Sinopse
Anos 80, São Paulo. O país está passando por transições e assim está também a carreira de Hebe. Com 40 anos de profissão ela arrisca tudo a não aceitar mais ser apenas um produto que vende bem nas telas de TV. Assim ela se dá ao direito de ter sua própria voz, e ser a voz de seu público, frente a uma censura que se diz não mais existir. Em paralelo ao seu brilho público vemos a escuridão e dramas de sua vida privada. Neste filme Hebe mostra toda sua essência.
Análise filme Hebe – A Estrela do Brasil
O filme começa com closes nos movimentos de Hebe, de costas, enquanto se arruma para entrar no palco. Em paralelo vemos Walter Clark, interpretado por Danilo Grangheia, enfrentando os censores. Pelo trailer já tinha suspeitado disso, porém ao ver que o filme não passaria por toda a trajetória de vida de Hebe tive um estranhamento.
O padrão em produções biográficas brasileiras é contar toda a vida e carreira do protagonista. Não é este o caso. Aqui a roteirista Carolina Kotscho fez uma escolha bem arriscada, mostrar toda a personalidade e postura da Hebe através de um recorte muito específico: da saída dela da Bandeirantes até sua contratação pelo SBT.
Porém, por mais que audaciosa, a escolha funcionou bem. Sim, eu individualmente adoraria ver sua carreira no rádio retratada. Ainda assim, durante coletiva de imprensa, Carolina Kotscho justificou essa escolha que – segundo ela – foi difícil mas que ficou clara para ela quando percebeu que o trecho de vida escolhido para ser retratado seria o que mais retrata o transbordamento e transformação da Hebe. Através das mudanças do país e de sua vida pessoal a personalidade de Hebe é apresentada por meio de suas atitudes e reações.
Entretanto, também durante coletiva, foi relevado o lançamento futuro de uma série e um documentário que abordarão mais profundamente outros pontos do filme. Isso alimentou meu desejo de ver mais sobre a vida da Hebe ao mesmo tempo que me provocou a sensação de estar sendo seduzida. Como? Seduzida a ver outros trabalhos para complementar o que tinha acabado de assistir no cinema. E se é necessário essa complementação, será que o filme foi realmente bom?
Pontos altos do filme Hebe
Citei no começo deste texto os closes no início do filme e, como o próprio diretor Maurício Farias e a atriz Andréa Beltrão citaram em coletiva, eles trouxeram ao filme um outro olhar sobre a apresentadora. Para todos nós, acostumados a vê-la de frente para a câmera, a escolha do diretor nos trouxe a possibilidade de ter um olhar sobre a Hebe de ângulos diferentes ou mesmo muito próximos, em seus detalhes. Sendo assim, primeiro ponto positivo para a produção.
Em seguida temos o elenco. A escolha de Andréa Beltrão para interpretar Hebe Camargo com certeza pareceu estranha para a grande maioria. Elas não são em nada fisicamente parecidas, não houve uso de próteses ou maquiagens para a interpretação, além de uma ser carioca e outra paulista.
A atriz fez questão de deixar claro durante coletiva que só tentou fazer uma imitação de Hebe enquanto estudava em casa, longe de qualquer olhar. Diferente do que se esperava, a equipe concordou de que este não seria o caminho. Cada um do elenco teve a liberdade de fazer sua leitura de seu personagem, ainda que se tratando de figuras reais. E, por incrível que pareça, foi por este caminho que Andréa Beltrão conseguiu trazer toda a essência e personalidade de Hebe ainda que sem imitá-la.
O mesmo pode ser dito de Felipe Rocha no papel de Roberto Carlos,
Karine Teles interpretando Lolita Rodrigues, Daniel Boaventura como Silvio Santos ou Otávio Augusto fazendo Chacrinha. Fugir da paródia fez com que todos eles conseguissem trazer o espírito e o âmago de seus personagens à tona.
Afinal, vale ou não ver Hebe – A Estrela do Brasil?
Para os saudosos de Hebe Camargo com certeza será um filme que aquecerá o coração, que trará de volta a sensação de vê-la com todo seu carisma e alegria.
Já para aqueles que não a idolatravam ou não conheciam tanto sua história a escolha de narrar apenas um trecho de sua vida pode parecer raso e breve, ainda que ali esteja muito bem resumido todo seu caráter e personalidade.
Por fim, o único ponto com o qual talvez não concorde é com a postura “revolucionária” que colocam nela. Sim, ela defendia causas e usava de seu palco como palanque para defender causas. Talvez sua maior luta fosse pela liberdade, mas colocá-la como lutando contra a ditadura pode soar um pouco demais. Até porque durante o próprio filme é falado que ela apoiou a ditadura e alguns presidentes abertamente. O mais importante é enxergar aqui sua postura em não ter medo de errar, de mudar de opinião e de se posicionar frente ao que achava certo ou errado.
De qualquer é um filme agradável, que revela bastidores surpreendentes de sua vida particular e que deixa um gostinho de curiosidade pela série que estreia ano que vem.
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