GoT Hardhome 1D&D acenaram para GRRM do futuro e entraram de vez em uma narrativa com coisas que, de uma vez por todas, dividirão os leitores. Se não morreram com o episódio Hardhome, talvez sobrevivam com qualquer coisa que aconteça daqui pra frente. E se morreram, bom… daqui a pouco ganham olhos azuis e saem por aí comendo gente.

D&D acertaram nesse roteiro muitas coisas da narrativa já bastante adaptada que passou por péssimos momentos desde que foi afastada no material original. O que, como aponto com frequência em meus textos, não é nenhum problema. O problema é que estava (e ainda está em Dorne, por exemplo) mal feita.

Reclamei da quantidade de reviravoltas presentes no episódio anterior, mas confesso que agora faz um certo sentido, afinal, como também apontei no texto sobre The Gift, acabamos de passar pelos episódios que giram Game of Thrones na direção do clímax. Assim, os eventos narrados no vilarejo que deu nome ao oitavo episódio finalmente mostram algo gigantesco acontecendo. Já volto aqui.

Miguel Sapochnik se despede da série com um bom saldo depois de uma direção mais segura (até começar a batalha em Hardhome) do que no episódio anterior. O diretor fez um ótimo trabalho na direção nos núcleos que esse episódio tratou se separarmos os arcos narrativos de Dany e Tyrion (agora juntos), Sansa e Theon (também juntos), Arya, Cersei, Sam e Jon.

O diretor posiciona a câmera sugerindo o crescimento de Tyrion, que sempre aparece maior que os outros personagens. Aposta, ainda, em uma mise-en-scène que mostra o anão subir os degraus, alegorias claras de que seu personagem volta a crescer na série. Finalmente, aliás. Estava esperando pela estreia do fenomenal Peter Dinklage na série e lá estava ele como o conhecemos. Pena que terá só mais dois episódios.

De qualquer forma, senti mais um passo em direção à teoria crescente de que ele e Dany são irmãos. Cheio de diálogos que serviram para lembrar o espectador do histórico de Daenerys, o roteiro tratou de colocar um papo sobre a paternidade dos dois que, pra mim, não está ali à toa. Mas é apenas uma teoria, e não um spoiler. E eu gostaria muito de ver isso acontecer.
GoT Hardhome 2

Se cresceu Tyrion com sua cÂmera, o diretor consegue ainda o efeito inverso ao capturar Cersei acuada diante de uma religiosa filmada de baixo pra cima, evidenciando o poder sobre a rainha. Mais do que diminuir Cersei, inicia uma humilhação jamais imaginada por qualquer espectador quando a faz lamber o chão. Grande atuação de Lena Headey, limitada a lapidar cada sílada do seu texto e a movimentar somente os olhos, em seu melhor momento durante a temporada.

Já entre as meninas Stark, D&D deram uma excelente justificativa para o encontro entre Theon e Sansa, dando motivos para que Sansa volte a crescer na série depois do estupro que aparentemente arruinaria com todo a construção da personagem que indicava vingança. O mesmo vale para Arya.

Note como as duas construções foram paralelas nesse episódio. Ambas foram direcionadas para uma transformação (agora) completa. Os planos mais importantes nesses núcleos mostraram as reações das atrizes ao final de suas respectivas cenas: Sansa, cheia de esperança, ao saber que os irmãos mais jovens não foram mortos por Theon e Arya, cheia de alegria, ao receber uma permissão para matar. Aliás… ninguém vai reclamar disso? Sério?

GoT Hardhome 3

Entre os Corvos, o núcleo de Sam serviu apenas para crescer a importância de Olly e certamente esse garoto será o antagonista de Jon Snow.

E por falar nele… ok. Vamos voltar nesse assunto. Tenho que admitir a importância da virada que tudo aquilo em Hardhome representa pra série, mas sejamos honestos: aquela batalha só foi boa porque o resto da série estava capengando com muito mais baixos do que altos.

Em primeiro lugar, uma coincidência enorme que o vilarejo fosse atacado no mesmo dia em que Jon estava ali. Sim, havia a possibilidade, mas… custava fazer Jon dormir alguns dias ali? Todo aquele convencimento durou… minutos? Construção preguiçosa do evento mais importante da temporada. É sim uma lastimável coincidência, dessas que quebra o roteiro no meio.

Por segundo, o ataque dos mortos-vivos soou como um vídeo game. Houve até uma sequência onde o diretor manteve a câmera no trilho na mão, movimentando-a à esquerda junto com Jon Snow desferindo golpes que me imaginei pressionando botões do controle. Agora o X… agora o “quadrado”… chegou no gigante… desvia dele…

Mas sim, confesso a importância do conceito que representa utilizar os inimigos mortos para recompor o exército perdido. É de longe o maior perigo que Westeros jamais enfrentou. É algo além da política suja que enriquece a série e ainda equilibra Gelo e Fogo, afinal, sonhamos em ver aquilo contra os dragões de Dany.

Posso até ignorar a bobagem de incluir um plano com “Quatro Cavaleiros do Apocalipse” se vir que o interesse do Rei da Noite por Jon, enfatizado em TRÊS planos, for algo como: “Quero aquele garoto do meu lado”.

Ah! Conte aí nos dedos quais personagens carregam espadas de aço valyriano. 😉

GoT 5×09 Promo “The Dance of Dragons

Author

Escritor e Crítico Cinematográfico, membro da Associação Paulista de Críticos de Arte e da Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos.

11 Comments

  1. Italo Gomes

    Creio que não foi uma coincidência e sim um ataque planejado dos White Walkers, pois viram que os selvagens estavam indo embora dali e apressaram a chegada do inverno.

  2. Olá, Ítalo. Obrigado pela mensagem. Isso implicaria um cerco prévio, pois ainda que sejam criaturas mágicas, não vejo como poderiam acelerar um ataque, até porque não havia como saberem da decisão deles ali naquela reunião. Como eu disse, bastava no roteiro uma ou duas noites pra garantir isso. Grande abraço, JRB

  3. Crítica por demais exigente. A cena da batalha de Hardhome foi boa, não pareceu videogame de maneira alguma. Tudo o que li aqui é a crítica de um fã pretendendo ser mais do que os roteiristas da série. Fraco. Nem sie como vim parar aqui…

  4. Eu não disse que não gostei. Há um abismo entre “gostei” e “é bom”. Foi uma batalha confusa e precisa ser dito. Elogio os roteiros de D&D há quatro anos. Desculpe se você veio parar aqui acidentalmente em uma crítica onde endureço o tom. Agradeço sua participação e lamento que não tenha entendido o texto. Até logo.

  5. O Rei da Noite deixou claro que ele tem poder além do que imaginávamos na cena final do episódio. Pra mim eles ficaram observando os selvagens desde muito tempo, talvez tramando um ataque no futuro, mas quando os White Walkers viram os Selvagens indo embora, apressaram o ataque.

  6. Dá sim pra sustentar essa tese, Ivine. Ainda acho pouco provável, pois depende demais da nossa interpretação. Se algo tivesse sido plantado em algum episódio anterior, faria mais sentido.

    Ocorre que não é a primeira coincidência dessa temporada. O encontro de Brienne e Sansa foi outra, por exemplo. Assim como o encontro de Jorah e Tyrion. Esse é o risco que correm ao fugir do material original. Note que são três sequências que não acontecem nos livros (repito, não sou contra nenhuma delas) que poderiam ser melhor lapidadas.

    Obrigado pela mensagem!

  7. Mas nada garante que a reunião tenha durado minutos. Podem ter passado horas, e não há necessidade de desenvolver tanto a cena. Eu não senti a necessidade.

  8. Pensei a mesma coisa quando vi o episódio…
    Ficou a impressão de que os diretores queriam acelerar o desenvolvimento da história…
    Pensei que talvez se Jon e os selvagens que se aliassem tivessem que fazer uma caminhada até um lugar seguro para tomarem os barcos e fossem emboscados no caminho pelo caminhantes ficasse mais interessantes…
    Também achei estranho que um grupo grande de guerreiros selvagens com Gigantes, Cornopés e Thenns serem surpreendidos dessa maneira…

  9. João Henrique

    Achei sensacional o episódio, um dos melhores da série e aqui foi o único lugar que li alguém criticando!

  10. “Mas nada garante” é justamente o problema que apontei. O roteiro não deveria depender tanto da compreensão do espectador. Seria facilmente resolvido.