Logo nos minutos iniciais, o longa-metragem de John Krasinski, Um Lugar Silencioso, já estabelece que nessa história não há espaço para a inocência. Esse é um filme sobre uma impiedosa luta pela sobrevivência.
Krasinski, que também protagoniza o filme, assina aqui sua terceira direção. Acostumado ao gênero de comédia, sai de sua zona de conforto e faz aposta certeira em um longa de suspense agonizante.
Diante de uma ameaça alienígena, Lee Abbot (Krasinski), sua esposa (Emily Blunt) e seus dois filhos são obrigados a viver em completo silêncio, apenas comunicando-se por linguagem de sinais. A razão disso é que, tais alienígenas, apesar de cegos, possuem uma audição superdesenvolvida, atacando suas presas ao menor sinal de ruído.
Para agravar a situação, a personagem de Emily Blunt, que também é mulher de Krasinski na vida real, está grávida, rendendo cenas verdadeiramente angustiantes. Maior exemplo disso é a sequência arrepiante em que a protagonista entra em trabalho de parto, enquanto se esconde de uma das criaturas, não podendo emitir nenhum grito, nem mesmo gemido de dor.
O filme se desenvolve de forma lenta e cria aos poucos uma tensão no espectador.
Com um trabalho minucioso de som, o silêncio torna-se ensurdecedor. Tudo isso prepara terreno para a segunda metade do roteiro em que as personagens são diretamente atacadas pelas estranhas criaturas e o ritmo de acontecimentos passa a ser muito mais acelerado. Uma sequência de cenas permeada de reviravoltas, algo que se prolonga a ponto de se tornar cansativo.
Outro fator que faz o filme perder sua força é a escolha de se criar situações em que de fato fossem possíveis diálogos, como a cena da cachoeira em que pai e filho trocam desabafos ou a cena de Lee e sua mulher refugiados no porão da casa. Diálogos que serviram apenas para reafirmar o que as excelentes atuações dos atores já haviam conseguido traduzir por meio apenas de olhares e expressões. Nesse sentido o longa-metragem peca pela falta de coragem em investir em seus próprios silêncios, um erro recorrente do cinema americano.
No entanto, nem por isso o filme perde seus méritos. Emily Blunt cada vez mais reafirma seu talento. Grande destaque, também, para a intérprete da filha do casal, Millicent Simmonds, que, assim como sua personagem, também é surda, uma escolha coerente em tempos em que a inclusão social se torna cada vez mais fundamental.
Após produções como Rua Cloverfield, 10, Corra! e o recente Aniquilação, Um Lugar Silencioso merece posição de destaque nessa nova onda de suspenses pós-hitchcockiana. Krasinski traz aos cinemas um suspense inteligente, sensorial e reflexivo.
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