A Vida em si é um filme de drama escrito e dirigido por Dan Fogelman que conquistou o público com a dramática série “This Is Us “sucesso de audiência na TV aberta americana.
A película parece um livro de memórias que estamos folheando, divididos em capítulos e tentando ter uma moral que ao meu ver estraga com a narradora chatíssima, mas que fecha com chave de ouro na interpretação de Laila Costa (a mãe Isabel Diaz). Seu texto final é arrebatador e salva com uma mensagem de superação que chega até a pessoa mais fria e nada sentimental.
Folgeman traz através de cada capítulo doses homeopáticas da palavra coragem como forma de vermos nela força em momentos em que nos vemos no fundo do poço.
O primeiro capítulo retrata o amor. Will (Oscar Issac) e Abby (Olivia Wild) se conhecem na faculdade, se apaixonam, casam e Abby engravida do primeiro filho. Mas o destino traz ao casal muitas reviravoltas, dúvidas, dores e isto reverbera mais adiante em outras histórias. Aqui um único momento, um breve instante pode mudar o destino deste casal e afetar o futuro dos que o rodeiam.
É como se esse afeto parisse um grande trauma a ser resolvido no futuro ou pelo menos acalmado com o tempo. Até porque o filme te esfrega na cara que se você decide não levantar após uma rasteira da vida, você fica no chão e o medo e tristeza te engolem.
Já tinha ouvido comentários de como Dan em sua série de sucesso sabia contar histórias, nos envolver por inúmeras emoções e trazer personagens tão sensíveis, humanos e palpáveis. Estaria Folgeman como diretor através de sua arte engajado a levar uma mensagem sobre a vida para as pessoas? Ou o diretor e roteirista já sabe os artifícios de como comover o público e por isso este sucesso em sua trajetória? Não consigo analisar nada no filme além da direção e roteiro, pois o resto passa batido ou não há grande destaque (mas gosto da escolha e desempenho de Oscar Isaac, Antonio Banderas e Annette Bening)
Em A Vida em Si (Life itself) despertou interesse dos fãs da série e do público por trazer grandes nomes de Hollywood para as telas (Mandy Patinkin, Olivia Cooke e o restante citado) e porque o diretor estaria se arriscando em um drama para o cinema. Logo, a fórmula que o diretor tem de contar histórias dramáticas, interlaçar elas e explorar o mais bonito e triste da vida de seus personagens está também em “A Vida em Si”, mas a impressão que causa que estamos vendo uma série nas telas. Eu poderia tranquilamente assistir um capítulo e ir dormir e no dia seguinte seguir assistindo, além de que nem todos personagens e histórias são tão instigantes e se perde o interesse. Será que a fórmula de sucesso não deu certo nesta tentativa cinematográfica?
Cada ato foca em um personagem, na sua vida, dilemas e dramas. Como todo filme dividido em capítulos nem todos são tão marcantes e o roteiro tem altos e baixos. Tanto que o primeiro capítulo sem dúvida é o melhor e será o fio condutor da história, mas os seguintes pecam em algumas interpretações, uma vida margarina que não acredito e um ar de comercial de Natal.
Um capítulo curto, mas que desejei ver a rebeldia de Dylan (interpretada por Olivia Cooke) sendo mais explorada passa rápido demais e tem um final novelesco e previsível. Quase todos personagens têm potencial, mas há fragilidade no roteiro. Mesmo com este problema consigo ver minhas falhas humanas semelhantes aos dos personagens apresentados e gosto desta sensação de sair me questionando após a sessão.
Fuja se você não curte filmes tristes (há pessoas que apreciam filmes nesta linha), intenso nos dramas e com frases clichês que podem chegar em algumas pessoas num momento que elas estejam precisando ouvir aquelas palavras. Há cenas que apelam e extraem o máximo de emoção e alguns atores tem atuações exageradas e dramáticas.
O texto do filme é bem provocador e temos a nossa frente o pior e o melhor da vida e principalmente lições e visões de como lidar com a perda e como a vida é efêmera. Então se você perdeu algo recentemente este filme pode te levar as lágrimas. Mas como já alertei o filme tem aquele ar de “feito para emocionar” e até o trailer já apela para abrirmos as torneiras dos olhos.
No primeiro capítulo temos a interpretação de Oscar Issac (“Inside Llewyn Davis- Balada de Um Homem Comum”) é estranho, começa com uma linguagem desconexa do restante, mas é aceitável pela confusão dentro da cabeça do personagem central. Will tem uma vida atordoante, cheia de saudades doídas, culpas, como se um fio fosse romper a qualquer momento e cheia de um amor obsessivo e “pra sempre”. Sua relação com Abby é tocante e dolorosa como a canção de Bob Dylan citada no filme. Por sinal a canção “Make You Feel My Love” interpretada por Bob Dylan resume o tom do primeiro capítulo, mas não revelarei o que acontece com ambos, pois seu começo e fim darão vida e seguimento a todas outras histórias. Mas foi através de Oscar Issac que solucei chorando no cinema e senti uma tristeza familiar, além do desempenho ótimo como ator.
O restante do filme o roteiro vai tentando nos convencer e surpreender nos entrelaçamentos. Parece que quando o roteirista já não sabe o que fazer com seu personagem ele o faz desaparecer e depois tenta o reinserir de uma forma que não desce muito.
Difícil não pensar durante a sessão na brevidade da vida, do quanto tudo é passageiro e que podemos estar sendo egocêntricos e materialistas. Me questionei se sabemos o quanto podemos afetar a vida dos outros e se temos controle sobre isso. Se somos impulsivos com nossos atos ou se algumas coisas já estavam escritas no nosso destino (se é que isso existe) e não havia como desviar deste caminho. Tanto no filme como na vida aqui fora parece que tudo está conectado e acaba sendo afetado.
Este filme pode ser um mergulho para dentro para alguns e talvez seja interessante se permitir e avaliar o que estamos fazendo com nossas vidas. Ele tem a provocação de remexer o que está quieto. O que esta obra pode te levar após esta sessão de cinema? Estou ansiosa para saber a sua experiência.
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