Se o Oscar está para o cinema, assim como, a Copa está para o futebol, podemos dizer que a grande zebra do ano foi David O. Russell com a Trapaça, que apesar das 10 indicações não levou nenhuma estatueta para casa.

Já 12 Anos de Escravidão, de Steve McQueen, foi o grande vencedor da noite, e opiniões à parte, sua vitória teve um grande impacto sobre a indústria cinematográfica.

Todos os anos, ou quase todos, um dos filmes indicados à premiação, trata sobre preconceito, diferenças raciais, dificuldade nos guetos, como por exemplo, ano passado em Django Livre, que rendeu dois Oscars, um para Quentin Tarantino (roteiro original) e outro para Christoph Waltz (melhor ator coadjuvante). Mas o que torna tão emocionante a vitória de 12 Anos de Escravidão, em particular, foi o discurso da atriz Lupita Nyong’o (melhor atriz coadjuvante): “Não importa de onde você seja. Seu sonho tem valor.”

Lupita Nyong

Lupita Nyong’, alguns dias antes da premiação, havia feito outro belo discurso na premiação do Black Women in Hollywood sobre a importância das mulheres negras no cinema, que deixou a todos emocionados: “Eu queria aproveitar esta oportunidade para falar sobre beleza. Beleza negra. Beleza escura. Recebi uma carta de uma menina e gostaria de compartilhar uma pequena parte dela com vocês: “Querida Lupita, acredito que você é muito sortuda por ser negra e ter sucesso tão rapidamente em Hollywood. Estava quase comprando o creme ‘Dencia’s Whitenicious’ para clarear minha pele, quando você apareceu no mapa e me salvou”.

Meu coração sangrou um pouco quando li estas palavras. “Nunca poderia imaginar que meu primeiro emprego, depois da escola, seria tão poderoso e me tornaria numa imagem de esperança, da mesma forma que as mulheres de “A Cor Púrpura” foram para mim.”.

Esse discurso leva a todos uma reflexão, o que as pessoas querem assistir no cinema? A mesma comédia passada em Beverly Hills, com atores indicados como os mais sexys e ricos pela “People” ou realidade, atores que os representem como sociedade plural com toda a sua diversidade?

Pensando em todos esses aspectos, não podemos deixar de relacionar todo esse momento com o cinema brasileiro, um cinema que sempre tentou ser fiel ou pelo menos representar personagens nos quais as pessoas pudessem ter uma conectividade.

Seria então essa nossa hora?

Uma coisa podemos dizer, quem recebeu o Oscar não foi John Ridley, mas quem ganhou, de fato, foram todos que acreditam que o cinema pode ser mais que o padrão hollywoodiano.

 

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