Na Polônia de 1949, Zula (Joanna Kulig) uma moça da zona rural se apresenta a uma rigorosa escola de música. Ela passa no teste, mas ainda não tem ideia de que foi aprovada por Wiktor (Tomasz Kot) aquele que viria a se tornar o homem de sua vida. Entretanto, o destino parece brincar com o casal, separando-o e reunindo-o ao seu bel-prazer. Um romance vagamente inspirado na história dos pais de seu roteirista/diretor, Pawel Pawlikowski, que ganhou fama internacional com Ida, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Despertando curiosidade logo no primeiro minuto ao ser apresentado no incomum formato quadrado de 4:3, Guerra Fria é uma breve relato de um casal dividido pelo amor e pela música. Assim como o inesquecível La La Land – Cantando Estações, ela se torna uma cantora de sucesso e ele, um pianista de prestígio. Porém, o que separa esta produção daquele musical vencedor de 6 Oscars, é o fato de que o casal protagonista, apesar de amargar várias separações, sempre dá um jeito de se encontrar. E mesmo comprometidos, não hesitam em extravasar o amor que os une.
Trata-se de uma obra que ganha tons poéticos graças à linda fotografia em preto e branco, que sublinha a época retratada, e confere um charme a mais às bucólicas paisagens européias do início da Guerra Fria. Todavia, é a condução de Pawel Pawlikowski que dá o toque final, que coloca a cereja no bolo artístico que é Zimna Wojna (no original), através de uma condução precisa. Pawlikowski, compreendendo a estrutura de sua história, é quase um maestro, ditando o ritmo com transições marcantes, sem economizar nos fade outs que enfatizam cada acontecimento emblemático.
O cineasta também faz questão de frisar esses momentos com a intervenção cirúrgica da trilha sonora ou o realce do design de som, compensando os sustos colaterais com a elegância alcançado pela estética. As canções, belamente interpretadas pelo talentoso elenco (especialmente Joanna Kulig) dão um tom que faz o longa-metragem colocar um pé na seara dos musicais, retirando-o sempre que o casal retorna aos holofotes.
Como o casal protagonista, Kulig e Tomasz Kot, constroem uma química baseada na discrepância de personalidades: Zula é geniosa e comunicativa, ao passo que Wiktor é mais contido e sereno. A fagulha provocada pelo conflito resultante é o que torna o casal tão interessante, sendo fundamental para despertar a simpatia do público, mesmo que jamais tomemos conhecimento dos motivos reais por trás de cada separação.
Afinal de contas, Guerra Fria é um filme muito mais sobre sentimentos do que conflitos. O subtexto que dá nome à produção é um mero pano de fundo, perdendo espaço, até mesmo para o humor, que conquista pela simplicidade. Combinando imagem e música, Pawel Pawlikowski cria uma obra essencialmente cinematográfica, mas com o requinte que só a poesia é capaz de oferecer.
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