Dia desses vi uma pergunta, que me pareceu sem muito sentido, nas redes sociais (Onde queremos estar na Copa do Mundo?), mas que me atiçou a produzir alguma resposta.

Onde queremos estar (ou quisemos, visto que a copa já terminou) é longe dessa desgraça que se tornou a Copa do Mundo de Futebol da FIFA.

Explico já.

Não apenas no Brasil, mas principalmente em países como o nosso, que vivem em sua sócio-política a realidade do populismo e do super-corporativismo como elementos norteadores absolutos de seus planos, programas e políticas públicas, tais eventos ganham força quase “metafísica” e substituem, no ideário popular, a satisfação de um estado de bem estar social e de uma plena inserção sociocultural, com garantia de plenos direitos democráticos e real desenvolvimento socioeconômico.

A FIFA, entidade privada presidida por Joseph Blatter foi, coincidentemente, neste ano de 2014, em janeiro, indicada ao título de “pior empresa do mundo” no Fórum Econômico Mundial em Davos na Suíça, pela Public Eye Awards, premio que é conhecido como o “Nobel da vergonha corporativa mundial”. A indicação ganhou força após a Copa das Confederações devido às acusações de que a FIFA incentiva a violação de direitos e o mau uso do dinheiro público nos países que recebem seus megaeventos, com favorecimento de empresas parceiras e anuência de governos locais corruptos, oportunistas e corporativistas.

No caso do Brasil e da Copa do Mundo de 2014, a “toda poderosa FIFA” entra em nosso país desconsiderando a soberania nacional e usando do subterfúgio das negociatas e de seu poder econômico para forçar alterações na nossa legislação (permissão da venda de bebidas alcoólicas nos estádios e outras), registrar propriedade intelectual de elementos de nossa cultura (até dezembro, a FIFA é detentora de termos de nosso ideário popular como, pasmem, “pagode”, entre outros.), conseguir, sabe-se lá por que meios (acho que na verdade, sabemos), isenção absoluta de impostos e taxas sobre o lucro recorde histórico de 15 bilhões de Reais e sobre todas as movimentações de materiais, produtos e serviços destinados à viabilização da Copa do Mundo de Futebol (Lei n.º 12.350, de 20 de dezembro de 2010 – não deixem de lê-la. É no mínimo, esclarecedora) sobre um investimento pífio nas infraestruturas de seu próprio evento, além de ter influenciado a desapropriação de mais de 250 mil pessoas para que o nefasto “padrão FIFA” seja implementado.

Isso sem contar os absurdos preços dos ingressos para os jogos que segmentam socioeconomicamente o público dos jogos. É ridículo, quase indecente, ver a diferença das caras do público dos campeonatos locais com suas bocas desdentadas e pele judiada pela lida do dia-a-dia e do público do mundial com suas bocas escancaradas com dentuças bem cuidadas, retificadas, esculpidas e branqueadas.

Isso tudo sem falar da escancarada tendência pasteurizante do padrão cultural, que ao invés de caracterizar o evento, que carrega o nome do país onde será realizado, com artistas e elementos culturais deste, enfia goela abaixo do público, enlatados internacionais insossos e medíocres. Tais eventos são maravilhosas oportunidades de globalizar a cultura local do país sede. Mas o padrão FIFA, ao invés de destacar festividades e artistas locais enfia goela abaixo figuras de terceiro escalão do showbusiness como é o caso do tal do Pit-bobo, uma brochada e brochante Jennifer Lopez e uma abobada Claudia Leite cantando uma musiquinha mequetrefe sem nenhuma novidade ou algo a ver com a cultura brasileira, em meio a uma coreografia descoreografada de muito mau-gosto e pouca criatividade, com brócolis sassaricando perdidos em meio ao gramado cheio de espaços vazios e aos equipamentos defeituosos do show de abertura.

Qualquer escola de samba brasileira, Olodum, Ileaiê ou uma seleção delas faria uma festa de abertura muito mais empolgante e brasileira do que os medíocres que se meteram a nos produzir, no máximo, uma sensação de vergonha alheia.

Olhemos agora para a seleção e seu dito vexame. Não acho que tenha acontecido nenhum vexame em termos futebolísticos. Esporte é assim: quem se prepara a sério com treinamentos físico, tático, técnico, individual e em grupo, aproximando-se da ciência e da tecnologia, ganhará a peleja. O Brasil tem Federações e Confederações que são compadreados de corruptos interesseiros, times que são ridículos amontoados de capiaus milionários (psicologicamente frágeis) correndo de salto alto atrás de bolinhas e jogos que são APENAS vitrines para lucros milionários.

Ora… Se o Brasil faz isso, ao invés de praticar a modalidade esportiva futebol, é óbvio que ele perderia a competição. E, a continuar como está (difícil que venha a mudar) acho demasiado improvável que venhamos a conquistar mais algum desses títulos internacionais.

Destaque deve ser dado para a cretina proposta dos nossos geniais políticos brasileiros: intervenção estatal no futebol brasileiro. (….!!!!!!?!?!) Só pode ser piada…E uma piada do mais chulo e rasteiro mau gosto.

Enquanto o cidadão brasileiro amarga um país onde os índices de violência são maiores do que os de muitas guerras ao redor do mundo, os níveis educacionais são os piores do mundo globalizado nos aproximando de países como Gana e Etiópia, onde o investimento em tecnologia e pesquisa expulsa pesquisadores do meio científico, onde o saneamento básico nos obriga a conviver com excrementos a céu aberto diariamente e onde recolhemos aos cofres públicos uma das maiores cargas tributárias do mundo, tal proposta só pode ser “pegadinha do Malandro”.

Isso é um tapa na cara do povo brasileiro que parece que gosta é disso mesmo, afinal de contas continuamos a eleger para os cargos representativos de nosso país os mesmos parasitas inúteis de sempre. E creio que nestas próximas eleições não será diferente, vide as pesquisas de intenção de voto para presidente. Reforçando… Eu quero estar, e estive, foi longe, muito longe dessa copa do mundo e de ter minha inteligência e cidadania ofendidas por esses parasitas canalhas e idiotas (no sentido literal da palavra) que sugam nosso sangue enquanto abanamos ridículas bandeirinhas como sinos festivos de vacas a caminho do abatedouro.

Author

Rogério Portela é nascido em São Paulo, casado,pai babão, geógrafo, professor, cinéfilo, músico guitarrista amador, judoca, ex-escoteiro, ex-colecionador de quadrinhos, fã de música (boa) principalmente rock n' roll, leitor contumaz de filosofia, sociologia e temas que botem em cheque nossas certezas ou a falta delas.

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