Contando com uma trama rasa concebida pela dupla Matt Sazama e Burk Sharpless (do recente O Último Caçador de Bruxas), Deuses do Egito é um filme que não se envergonha dos títulos “superprodução” e “filme pipoca”, pelo o contrário, os abraça de corpo e alma, como fica claro na abordagem do cineasta Alex Proyas (de Eu, Robô e Presságio), que investe sem medo em grandiosas cenas de ação recheadas de efeitos especiais. E como é possível antecipar, Deuses do Egito é satisfatório, pois cumpre seus objetivos comerciais, mas falho em ambição, pois se mostra tão vazio que provavelmente será esquecido assim que as luzes da sala de projeção se acenderem.
A história nos apresenta ao mortal Bek (Brenton Thwaites, de O Doador de Memórias) que para salvar sua amada Zaya, convence o Deus Hórus (Nikolaj Coster-Waldau, o Jaime Lannister de Game of Thrones) a ajudá-lo. Em busca de vingança contra o poderoso Deus Set (Gerard Butler, o Rei Leônidas de 300), Hórus embarca numa jornada repleta de desafios e monstros perigosos ao lado do jovem Bek.
E é basicamente essa a trama principal, que flerta com Fúria de Titãs e Imortais em vários momentos. O que coloca Deuses do Egito à frente dessas outras produções é a abordagem certeira do cineasta Alex Proyas . Não que o filme seja excepcional, longe disso, mas o cineasta australiano de ascendência egípcia consegue imprimir energia às seqüências de batalha, que abusam dos efeitos em CGI. Conhecido pelo apuro visual, Proyas mergulha de cabeça na natureza artificial de seus cenários e aproveita para entregar verdadeiros espetáculos visuais, quase sempre carregados de dourado.
Roubando a cena como o vilão Set, Gerard Butler não tem dificuldade em construir o personagem como uma figura carismática e imponente, assim como Nikolaj Coster-Waldau também se mostra competente nas cenas de ação. O destaque do elenco, porém, fica por conta das participações do veterano Geoffrey Rush (o Barbossa de Piratas do Caribe), como o deus Rá, e de Chadwick Boseman (de James Brown e do futuro Pantera Negra) que diverte com seu afetado Thoth.
Tecnicamente, Deuses do Egito impressiona pela opulência visual, abusando dos efeitos em computação gráfica para criar cenários absurdamente luxuosos. A fotografia de Peter Menzies Jr. (que curiosamente também trabalhou em Fúria de Titãs) também se mostra coerente com a natureza do projeto, investindo quase sempre em cores que oscilam entre o dourado e o amarelo.
Leve, descompromissado, e também facilmente esquecível, Deuses do Egito entrega o que promete, é verdade, mas ainda deve causar dores de cabeça em seus produtores, que deverão explicar a escolha de tantos atores caucasianos para papéis de egípcios. Se tratando de Hollywood, nada muito surpreendente, convenhamos.
1 Comment
Sem palavras para descrever esse ótimo comentário…ta aí, Ótimo! Quando vi o título, muito inteligente, da crítica eu já sabia que viria do grande Guilherme Khandido. E sobre filme, que eu ainda não assiti, já posso me decepcionar um pouco. Pois adoro a mitologia egípcia. Mas a mitologia em si não é o foco, mas simplesmente a temática.