Um Lugar Silencioso é um filme de terror corajoso. É extremamente atrativa a ideia do roteiro, com uma trama Um Lugar Silenciosointeligente (diferente da maioria dos filmes de terror, onde o que mais impera são sustos óbvios que se tornam bobos) e o elenco realmente parece estar imerso naquele pesadelo. Não sei se posso definir como gênero terror, mas esteja atento para muitos sustos, uma experiência sonora única e a sensação de estar preso na cadeira.

O diretor John Krasinski é conhecido por ter dirigido três episódios da série The Office se afirma neste seu segundo filme inovando na direção e roteiro (também com ajuda de Bryan Woods e Scott Beck). O filme tem muitos acertos e principalmente na escolha do elenco, a proposta do silêncio e como os possíveis alienígenas são retratados.

O espectador é lançado numa experiência aflitiva que a família Abbott vivencia. Esta família vive num milharal, num tempo não definido, mas possivelmente num futuro apocalíptico e lutam pela sua sobrevivência. A sua arma para sobreviver é o silêncio. A terra foi invadida por ET cegos que captam barulhos e caso algum som chegue a sua fonte sonora, o alienígena mata com extrema rapidez e crueldade quem emitiu o som.

A família Abbott composta pela mãe (a atriz Emily Blunt), o pai (Krasinski que além de dirigir e roteirizar aqui também atua) e os dois filhos (Noah Jupe e Millicent Simmonds) vivem em estado de tensão constante e devem permanecer em silêncio absoluto. A irmã interpretada brilhantemente por Simmonds é deficiente auditiva e logo todos da família se comunicam por sinais e com uma colocação de voz baixa (o que é muito interessante de presenciar no cinema além de um baita desafio de atuação).

Raros serão os momentos de “paz” da família e a alegria e leveza aparecem em poucos momentos. Os Abbott são cheios de culpa (e você entenderá infelizmente nos primeiros 15 min. de filme), a rejeição que a filha sente (seria real? O motivo seria por não escutar? O motivo seria a necessidade do amor do pai? Ou um ato falho ao entregar um singelo brinquedo), além da “coisa” mais assustadora no filme: a mãe terá um bebê em breve. Você consegue imaginar a agonia que é acompanhar esta gestação com medo dos primeiros sons do nenê ao nascer. Passei metade do filme agoniada com uma única frase na cabeça:  e quando o bebê nascer?

O perigo está em cada som emitido e um simples deslize pode acabar com tudo. A família cria um verdadeiro campo de guerra, onde estudam qual seria o possível ponto fraco dos ETs para que possam futuramente mata -lós. Os pais ensinam os filhos a sobreviverem por conta própria e é crível e dolorosa a atuação dos dois atores que são irmãos.

As imagens iniciais de caos e abandono me lembraram filmes como “Ensaio sobre a cegueira”, onde a mãe tenta achar algum remédio que sobrou jogado numa prateleira de uma farmácia destruída. O milharal e todo aquele sistema de sobrevivência, onde a lâmpada vermelha significa “perigo” lembra o filme “Sinais”.

Como um roteiro pode ser interessante se a maior parte do filme é quase mudo? Essa falta, a ausência da fala e a percepção do som de qualquer coisa toma um significado e uma experiência sensorial única.  É  tão  bonito  escutar o som  do coração  através  de um estetoscópio, a aflição  de escutar  uma água  entrando  no momento  errado, o quão  perigoso pode ser o grito de um velho  que perdeu a esposa e a beleza de uma música  saindo de um fone de ouvido, nos proporcionando  uma  cena de carinho  entre o casal, que fica  mais bonita  a cumplicidade  ao saber que os  atores Emily e John são  um casal na vida real.

O filme tem seus deslizes, momentos piegas de abraços após se salvarem, uma trilha sonora óbvia, que por vezes não ajuda (apesar que funcionam a trilha tema nos momentos de tensão quando os alienígenas surgem), mas mesmo assim não invalida o quanto filme é bom e um ótimo entretenimento para sair do cinema tenso.

Acredito que muitos sairão da sala de cinema angustiados, com a sensação de terem torcido por cada momento de esforço de sobrevivência, John pode fazer uma lágrima rolar dos olhos durante a sessão (além de suspiros por ser tão lindo) e alguns sairão apreensivos da sala. Os mais críticos vão tentar achar buracos no roteiro e se indagar por várias vezes porque o personagem x se salvou milagrosamente de um ataque. Deixo o convite de se deixar levar pelo filme e foque principalmente na entrega e o medo aterrorizante na cena do parto do bebê que Emily Blunt salta o pavor pelos olhos.

Se permita a conhecer o trabalho da jovem atriz Millicent (que até agora só tinha atuado no filme “Sem fôlego “. Esta atriz tem uma beleza excêntrica e uma maturidade na interpretação que acredito que ainda será uma atriz que ouviremos falar mais adiante.

Queria agradecer a equipe que é responsável pelos efeitos especiais e construíram os alienígenas sendo assustadores, deformados e nada bobos. Eles realmente causam medo por sua repressão e a sensação que nos causa pode até se assemelhar ao momento atual onde o silêncio deve prevalecer e se morre por causar “barulho”.

Vá assistir Um Lugar Silencioso e esteja preparado para um filme que carrega uma carga dramática forte, pelo diferencial nas frases não verbalizadas e por ser um filme (ainda bem!) de terror diferente e que aguça os ouvidos.  A sensação é que se você se mexer na poltrona do cinema, o alienígena chegará em você.

Author

Atriz há 16 anos, apaixonada por cinema. Filha do gerente do ex-cinema Marrocos.

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