Eu era sua SPOILER

(Shae)

Peter Dinklage é um anão maior do que o Titan de Braavos, maior do que Drogon-caçador-de-cabras. Tyrion não precisa desejar ser um monstro, por trás dele está um ator incrivelmente talentoso capaz de carregar nos olhos qualquer sentimento que seu personagem precise. E Dinklage oscila da confiança ao medo e da ironia ao ódio com tanta força que é impossível não torcer por Tyrion, não temer pelo seu destino em uma série que já levou Ned, Robb, Catelyn e tantos outros queridos personagens de forma súbita sem que o espectador pudesse antecipar suas mortes.

10341852_10152469909142244_763163039736849682_nCom mais um excelente roteiro nas mãos, The Laws of Gods and Men escrito por Bryan Cogman, Alik Sakharov (que já dirigiu episódios da série em outras temporadas, bem como alguns em Roma e Sopranos) consegue construir a tensão do julgamento do Tyrion começando com planos abertos e fechando cada vez mais a câmera em closes muito próximos para capturar com detalhes as expressões dos principais personagens envolvidos, sobretudo da família Lannister. Sabendo que o público já sabia que o assassinato de Joffrey fora arquitetado por Petyr Baelish e Olenna Tyrell, e por isso aqui a narrativa era absolutamente irrestrita (nós sabemos mais do que os personagens em cena), Alik, inteligente, vez ou outra posiciona a câmera em Margaery para nos mostrar seu incômodo com toda a farsa do julgamento, pois ela, assim como nós, sabíamos a verdade.game-of-thrones-the-laws-of-gods-and-men-5

And who are you, the proud lord said, that I must bow so low? Tyrion Lannister, only a cat of a different coat, the only truth I know.

Como todo julgamento parece ser quando há uma comoção popular, o acusado geralmente vai juri já condenado. Isso porque há entre pessoas comuns a necessidade de encontrar um culpado e a culpa sempre recai em primeiro lugar sobre aqueles que representam qualquer divisão social passível de preconceito. E é o caso de Tyrion, um anão com status social acima de muitos, sem contar sua inteligência bem acima da média daqueles com quem divide sua nobreza.

In a coat of gold or a coat of red, a lion still has claws, and mine are long and sharp, my lord, as long and sharp as yours. Novamente Dinklage entrega uma magnífica interpretação e pela primeira vez vemos uma atuação de ódio e explosiva (antecipada no diálogo por Jaime). Não bastasse o posicionamento de câmera mostrando o crescimento de Tyrion nos minutos finais do episódio, a trilha sonora contribuiu com algumas notas de The Rains of Castamere ao estabelecer o confronto do anão com Tywin, que viu seus planos iniciais em risco quando o acusado pediu o julgamento por combate (como já o fizera no Vale lá na primeira temporada).

tyrion

A sequência do julgamento teve um peso tão forte que ao olhar minhas anotações que faço enquanto assisto ao episódio, notei que tinha coisas em outros núcleos das quais tinha esquecido tão pouco tempo depois. E que sim, foram importantes para avançar outros núcleos, mas que foram enfraquecidas pelo que vimos em Porto Real. Não por acaso, Cogman ganhou tempo ao trazer de volta Yara Greyjoy com uma narração em off sobre suas motivações de resgatar Theon sobre uma cena de sexo com Ramsay Snow/Bolton. Se a cena é eficiente ao mostrar a urgência de Yara sobre a tranquilidade de Ramsay, infelizmente o desfecho soa inverossímil, pois não faz muito sentido ter deixado a mulher escapar pelo simples prazer de permitir que seus cães a caçassem, sabendo que ela poderia voltar mais tarde com um exército ainda maior do que um grupo de assalto. Apesar disso, entender que Ramsay é cruel mesmo quando concede um pequeno prazer a Reek (quando ele mandar tirar as calças) mostra como a construção deste vilão foi bem feita. É daqueles que incomodam quando estão em cena e quando não estão, pois tememos pelo que podem fazer em seguida.

Em Meereen, Daenerys deve ficar em fogo baixo sob demanda de uma aculturação falha. É interessante perceber como há uma sutil rima temática nas sequências de Dany e Tyrion, visto que de um lado o anão é vítima de um julgamento armado, do outro a rainha deve julgar todas os pedidos de seu novo povo. E imediatamente percebe que não apenas seus filhos dragões podem trazer estrago ao reino justo que deseja construir, mas também suas próprias decisões podem ser equivocadas, como condenar um inocente pelo simples fato de ser um membro de mestres das cidade.

Com o cuidado de mostrar Stannis fora das sombras pela primeira vez em muito tempo (o que em termos de linguagem significa muita coisa), Sakharov apresenta Braavos e novos personagens em uma nova reviravolta na história. Em análises anteriores, citei o cuidado ao mostrar um Stannis falido em contraste com as extravagâncias do casamento de Joffrey e que agora consegue o apoio financeiro de um banco em Essos. Mark Gatiss finalmente faz a sua estreia como o banqueiro Tycho Nestoris, mostrando uma civilidade muito maior do que qualquer outra família que vemos em Westeros. A interpretação de Gatiss deixa bem clara a relevância da selvageria pelo Trono de Ferro e a decisão de apoiar os dois lados do conflito mostra como, em geral, guerras são interessantes para qualquer sistema financeiro. E o que isso tudo pode significar?

And so he spoke, and so he spoke… that lord of castamere… but now the rains weep o’er his hall… with no one there to hear… yes now the rains weep o’er his hall… And not a soul to hear…

 

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* O texto é de autoria de José Rodrigo Baldin e pode ser encontrado em seu blog pessoal – http://jrodbaldin.wordpress.com/2014/05/12/game-of-thrones-s04e06/*

 

Veja as análises, dos episódios anteriores, nos links abaixo:

  1. Análise de Game of Thrones S04E05: First of His Name
  2. Análise de Game of Thrones S04E04: Oathkeeper
  3. Análise de Game of Thrones S04E03: Breaker of Chains
  4. Análise de Game of Thrones S04E02: The lion and the rose
  5. O retorno de “Game of Thrones”: Two swords

 

 

Author

Escritor e Crítico Cinematográfico, membro da Associação Paulista de Críticos de Arte e da Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos.