Aquele prêmio Framboesa de Ouro dedicado aos piores filmes do ano poderia passar a ser chamado Prêmio As Tartarugas Ninja. Não fico nada feliz ao escrever isso, mas infelizmente mais uma produção com o dedo de Michael Bay usa personagens carismáticos e com um sucesso prévio em outras mídias para gerar e girar dinheiro, já que certamente será investido em mais bombas, em continuações de Transformers e, claro, das quatro tartarugas adolescentes mutantes ninjas.
Escrito por três profissionais já suficientemente experientes para evitar a tragédia que foi esse roteiro, o filme não sai do lugar e não trás nada de novo no delicioso universo concebido por Peter Laird e Kevin Eastman. Na verdade, piora. Incapazes de criar cenas originais, os roteiristas apelam pra plágios de Batman Begins (na sequência da doca), Homem de Ferro (na primeira sequência de Sacks) além de Vingadores e Homem-Aranha na sequência final. Mais do que isso: subestimam completamente a inteligência do espectador ao incluir uma chuva repentina e ao criar sequências de ação em uma montanha nevada próxima à Nova York, mesmo que o clima pareça ser primavera ou verão, dado que vemos pessoas fazendo exercícios físicos em espaços abertos logo no início do filme. Não desenvolvem nenhum personagem e os deixam aborrecidos.
A desculpa que encontram para justificar as artes marciais de Mestre Splinter é ridícula. Quanto ao respeito dos roteiristas para desenvolver as tartarugas título, diria que é zero. Michelangelo, por exemplo, é um personagem sem graça, tolo e incoerente. E é o melhor personagem do filme. Na tentativa de amarrar todos em um lugar comum, o que inclui os vilões (sim, há mais de um…), os roteiristas alteram a história, transformam as tartarugas em animais de laboratório e assim fazem com que elas sejam um alvo vulnerável, e não os guardiões contra uma ameaça real do Destruidor. O vilão principal, por sua vez, é um Megatron com dois canivetes suíços gigantes nas mãos que tem a mais rasteira desculpa possível para conquistar o poder absoluto. Mas ok, Megatron que me desculpe, compará-lo a Destruidor é uma ofensa de tão unidimensional que é o personagem.
O roteiro é horrível e a direção de Jonathan Liebesman segue a mesma linha. Incapaz de posicionar a câmera de modo a contribuir com a narrativa, o diretor a mantém em constante movimento, incluí planos inclinados medonhos nas sequências de ação e usa qualquer luz disponível (até o flash de celular) para jogar flares por todo lado. Em alguns momentos, fica a impressão de que Bay está com chicote estalando nas costas de Liebesman para que ele piore cada coisa que está fazendo.
O único aspecto positivo que consegui encontrar no longa foi o figurino das tartarugas. Os panos rasgados como máscaras, os cintos de segurança descartados usados para segurar as armas, óculos quebrados e outras coisas encontradas no lixo formam um visual coeso para criaturas que sempre viveram no esgoto. Infelizmente, até isso vai contra, já que o filme não explica como conseguiram as armas legítimas de ninjas e todos aqueles computadores usados por Donatello – que parece ter um controle quase absoluto da cidade.
A montagem do filme contribui para uma sequência de erros bizarros que vão desde o cabelo de Megan Fox que não molha na chuva até uma sequência em vemos Raphael colocar as armas de todos no casco pra imediatamente aparecer sem nenhuma delas que voltam para o casco no momento conveniente. E, claro, cortes, cortes, cortes, cortes, cortes e cortes ao pior estilo Michael Bay.
Direção de arte de Miguel López-Castillo (O Espetacular Homem-Aranha, Guerra dos Mundos) e fotografia do excelente brasileiro Lula Carvalho (Robocop, Tropa de Elite, Cidade de Deus) batem cabeça e se concentram em sugar de outros filmes de heróis como citei acima. E quando precisam de originalidade, falham miseravelmente ao criar uma mansão de Sacks que pode ser invadida com uma van a cem quilômetros por hora e ao jogar Destruidor e Splinter em uma espécie de octógono para uma luta estúpida e sem o menor sentido.
Pra ter a certeza de que vai mandar o espectador pra fora com as mesmas dores de cabeça causadas por Transformes 4, o desenho de som contribui para afundar de vez com a produção. Acreditem ou não, a voz de Destruidor remete a um Decepticon e ainda ouvimos os mesmos sons dos robôs de Transformers enquanto vemos um capotamento jogado em nossa direção.
Filme descartável e caça-níquel. Mais uma péssima escolha de Megan Fox que consegue arruinar com April O’Neil, parte por sua limitação como atriz, parte pelo roteiro rasteiro que tenta transformá-la de jornalista frustrada a heroína da forma mais patética poderiam conseguir.
Só não é pior porque encerra com uma hora e quarenta minutos. Ainda assim, consegue superar seu primo rico Transformers 4, que precisou de uma hora a mais de filme para ser tão ruim.
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