Somando bastante humor e uma necessária mensagem sobre tolerância, Hotel Transilvânia 2 é mais do que uma continuação, é a promessa de estabelecer uma franquia onde poderemos ver outros temas que envolvem discriminação de gênero, quem sabe até apresentar para as crianças dessa nova geração a diversidade na constituição de famílias.
O que de certa forma já ocorre, embora o gênero ainda não seja discutido, mas sim a origem dos personagem e a improvável união entre um humano e uma vampira – o que ainda pode acontecer entre brancos e negros ou membros de religiões diferentes, por exemplo. Aqui, vemos imediatamente o casamento entre Mavis e Jonathan e logo o roteiro de Adam Sandler já salta para o que interessa para o filme, que é a gravidez da vampira, então acompanhamos os anos seguintes de expectativa para saber se o bebê será humano ou vampiro até o ano derradeiro em que aparecem suas presas ou acabam as esperanças do avô materno de ter um neto como ele.
Nesse debate, o filme é competente como poucos. Ainda que o roteiro tropece em gags o tempo inteiro forçando o riso do público (especialmente o infantil), engata a segunda marcha na história lá pra metade do segundo ato, mas consegue recuperar o fôlego e terminar bem. Convehamos: as piadas são cansativas e não dá pra esperar mais do que isso de Adam Sandler. O que não atrapalha o todo.
Assim, é possível substituir a preocupação de Drácula acerca do “excesso” de humanidade do neto pela preocupação de uma família conservadora e preconceituosa que, durante a gravidez de uma mulher que se casou com um homem de outra raça, fique torcendo para que o bebê nasça com a pele mais clara ou mais escura, com o cabelo mais ou menos liso, com os olhos mais ou menos puxados.
Ou então, durante a fase infantil, famílias de religiões diferentes torcendo para que a criança apresente inclinações para uma ou outra religião. Ou ainda o avô que força um menino a jogar futebol porque há uma tradição tola na família de formar bons jogadores, ignorando completamente a liberdade de escolha de um novo indivíduo.
Esses temas são tratados de forma aberta e sem a menor sutileza por Sandler, desenvolvendo muito bem os personagens principais e suas posições sobre a diversidade. Sempre que monstros e humanos se encontram, vemos que a maioria entende que separação dos dois grupos é algo já superado pelo meio social, que somente os mais conservadores entendem que deve haver uma segregação.
Habilidoso nesse desenvolvimento de personagem, Sandler constitui um Drácula com razões especiais para se afastar dos humanos: sua esposa foi assassinada por caçadores de vampiros, algo que remete a grupos de extermínios contra minorias (como aquela que vimos nascer em Copacabana dias atrás). No entanto, é um personagem que fica ali no limite do conservador e do progressista, lutando para manter o mundo novo das tradições velhas, muito bem representadas pelo seu pai Vlad.
O que me traz ao subtema mais interessante da trama. O preconceito velado é amplamente desenvolvido pelo roteiro de Sandler, que, mais uma vez, explora aquela coisa do avô branco preconceituoso que tenta evitar o máximo que puder mostrar o neto nascido moreno ao restante da família por acreditar que será julgado moralmente por ter permitido a filha se casar com um negro. Isso é brilhantemente representado por um baile de máscaras (onde estão as melhores piadas, em especial uma que envolve o Drácula de Gary Oldman – entendida somente pelos mais velhos). As máscaras são, nessa farsa, o elemento perfeito para estabelecer uma metáfora ao preconceito.
O design de produção é muito competente ao dar os contrates nesses dois mundos, o dos monstros com um ar mais sombrio e com cores chapadas e outro mais colorido, que serão misturados gradualmente acompanhando a evolução do arco que nos interessa: o do pequeno e adorável Dennis que, este sim, arranca risos fáceis do público de qualquer idade.
A ótima direção de Genndy Tartakovsky compensa os tropeços do roteiro. O diretor encontra a fluidez para escapar do turbilhão de piadas com bons planos e uma montagem divertida que antecipa a reação dos personagens durante as férias forçadas dos pais, que deixam o único filho com ninguém menos que o Drácula. Aqui, vou ficar na torcida para que o jovem Dennis cresça e escolha um par amoroso que teste as verdades absoluta dos pais, assim como eles fizeram. Quem sabe no três não vem um debate sobre sexualidade?
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