Desde que surgiram as redes sociais sabemos que com apenas um click, a vida de qualquer pessoa pode virar um linchamento coletivo. Mas existem casos em que depois do linchamento virtual, as pessoas movidas pela raiva e seus sensos de justiça, caso encontre o suposto culpado, as agressões físicas virão a tona. Em 2014 uma página no Facebook postou o retrato falado de uma mulher que supostamente seria uma sequestradoras de crianças para a prática de rituais de magia negra. Fabiana Maria de Jesus, foi espancada até a morte por uma multidão de pessoas sem conhecimento algum sobre o caso e totalmente desprovidas da verdade. Fabiana morreu, mas era inocente.

E em 1994, a “Escola Base” em São Paulo, fechou as portas e os proprietários tiveram suas vidas alteradas após uma revolta popular causada por denúncias de que os mesmos teriam abusado sexualmente de crianças que estudavam no lugar. As informações e afirmações, jogadas a todo o momento pela imprensa, eram falsas e até hoje o caso é abordado em algumas instituições.

O longa metragem Aos Teus Olhos de Carolina Jabor, é baseado na peça “O Princípio de Arquimedes”, e aborda o tema linchamento virtual com o caso do professor Rubens (Daniel de Oliveira), que da aula de natação para pré-adolescentes em um clube, e é acusado de ter beijado um de seus alunos. Alegando inocência, Rubens é acusado pelos pais da criança e passa a ter que lidar com um verdadeiro linchamento coletivo, que tem início através de mensagens de WhatsApp e logo chega ao Facebook.

As reflexões que o filme oferece aparecem desde o início. Uma câmera inquieta, um trabalho de som digno de prémio,  trilha sonora nervosa, angustiante e vai ganhando forças na medida em que o filme avança, trazendo cada vez mais o espectador para dentro da trama, plantando a dúvida se Rubens é ou não culpado e o desconforto de uma possível injustiça.

O roteiro bem amarrado de Lucas Paraízo é certeiro em apresentar Rubens de uma maneira em que causa um certo distanciamento do público por conta da sua maneira de falar e se comportar. Com isso o público já vai começando a formar opiniões sobre ele, e é nesse momento que você entra com os dois pés na trama. Esse pré-julgamento iniciado sobre Rubens, aumenta quando Davi (Marcos Ricca), pai do aluno Alex (Luiz Felipe Melo) acusa o professor de ter beijado o filho. Mas é a diretora Ana (Malu Galli), a mente aberta da trama que conduz o espectador a pensar e ver a dor dos pais, e a refletir sobre uma acusação sem provas contra o professor.

Carolina Jabor não aborda o tema para apontar o culpado, ela te conduz pela história e faz você pensar e entender a gravidade de um pré-julgamento, a força que tem uma raiva coletiva, a falta de conhecimento que as pessoas tem na internet, e claro, a verdade que elas não possuem.

Um dos filmes mais fortes e viscerais já visto sobre um tema tão atual, necessário e de extrema importância para esse caos que a nossa sociedade vive nos dias de hoje. Esse filme deveria estar na internet, na TV aberta, nas praças… a massa inteira tem que ver e refletir.

Vale a pipoca, o ingresso, o ar condicionado…vale a reflexão!

Author

Cineasta formada pela Academia Internacional de Cinema. Produtora audiovisual, dirigiu o curta metragem "4:23" em 2016 e "Dissonantes" em 2017.

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