Sexta-feira passada esqueci meu roupão no vestiário da academia. Um roupão comum, destes que usamos pra sair da piscina na aula de natação. Hoje, quando voltei lá e perguntei se alguém tinha encontrado e entregado me falaram que não. A pessoa que encontrou não foi capaz de devolver um simples roupão usado.
Isso me fez pensar como vivemos num mundo sem princípios. Quais os valores dessa nossa sociedade? E mais fundo… O ser humano é essencialmente bom e se desvirtua para o lado ruim ou ele é essencialmente ruim e vai agregando valores para se tornar melhor ao longo da vida???
Já pensei muito sobre isso e eu me filio à segunda corrente. Acho que o ser humano nasce egoísta, cruel e malvado e vai evoluindo. Tomem por base os bebês e as crianças de tenra idade, e deixem de lado a parte sentimental da coisa. A criança é egoísta, cruel e não pensa duas vezes em usar seus instintos e armas para conseguir o que quer. Bate, arranha, morde e não quer dividir o que é seu e quer tomar o que é do coleguinha. Aprendemos que isto é feio e errado porque assim somos ensinados e vamos aprendendo com o passar do tempo a respeitar o próximo e a discernir o certo do errado, deixando, ou tentando deixar pra trás nossa má índole.
Pra mim nós passamos dia após dia das nossas vidas tentando superar ou mesmo vencer esse nosso ser irracional, este ser que habita dentro de nós e que vez ou outra aparece, principalmente quando somos levados por algum motivo aos extremos do nervosismo ou do estresse e que traz à tona o pior de nós. Este ser que nos mostra que somos capazes de maldades ou de atos violentos em nome de nossos desejos ou mesmo pra defender algo ou alguém que achamos ser nosso.
A grande maioria das pessoas consegue refrear estes instintos, uma parte das pessoas não… Essa pessoa que achou o meu roupão com certeza sabe que deveria devolver e que não é correto ficar com algo que não lhe pertence, mas provavelmente a sensação de estar se beneficiando e de levar vantagem sobressaiu e ela não refreou esse desejo de se apoderar de algo que é do outro, sem se preocupar se isto traria ou não algum mal pra outra pessoa.
Daí podemos levar nosso raciocínio um pouco mais além e pensar que sempre, desde os primórdios da civilização, o ser humano vive em função de se beneficiar, guerreando e matando para conquistar território e poder, passando por cima de quem quer que seja pra conseguir seus objetivos. Antigamente as disputas por terra, hoje os roubos de tênis da moda, só pra citar um exemplo banal.
Será que hoje em dia isso é diferente? Ou será que dadas as devidas proporções continuamos a fazer o que os reis, senhores feudais e conquistadores faziam antigamente mas de outra forma?
Hoje somos políticos e sabemos que pra conseguir o que queremos e pra nos beneficiar não é legal usar a força bruta, descobrimos o poder da manipulação, que é uma arma tão perigosa quanto a espada usada lá atrás pra cortar cabeças.
E aqui voltando aos bebês… qual é a primeira coisa que um bebê descobre??? Que se ele chorar logo alguém vem correndo até ele e faz o que ele quer. O que é a manha infantil senão a criança manipulando os pais???
Sim, somos manipuladores por natureza. Alguns preferem pensar que são estrategistas, sagazes ou mesmo espertos. Dói menos… mas no fundo, no fundo somos é manipuladores.
Se alcançamos algum grau de poder, pensamos primeiro em nos beneficiar pra depois, e só depois ajudar o outro. Se nos vemos em situação de perigo, primeiro salvamos a nossa pele, depois a do outro. A lei permite que se mate o outro se disso depender a sua sobrevivência. Aliás, aqui cabe um aparte. Vocês sabiam que o homicídio é o único crime que qualquer, e eu disse QUALQUER pessoa está sujeita a cometer? Sabem porque? Porque pra matar alguém não precisamos ser pessoas más, basta que deixemos aflorar nossos instintos. E a lei sabe disso mais do que ninguém.
Quantos impulsos violentos, ou agressivos, nós temos ao longo do dia? Quantas vezes temos que parar e contar até mil pra não explodir e não resolver as coisas na força bruta? Quanto é difícil saber lidar com as frustrações e entender que não podemos ter tudo o que queremos? Quantas vezes perdemos a cabeça e tomamos atitudes impensadas e impulsivas das quais nos arrependemos depois?
Será que nós somos o que somos nos momentos de impulso ou somos o que somos no momento que nos controlamos?
Eu acho que nós somos o que está no nosso íntimo somado ao que aprendemos ao longo da vida. Temos que aprender a lidar com os sentimentos que queremos deixar escondidos debaixo do tapete, pois eles fazem parte de nós e nos dar por satisfeitos todas as vezes que a nossa razão vencer os nossos instintos irracionais, mas nunca perder de vista que devemos fazer um trabalho diário com nós mesmos a fim de sermos capazes de colocar na balança os nossos desejos instintivos e o direito do próximo e achar um meio termo saudável.
Será que eu sou radical demais? O que você pensa sobre isso? Acha que o ser humano é essencialmente bom ou instintivamente ruim????
E vamos aos debates…..
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5 Comments
Papo sério! Minha opinião é que o homem é página em branco escrita pelo meio ao longo de sua história. Nem bom nem mau… parabéns pelo texto! Seu texto fala em propriedade… e eu lembro o dito popular: achado não é roubado! Você fala em bebês que choram para ganhar algo e eu lembro outro velho ditado: quem não chora não mama! Penso que o homem aprende a viver e conviver… mas nasce TENDO QUE APRENDER a sobreviver! Você tem um ponto-de-vista próprio e quem sou eu para refutá-lo?
Isso tudo exige uma análise social e psicológica ferrada. Enfim, não sou eu que irá fazê-la, mas em minha singela opinião as pessoas têm sim um "lado negro" aflorado. Não acredito em "maldade" e "bondade" natas, mas por instinto de sobrevivência tendemos a usar técnicas pouco ortodoxas. A educação (formal e em casa), assim como a absorção de alguns conceitos de moral e ética, faz com que as pessoas fiquem "melhores". A sociedade estipula um perfil de cidadão bom e ético, e quem quer estar dentro dos padrões do sistema deve segui-lo. Sei lá, assunto muito complexo. Acho que nem Freud explica, rs.
Viviane o ser humano é “essencialmente ignorante´´ e “instintivamente protetor do que julga seu por direito ´´
Tua indignação é justa ,e alem de possuir um juizo melhorado nas questões éticas tem conhecimento das leis e sabe que as leis são em sua maioria favoraveis a escapadas pela tangentedaqueles que consideramos injustos e desonestos.
Muito bom seu exemplo da criança ,porem não devemos esquecer que existe uma diferença entre egoismo e egocentrismo e cabe aos pais quando tiverem moral suficiente para moldar o carater dos filhos assim como os seus pais o fizeram .
Por outro lado dando meu parecer descaracterizado do materialismo simplesmente “ imagino ´´ que o Espirito humano em hipotese alguma perde suas conquistas morais e intelectuais , tanto que vemos ou temos exemplos de pessoas que viveram num meio propicio a bandidagem e são hoje pessoas de bem e que alem do mais auxiliam a sociedade e na contra mão vemos pessoas que nascem em familias de bem e virão bandidos .
A ética e a honestidade não estão ligadas pelo simples fato de que alguem com etica respeita os interesses e as possibilidades de ganho que sua atitude podera favorecer seja um bandido ou não , a honestidade ja impera em todos os momentos .
isso é um grande assunto
De certa forma acredito no que foi dito, mais tambem acredito que nós nascemos neutros, mas nosso estinto irracional nos domina por sermos fracos e junto a isso temos a sociedade que nos ajuda a seguir o caminho que quase sempre é o errado.
Usando a frase que deu fecho ao comentário da Amanda, se Freud não explica, C. G. Jung explica, e muito bem: O chamado 'lado sombrio' é inerente ao ser humano e não prerrogativa de um ou outro indivíduo. Apenas poucos têm consciência de como ele opera. Primeiramente, é tudo aquilo que aprendemos a enxergar como incorreto, abjeto, vil, anti-ético, enfim, negativo e aprendemos que deve ser rechaçado, se quisermos nos tornar pessoas de bem. Mas isso está lá, guardado no nosso inconsciente e, emerge quando menos se espera! As lições do grande psiquiatra suíço são longas, muito abrangentes, por isso não vou ficar aqui discorrendo sobre o tema, mas, para quem se interessar, é uma abordagem interessante e há autores mais objetivos que tratam o assunto de modo mais simples, dirigido a leigos. Boa tarde a todos.