Os minutos iniciais de Uma Longa Queda prometem uma tortura de noventa e seis minutos quando ouvimos uma narração de Pierce Brosnan justificando o motivo que o levará ao suicídio naquela noite de reveillon. Felizmente, o longa não cumpre essa promessa e acompanhamos uma comédia dramática bem feita que se mantém centrada sem grandes surpresas e sem se sustentar em clichês.Adaptado por Jack Thorne a partir do livro homônimo de Nick Hornby e dirigido por Pascal Chaumeil, o filme conta a história de quatro suicidas que se conhecem no topo de um prédio em Londres, já que todos decidiram saltar dali na virada do ano. É assim que conhecemos o bem sucedido Martin (Brosnan), a conservadora Maureen (Colette), o confuso J.J. (Paul) e a maluca Jess (Poots) que, após terem o plano de suicídio frustrado, passam os próximos meses cumprindo o pacto de não se suicidarem até o Dia dos Namorados.
A partir daí, vemos uma sequência de absurdos que, se olharmos de perto, é perfeitamente coesa com a proposta do longa, afinal, são momentos nada planejados na vida que quatro pessoas que decidiram se matar. Assim, cada cenário das cenas seguintes durante o primeiro ato cumpre bem a função de mostrar, por exemplo, a confusão mental em que se encontram em uma balada com música eletrônica, a organização das ideias em um hospital, a aceitação de quem são ao mostrar ao mundo que foram salvos no último minuto.
Nesse sentido, o ponto forte da produção é mesmo a direção de arte. O figurino dos personagens contribui para mostrar os mundos diferentes em que vivem e evolui a medida que notamos mudanças em cada um, como a simples Maureen, que passa a recuperar sua vaidade ao longo da projeção e Jess que passa a deixar sua rebeldia para trás. E quando passam um período juntos, o figurino mostra o quanto estão afastados da vida fria e sem cores que tinham em Londres em contraste com as cores vivas que assumem durante as férias forçadas. Ainda assim, enquanto três dos quatro conseguem reunir motivos para seguir em frente na vida, um deles tem um plano bastante simbólico no mar, com água até o pescoço, cujo movimento de câmera se afasta para reduzir o personagem na tela, sozinho e isolado no mar.
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Com um bom roteiro que alterna o ponto de vista dos quatro personagens sem tornar a história episódica, conhecemos mais os personagens através de cenas rápidas nas casas de cada um. E mais uma vez a direção de arte se destaca ao criar o quarto de cada um da forma que devemos entender os personagens. Por isso vemos um ambiente absolutamente organizado e moderno na casa de Martin, um cenário de móveis velhos e cores pálidas na casa de Maureen, um quarto bagunçado e cheio de coisas (desde bichos de pelúcia a posters adolescentes) de Jess e o vazio onde vive J.J..
Com boas interpretações do elenco principal e secundário (mal reconheci Sam Neil, que interpreta o pai de Jess), a única coisa que me preocupou de verdade foi Aaron Paul. Sim, entrega um bom trabalho, mas fiquei com a impressão de que pode ser um ator limitado a alguns maneirismos que vimos no excelente Breaking Bad. Se em algum momento J.J. dissesse “Yo” ou “Bitch”, defenderia que Uma Longa Queda seria um spin-off sobre a vida Jesse Pinkman em Londres a partir do dia que decidiu se matar – teria até mesmo feito uma referência a Walter White ao justificar seus motivos.
Brincadeiras a parte, a trama se desenvolve em como pessoas desesperadas observam o desespero ainda maior de outras pessoas desesperadas para então sentir menos desespero, com o mérito de não recorrer ao apelo de auto-ajuda. É um bom filme que pode render até mesmo algumas risadas e que termina passando boas vibrações ao espectador, que não se arrepende de tê-lo assistido.
Uma Longa Queda (A Long Way Down)Direção: Pascal Chaumeil
Elenco: Pierce Brosnan, Aaron Paul, Toni Collette, Imogen Poots, Rosamund Pike
Gênero: Comédia
País: Inglaterra / Alemanha
Ano: 2014
Duração: 116 min
Distribuição: California Filmes
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