Finalmente chega aos cinemas a primeira incursão do brasileiro Afonso Poyart em Hollywood: Presságios de um Crime, com Anthony Hopkins, Colin Farrell e a brasileira Luisa Moraes.
A trama coloca Joe (Jeffrey Dean Morgan) e Katherine (Abbie Cornish), uma dupla de oficiais do FBI, numa caçada a um perigoso e brilhante serial killer que parece estar sempre um passo a frente. Intimidados com o desafio e carentes de pistas, a dupla recorre ao Dr. John Clancy (Anthony Hopkins) um recluso médico aposentado e antigo amigo de Joe para a resolução do caso. Também conhecido por seus dons como vidente, Clancy rapidamente percebe que há muito mais por trás dos crimes.
Mas antes de estrear em território americano, o brasileiro natural de Santos emplacou um dos filmes nacionais mais aclamados de 2012, o original e frenético 2Coelhos.
Com Fernando Alves Pinto, Caco Ciocler e Alessandra Negrini no elenco, a produção chamou atenção por se tratar de uma ousada aposta num gênero pouco explorado no país: ação. E justamente por não se enquadrar no subgênero dos “filmes de favela” ou no das “comédias novelescas”, é que Poyart acabou ganhando mais fama.
Mais do que isso, 2Coelhos se revelou uma aposta certeira, já que graças ao visual apurado de Poyart, o filme soube aliar uma boa história a surpreendentes efeitos visuais.
Pois é, filme brasileiro com ótimos efeitos especiais. E filme bom, diga-se de passagem. E como não é todo dia que isso acontece, não demorou até que o cineasta atraísse olhares de produtores hollywoodianos. Foi quando surgiu o produtor Beau Flynn que imediatamente após assistir 2Coelhos entrou em contato com Poyart.
Em produção há mais de dez anos, o projeto só começou a andar, de fato, depois que ganhou a atenção de Anthony Hopkins, que já havia trabalhado com Flynn no bem-sucedido O Ritual, em 2011. Após ler o roteiro, o ator vencedor do Oscar por O Silêncio dos Inocentes em 1992 rapidamente tratou de entrar para o elenco.
“Se um roteiro é bem escrito, é sempre interessante, e este foi bem escrito. É um roteiro muito, muito bom”, diz Hopkins, que também assumiu em Presságios de um Crime a produção executiva do filme. Sobre o diretor, o ator veterano também se mostrou empolgado: “Ele tem uma percepção visual muito própria e particular para tudo. É um diretor visionário que é ótimo com imagens. Como Ridley Scott, ele é um cineasta sofisticado. Afonso tem uma forma única de olhar o mundo através da câmera e a capacidade de colocar as imagens que meu personagem vê em sua mente na tela”, acrescenta.
Entretanto, ainda faltava um diretor para comandar um projeto, mas depois de assistir a 2Coelhos, Beau Flynn finalmente encerrou sua procura. “Como produtor, eu fiquei super entusiasmado”, confessa Flynn. Ele continua: “O filme 2Coelhos tinha todos os elementos que eu estava procurando – um ponto-de-vista bem estruturado, força visual, bons desempenhos e uma direção confiante”.
Com um diretor contratado e contando com ninguém menos do que Sir Anthony Hopkins na produção, tudo ficou mais fácil, principalmente em termos de escolha de elenco. Rapidamente juntaram-se Jeffrey Dean Morgan (O comediante de Watchmen), Colin Farrel (Walt – Nos Bastidores de Mary Poppins) e Abbie Cornish (do mais recente RoboCop).
Morgan, aliás, não hesita ao explicar porque aceitou embarcar no projeto: “Primeiro e acima de tudo foi Tony Hopkins. Trabalhar com alguém como ele é talvez a melhor coisa que qualquer ator pode experimentar. Foi realmente emocionante atuar com ele”. O ator também fez questão de elogiar o diretor brasileiro e os roteiristas Sean Bailey e Ted Griffin: “Quando me encontrei com Afonso, gostei bastante de sua visão do que o filme era e do que ele poderia ser. Presságios de um Crime tem realmente um roteiro inteligente, escrito por dois caras realmente talentosos.”
Já Abbie Cornish explica que foi sua personagem a grande responsável por atraí-la ao projeto: “Eu me interessei pela força e solidez dela, por sua confiança e também por sua quase cega e ainda prematura ambição. Ela tem uma calma e silenciosa perseverança, é muito dedicada e profissional”, conta a atriz.
Para o papel do vilão o produtor Beau Flynn pensou em seu velho amigo Colin Farrell, com quem trabalhou em Tigerland, em 2000. Inicialmente mais animado por trabalhar com o lendário Sir Anthony Hopkins, Farrell logo percebeu que não estava interpretando um personagem qualquer: “O nível de orquestração que ele [o vilão] estabelece para si próprio é bastante complexo e detalhado. Ele basicamente conduz a maioria da ação que acontece no filme. Tudo o que o personagem provoca no filme é para levar o espectador ao confronto final”.
Diante de um elenco tão talentoso, Afonso Poyart não tem do que reclamar, e rasga elogios: “O que grandes atores têm em comum é que eles chegam preparados para o set de filmagens, com um forte ponto de vista sobre seus personagens. Tony, Colin, Abbie e Jeffrey trouxeram ideias que aprimoraram os personagens e contribuíram para a narrativa e para o filme.
É excelente quando os atores trazem sugestões que eu não esperava, que realmente somam ao personagem e à cena. Estar aberto à essa troca é a melhor parte de colaborar e de trabalhar juntos”, diz o diretor Afonso Poyart, que também comentou sobre as diferenças entre Presságios de um Crime e seu primeiro filme, 2Coelhos: “Ambos os filmes têm ação, movimentos rápidos e uma intensidade visual para o ritmo e a edição, mas Presságios de um Crime me dá a oportunidade de explorar os personagens mais do que eu tinha feito antes”, explica.
Dirigido por Afonso Poyart e com Anthony Hopkins, Jeffrey Dean Morgan, Abbie Cornish e Colin Farrell, Presságios de um Crime já está em cartaz nos cinemas brasileiros, mas não deve ser unanimidade entre o público, pois, apesar de contar com uma premissa interessante e de possuir personagens com potencial, o roteiro encontra dificuldades para esconder erros que acabam se revelando como verdadeiros buracos na trama.
A direção de Poyart até tenta conferir dinamismo e energia à trama, mas o resultado é uma narrativa burocrática, com deslocadas intervenções estilísticas, como as estranhas cenas envolvendo o personagem de Hopkins caminhando ao som de uma trilha sonora pesada, e dotada de uma visível dificuldade em encontrar o tom ideal.
E por falar em tom, apesar do elenco principal não decepcionar, Colin Farrell se mostra absolutamente perdido, destoando do trio protagonista. Com a maior cara de episódio de série policial, Presságios de um Crime poderia facilmente ser lançado direto em DVD. Mais sorte ao talentoso Afonso Poyart em seu próximo projeto.
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