte, graças à rapidez com que as falas são ditas e, principalmente à personalidade de seus interlocutores, que além de ganharem força, exalam charme e carisma. Uma pena que esses momentos acabem excluídos do terceiro ato, quando o roteiro perde-se no melodrama enquanto tenta extrair significados filosóficos da trama.

Tecnicamente, por outro lado, Submersão acaba destacando-se pela ótima fotografia, que contrapõe com precisão os interiores sofisticados do hotel que serve de cenário à boa parte da trama, com as sequências externas, quando as belíssimas paisagens ganham atenção suficiente para encher a tela e, consequentemente, os olhos do espectador. A elegante trilha sonora também é digna de nota, conduzindo com discrição, ainda que contundente, a atmosfera.

Soando mais longo do que deveria, e sublinhando redundantemente informações já claras (num momento alguém diz ‘meu celular está sem sinal’, noutro esta mesma pessoa ouve ‘então não consegue mesmo se comunicar’), Submersão termina dando a clara sensação de que a opção pelo drama alegórico foi um tremendo equívoco, visto que o romance do casal protagonista não só é o maior atrativo da trama, como também é o único.

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Crítico de Cinema e Carioca. Apaixonado pela Sétima Arte, mas também aprecia uma boa música, faz maratona de séries, devora livros, e acompanha futebol. Meryl Streep e Arroz são paixões à parte...

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