Traga meu SPOILER, tio!
(Joffrey Baratheon)
A violência gratuita em Game of Thrones é mais do que um tema recorrente na série. É, em muitos casos, um estilo de vida seguido por personagens de diversas culturas e que talvez nunca se encontrem na história, como nos indica a banalidade ao caçar uma jovem para dá-la aos cães ou mesmo queimar parentes em nome de um Deus único. Essa abordagem é mais do que apropriada nos dias hoje, já que, mesmo distante de Westeros, vemos isso em várias partes do nosso mundo real com motivos semelhantes e igualmente injustificáveis. Particularmente torço para que não vejamos em Westeros pessoas amarradas em postes ou, pior, uma enorme massa aplaudir esse tipo de atitude. Aí seria o fim dos Sete Reinos.
Ironias postas de lado, o segundo episódio The Lion and the Rose, diria que tão aguardado pelos fãs quanto o Casamento Vermelho, foi escrito pelo criador da saga literária, George R.R. Martin, e dirigido por Alex Graves de forma concisa e segura demais – o que é uma pena. Sem o mesmo brilho do episódio anterior, principalmente na montagem (o raccord de Theon para Tyrion comendo uma linguiça foi desnecessário), este segundo episódio é carregado pelo peso dramático do desfecho do casamento real e só. E que, ok, é muito.
O Casamento Roxo, clímax da noite e como será conhecido daqui em diante, permite algumas análises técnicas do episódio e, principalmente, uma visão crítica sobre a violência como tratei no primeiro parágrafo. Acredito até que seja natural a empatia pela família Stark (e mesmo por Daenerys) em contraste com o ódio que o espectador constrói desde o episódio piloto por personagens como Jaime, Cersei e Tywin. Ocorre que ao longo de três temporadas já vimos monólogos de Jaime e Cersei onde os personagens buscam justificativas para as respectivas atitudes – ainda que não nos convençam completamente, não vejo como julgar Jaime por matar um Rei prestes a queimar uma cidade inteira, ou mesmo Cersei, uma mulher objeto obrigada a casar com um homem que não ama e que ainda se torna um alcoólatra promíscuo e violento (seja dito: o primeiro motivo é mais do que suficiente pra transformar Cersei em qualquer monstro que imaginemos).
A crítica à violência reside no fato de que somos atraídos a gostar e concordar com a frieza da pequena Arya, pois a conhecemos antes de se tornar uma assassina vingativa ao passo que ignoramos as medidas de Jaime ao matar o Rei para evitar a morte de inocentes e a estratégia de Tywin ao eliminar Robb e quase toda sua cúpula militar para terminar uma guerra inteira. E sim, a morte de Joffrey em seu próprio casamento (naturalmente uma rima temática do Casamento Vermelho) é mais um exemplo de como somos atraídos pela violência de alguma forma.
Em um raro momento de Graves, ele acertou ao construir planos que abrem várias possibilidades para um novo regicida (Tyrion e Sansa tocam a taça envenenada e em seguida ela é vista próxima à Olenna Tyrell – que momentos antes “ajustou uma jóia na menina Stark”) e também ao colocar Joffrey em planos fechados para mostrar a evolução do envenenamento do jovem rei alternando com a reação do público e, sobretudo, de Cersei. Como um amigo diz, mas em outras palavras, “Sempre que na série toca As Chuvas de Castamere, alguma coisa ruim acontece”.
Do ponto de vista narrativo, o roteiro de Martin aproveitou o casamento para mostrar a diferença entre Pedra do Dragão e Porto Real de forma inteligente. Enquanto Stannis sempre coberto por sombras (por vezes causadas pelo fogo do Deus que agora segue) e em ambientes com paredes de pedra sem cores, portas pesadas e figurino escuro surge comendo carne podre, a nova rainha diz, em uma Porto Real alegre e colorida, que o povo da capital será alimentado com o que sobrar do banquete. Uma comparação visual e narrativa necessária para estabelecer a falta de equilíbrio entre os reinos beligerantes.
Martin ainda mostra uma grande preocupação com o rumo de alguns personagens que sofreram consideráveis mudanças e dedica uma boa parte do roteiro exclusivamente para posicioná-los na temporada. É o caso de Theon (agora Fedor), cada vez mais entregue aos comandos de Ramsay, de Jaime que agora deve aprender a arte da espada para resgatar sobretudo sua alma de guerreiro da Guarda Real, e de Bran, cada vez mais próximo de conhecer a amplitude dos seus sonhos verdes (e como foi bom ver Ned de volta pela mente do filho!).
Ainda créditos a GRRM, o episódio ganhou muita força nos diálogos e aqui destaco mais uma importante participação de Oberyn Martell, que mais uma vez mostrou intenções nada amistosas e trouxe de volta à história Myrcella Baratheon, única filha de Cersei, que vive em Dorne sob proteção da família do Víbora Vermelha.
Não foi um episódio ruim, mas esperava mais tensão no desfecho. Acredito que isso foi devido à exposição extrema da violência nas primeiras sequências em contraste com o casamento e também pela condução dos atores em um modo automático sem grandes interpretações, exceto, como de praxe, Peter Dinklage.
No próximo episódio, Jon e Dany estão de volta e acredito muito que a temporada já comece a crescer a partir dali. Os dois primeiros capítulos mostraram que todos os núcleos estão em ebulição e nem mesmo um Rei no dia do seu casamento está a salvo. Valar Morghulis.
(uma pequena nota final: espetacular tinir da espada de aço valiriano de Joffrey!)* O texto é de autoria de José Rodrigo Baldin e pode ser encontrado em seu blog pessoal – http://jrodbaldin.wordpress.com/2014/04/14/game-of-thrones-s04e02/ *
5 Comments
"e também pela condução dos atores em um modo automático sem grandes interpretações, exceto, como de praxe, Peter Dinklage."
oi? ¬¬
Que tentativa frustrada de fazer um texto pseudocult…
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