Em Juliet: Nua e Crua, temos Annie (Rose Byrne, de Vizinhos) é uma mulher de trinta e tantos anos que vive numa pequena cidade no litoral da Inglaterra. Seu marido, Duncan (Chris O’Dowd, de JulietO Paradoxo Cloverfield) é um professor universitário que não esconde sua admiração por Tucker Crowe (Ethan Hawke, do recente Um Dia Para Viver), um músico alternativo que há tempos anda desaparecido. 

Apresentando seus personagens de forma preguiçosa através de narrações em off ou, literalmente, com alguém falando diretamente para a câmera, o cineasta Jesse Peretz (O Idiota do Meu Irmão) ao menos tenta contornar a potencial artificialidade desses momentos ao brincar com a linguagem, emulando, por exemplo, a estrutura de um vlog (lembra quando eu disse que alguém fala diretamente com a câmera?).

Esses momentos, felizmente, são rapidamente esquecidos assim que a trama passa por seu primeiro ponto de virada. O roteiro, vale ressaltar, é hábil ao estabelecer a dinâmica insossa do relacionamento entre Duncan e Annie e, nesse aspecto, a performance de Chris O’Dowd ajuda a estabelecer o professor universitário como uma figura egoísta e radical, fazendo com que o espectador entenda as frustrações de Annie.

Em contrapartida, O’Dowd traz uma certa doçura que é fundamental para que não encaremos Duncan como um completo babaca. Pelo contrário, pois sua adoração à obra de Tucker Crowe além de palpável gera compreensão e até mesmo comoção. 

E por falar em Crowe, Ethan Hawke passeia com o devido conforto por uma composição que faz do ex-astro um homem maltratado pelo tempo e que vive à sombra de escolhas erradas. Por isso, chega a ser tocante vê-lo desdenhar de sua própria obra ao analisar sua trajetória e perceber que os cabelos e a barba grisalha pertencem a alguém que mora de favor na garagem de sua ex-mulher, mantendo-se com os dividendos de um trabalho que passa longe de lhe orgulhar.

Essa persona encaixa bem com a inocência conformista com que Rose Byrne leva a Annie, uma mulher independente, mas refém de sua própria vontade de agradar aos outros, como ao mentir sobre o sonho de ser mãe ao constatar que Duncan não deseja filhos. Além disso a disposição em mergulhar de cabeça em seus planos é precisamente o que a une a Crowe, gerando um casal improvável, mas extremamente agradável.

E esse sentimento agradável perdura por toda a narrativa e até serve como perdão para as sequências onde o filme falha em suas tentativas de provocar o riso. Pois se a gargalhada não aparece, ao menos o sorriso demora a sair do rosto do espectador enquanto acompanhamos Crowe e Annie em uma jornada de redenção e retomada do rumo. Nesse ínterim, o jovem Azhy Robertson rouba a cena como o simpático Jackson filho mais novo de Crowe, a quem dedica seu apoio em tempo integral.

Envolvendo o espectador com o charme de seus atores e uma trama deliciosamente simples, Juliet: Nua e Crua é uma daquelas comédias românticas capazes de levantar o astral até do mais ranzinza espectador. 

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Crítico de Cinema e Carioca. Apaixonado pela Sétima Arte, mas também aprecia uma boa música, faz maratona de séries, devora livros, e acompanha futebol. Meryl Streep e Arroz são paixões à parte...

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