Alto, magro, sem face e trajando terno e gravata, Slender Man (Homem Esguio, numa tradução aproximada) é um daqueles casos onde um meme Slender Manacaba fugindo do controle, nesse caso, tornando-se uma temida lenda urbana. Não por acaso, Slender tem amedrontado uma infinidade de crianças e pré-adolescentes, protagonizando vídeos amadores que tentam comprovar a existência da criatura, o que, inclusive, já até provocou tragédias reais.

Independente da veracidade dos fatos, não era difícil de imaginar que a figura de Slender Man seria, um dia, levada aos cinemas. O problema é que esse dia demorou quase dez anos para chegar e, consequentemente, Slender Man – Pesadelo Sem Rosto chega atrasado para uma geração que inconscientemente já trocou os arrepios pela nostalgia quando a figura esguia vem à mente.

Escrito por David Birke (sim, o mesmo do ótimo Elle) o roteiro parte da mais básica das premissas, apresentando quatro adolescentes que, numa bela noite, resolvem assistir ao vídeo de uma estranha criatura descrita como “Slender Man”. E é claro que, apesar de vários avisos (sem mencionar o bom senso), elas terão a ‘brilhante’ ideia de tentar invocá-lo, passando a testemunhar, desde então, situações sobrenaturais que colocam a vida de todas em risco até que uma delas acaba desaparecendo.

Já mergulhando o espectador de cabeça no tradicional mundo dos adolescentes inconsequentes, somos bombardeados com excruciantes diálogos envolvendo sexo e paqueras.  Aliás, Pesadelo Sem Rosto parece ter seguido à risca a cartilha do gênero, abandonando cada clichê sem qualquer restrição e partindo para o próximo, a começar pelo clássico momento da ‘descolada’ do grupo que intimida o galã descerebrado. Isso para não mencionar a conversa que estabelece Annalise Basso (Capitão Fantástico) como a ‘diferentona’ que só fala em morte e não tem pudores na hora de abordar o satanismo. Obviamente, essa personalidade vem da relação tóxica com seu pai (Kevin Chapman, da série Person of Interest), um alcoólatra inveterado. Já Hallie (Julia Goldani Telles, da série The Affair) é a certinha. Aquela que sempre se mantém contra os esforços estúpidos do quarteto, mas que acaba sendo cúmplice. Enquanto isso, Chloe (Jaz Sinclair, de Cidades de Papel) é aquela que poderia ser o alívio cômico, mas que não possui vocação para tal.

E se o roteiro trata seus personagens como verdadeiras marionetes unidimensionais, pior é a direção de Sylvain White (do divertido Os Perdedores) que se mostra incapaz de construir uma mínima atmosfera de tensão. Ou de horror. Ou de suspense. White parece acreditar que apenas a presença de Slender Man seria o bastante para aterrorizar o espectador. E, relevando as semelhanças do Homem Esguio com o Questão da DC Comics, a verdade é que sobra carisma para a entidade. Pena que toda aquela sensação nefasta presente no jogo homônimo e nas histórias contadas na internet, é esmagada para dar origem a sequências escuras entrecortadas por gritos agudos e vultos passando na frente da tela.

Seguindo na mesma linha, a montagem de Jake York (do péssimo Área 51) investe pesadamente nos establishing shots, numa falta de imaginação ainda pior que as transições acompanhadas de gritos, com o céu noturno ao fundo e ilustrando a passagem do tempo através da velocidade das nuvens. 

Já os efeitos visuais são pífios, chegando ao fundo do poço na sequência onde Hallie, num delírio psicológico, vê outro personagem como uma espécie de assombração tendo um ataque epiléptico, arrancando risos involuntários e destruindo qualquer possibilidade de susto que, por sua vez, aqui é raro e geralmente envolve algum elemento surgindo repentinamente no escopo ao lado de um acorde exageradamente alto.

E por falar em trilha, confesso ter resistência a acreditar que o bom Ramin Djawadi, de temas magníficos como os de Game of Thrones, Homem de Ferro, Westworld e Círculo de Fogo, é o responsável por essa bizarrice apresentada aqui. Pelo menos, Djawadi divide o (des)crédito com seu associado Brandon Campbell. E prefiro acreditar que a ideia de incluir uma melodia hindu ao tema principal foi de Campbell e não de Djawadi.

Incoerente em variados níveis, a produção não só trai a confiança do espectador ao abusar de sequências de sonhos (dentro de sonhos), como falha miseravelmente ao esquecer de sugerir uma forma de neutralizar o personagem-título, ocasionando um efeito cascata que culmina no caos absoluto acerca de sua natureza. E como desgraça pouca é bobagem, o ‘roteiro’ comete gafes estúpidas como ao fazer as personagens ‘se protegerem’ atrás de portas trancadas, mesmo sabendo que Slender Man as atravessa sem a menor dificuldade, superando (por pouco) a ridícula reviravolta jogada na segunda metade e que envolve um sacrifício.

Falhando ao explorar o potencial de uma criatura que, há muito, já habita o imaginário da cultura popular, Slender Man – Pesadelo Sem Rosto ainda consegue a proeza de fazer com que os 90 minutos de projeção soem como intermináveis 4 horas, frustrando não só pela incapacidade de provocar medo (ou qualquer outro sentimento), mas pela habilidade nata de servir como sonífero. E dos bons. 

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Crítico de Cinema e Carioca. Apaixonado pela Sétima Arte, mas também aprecia uma boa música, faz maratona de séries, devora livros, e acompanha futebol. Meryl Streep e Arroz são paixões à parte...