Eles não são famosos como os Vingadores ou a Liga da Justiça, mas se pudessem expressar sua opinião sobre esses dois grupos de super-heróis, os membros do The Authority certamente os chamariam de bundões ou algo pior. Provavelmente algo pior.
Criados pela mente alucinante do escritor Warren Ellis e sendo continuado mais adiante pela rebeldia de Mark Millar e outros, o The Authority é um grupo de super-heróis idealistas que se cansaram de ficar salvando as pessoas e o mundo para que o status quo se mantenha.
Munidos de uma super-nave sensciente que viaja pela “sangria” do espaço-tempo e tem armamento para destruir todo o sistema solar e mais um pouco, o The Authority decide peitar as nações do mundo inteiro e começa a exigir que os governos e as pessoas se comportem civilizadamente. Ou seja, que se acabem as ditaduras, que se resolvam os problemas básicos como fome, educação e saúde para que o mundo realmente seja um mundo que valha a pena ser salvo das constantes ameaças internas e extraterrestres que o The Authority tem que lidar o tempo todo.
Claro que os governos da Terra não gostam nem um pouco dessa atitude de um bando de super-heróis que não são lá um exemplo de moral e bons costumes para um mundo preconceituoso e hipócrita. Afinal, dois deles, Meia-Noite e Apolo, são um casal gay e um outro, o Doutor, é um viciado em drogas que volta e meia vai parar em clínicas de reabilitação para drogados.
O grande trunfo da série The Authority é misturar política e super-heróis de uma forma que poucos faziam no final dos anos 90. Não que isso já não tenha sido feito antes por outros como Frank Miller em Cavaleiro da Trevas e Alan Moore em Marvelman, mas nesta série você acompanha com mais detalhes o que aconteceria com um grupo de super-heróis ameaçando o governo americano e todo o G-7 (agora é G-8, mas na época do gibi era G-7). Personagens políticos reais e figuras pop do cinema e da música dão suas caras volta e meia, geralmente em situações humilhantes ou engraçadas.
A série fez um tremendo sucesso entre a crítica e os leitores por mostrar heróis que não tem a menor piedade em matar vilões assassinos (qual o sentido em deixar vivo um supervilão que pode voltar e matar milhares de pessoas novamente?), jogar ditadores para o povo trucidar, promover mega-baladas orgiásticas e ir defender a Terra bêbados.
Claro que isso tudo não passou impune pela censura da editora, e muitas vezes a violência gráfica extrema teve que ser atenuada, assim como as cenas de sexo entre os dois heróis gays. Assim como personalidades políticas tiveram que ser substituídas por outras fictícias, como numa cena em que mostrava o ex-presidente George Bush como um grande covarde. Á despeito disso, ainda assim The Authority solta farpas sobre governos e pessoas reais do mundo inteiro, especialmente o governo americano, muitas vezes retratado como o maior vilão de todos. Na verdade, chega um ponto em que o The Authority toma controle dos EUA.
Como muitas séries modernas, o The Authority se desenvolve em arcos de histórias, como numa mini-série, mas com mais regularidade. Isso garantiu um maior grau de qualidade ao gibi e o fato de contar com ilustradores do calibre de Bryan Hitch e Frank Quitely, tornam o The Authority um dos gibis ocidentais com um dos visuais mais cinematográficos da década passada, perdendo somente para o Planetary de Ellis e Cassaday. O estilo narrativo desenvolvido por Hitch para os primeiros arcos era inspirado no cinema e nos mangás. Respectivamente, grandes planos widescreen e narrativa veloz, com muita ação espetacular e planos detalhes da mesma. Quitely procurou manter a linguagem quando substituiu Hitch. Mais adiante, outros roteiristas e desenhistas trabalharam na série, sempre mantendo a sátira política, a rebeldia e a violência da série.
Leitura obrigatória pra quem sempre achou que Superman e Capitão América deveriam tomar uma atitude na vida.
Você encontra volumes da série nas livrarias e em sebos.
Ah, esta obra não é indicada para menores de 16 anos.
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