O que poderia salvar o planeta? Os humanos que o destroem poderiam ajudá-lo? O que poderia diminuir o consumo, a quantidade de lixo e trazer melhores condições de vida no futuro? E se você tivesse a oportunidade de ajudar o mundo se modificando? Essa é a ideia jogada na tela pelo diretor Alexander Payne (dos excelentes “Os descendentes”, “Nebraska”, Sideways- Entre umas e outras” e “Confissões de Schmidt”) em Uma Pequena grande vida, que além de dirigir também assina o roteiro com colaboração de Jim Taylor (“Eleição”, “Jurassic Park III).
Faço questão de citar alguns filmes do diretor, pois você já vai para o cinema com altas expectativas e o trailer interessantíssimo desperta curiosidade. Tem tudo para ser original e vira um tiro no pé.
“Uma Pequena grande vida” (com título original de “Downsizing”) oferece um produto e recebemos outro no lugar. Saio da sala com sensação que o roteiro se perde, que houveram pequenos momentos interessantes (principalmente na primeira parte do filme) e que com certeza é o pior filme da trajetória de Payne. A sensação é que se teve uma ideia incrível e não se soube concluir. Começa interessante e vai para um caminho chato, confuso e que eu não me permiti entrar na reflexão que o filme propõe.
Parecia estar vendo uma tentativa de “Querida, encolhi as crianças” (1989), misturada a “O Show de Truman: O Show da vida” (1998) e filmes mal feitos que o ator Ben Stiller faria (nada contra o ator). Tem uma pegada absurda, confusa e por vezes me incomodou tanto que gostaria que o filme acabasse imediatamente.
A ideia é ótima: cientistas noruegueses pesquisam como reduzir riscos ao Planeta e as “cobaias” seriam os humanos (até mesmo seu próprio inventor se submete ao experimento). Um ser humano tem seu tamanho reduzido (ao tamanho de uma boneca Barbie). Ele diminui no tamanho, seus dentes são trocados e a vida parece mais fácil neste mundo que talvez não nos seja tão distante no futuro.
Humanos menores acarretariam melhoras no Planeta, criando novas comunidades onde pessoas menores consumiriam menos recursos naturais, o dinheiro dura mais neste mundo miniaturizado, a superpopulação teria uma queda e as pessoas realizariam seus sonhos de consumo, onde este “novo mundo” pequeno tudo vale mais. O que você demoraria 40 anos para juntar de dinheiro agora vale muito. O que você juntou em pouco tempo, lhe proporcionara uma vida em mansões, tendo comida barata e realizando todas suas vontades com tempo livre.
Muitos humanos se permitem a esta mudança e o “ratinho de laboratório” central que teremos sua vida sendo contada é a do pacato operário Paul Safranek.
Temos mais uma vez apresentado por Payne um personagem acomodado, entediado, típico americano frustrado em busca de uma vida melhor. Safranek (interpretado por Matt Damon) é um fisioterapeuta, que cuidava de uma mãe doente e após sua morte coloca em seu lugar a mulher Audrey (Kristen Wiig, que por sinal é ótima atriz e mal aproveitada).
Safraneck e Audrey têm muitas dívidas, vivem na mesma casa que Paul cresceu, nunca conseguem ser aprovados no financiamento para um novo lar e veem uma possibilidade de serem mais felizes com essa transformação. Após 10 anos da revelação dos cientistas, o casal decide encolher. Não preciso nem me preocupar com o spoiler, pois no próprio trailer já sabemos que do pacto de terem uma nova vida, será aproveitado apenas por Safraneck. O marido é deixado pela mulher e teremos agora um homem sozinho, num mundo novo e extremamente triste num novo começo. E o pior a transformação é irreversível.
Mesmo com essa mudança de mundo, Safraneck percebe que o “novo” já não é tão bom (seguem os atentados de terroristas agora em miniaturas, seguem as discrepâncias sociais, e as minorias são desprezadas).
Paul segue frustrado com suas escolhas, tem um choque de realidade com a presença ainda de comunidades carentes e o quanto ele tenta entender quem ele era no mundo velho e agora o novo que se permitiu entrar.
O encolhimento assume mera “coadjuvância” a partir da metade e o roteiro passar a ser emotivo, apelativo, previsível e uma mistura sem pé nem cabeça de “comédia” e “drama”. O diretor parece querer nos enganar no roteiro e temos várias facetas.
Durante a sessão você terá várias lições sobre a vida e a preservação desta, mas o protagonista afunda junto com o roteiro. Afundam até atores que considero bons e com uma trajetória instigante como Christoph Waltz (“Grandes olhos”, “Django livre” e “Bastardos inglórios”). Aqui como o vizinho Dusan (um boêmio, canastrão, bon vivant e excêntrico) e que nem seu personagem consegue salvar a obra. Mesmo sendo um ótimo ator ele se perde, é mal dirigido e se repete com a mesma fórmula de outros trabalhos. Ele entra em cena e o público já esboça um riso pelo seu tom sempre satírico, mas confesso que o personagem não cativa e acredito que é um personagem medíocre para um ator com tantos trabalhos consistentes.
A faxineira vietnamita refugiada Ngoc Lan Tran (Hong Chau) é o destaque do longa (mesmo sendo bastante estereotipada), pois tem honestidade no seu trabalho e transita satisfatoriamente na comédia e drama. Mas confesso que fica difícil entender o porque da escolha melodramática da personagem ao longo da trama, se a atriz flui muito bem na comédia e apresenta momentos engraçadíssimos.
Até agora não entendi muito a decisão de Matt Damon em ter aceito este papel. Acredito que pode ter sido pelas lições e pelo ativismo que Matt tem. Mas o filme força na tentativa de refletir tanto sobre a sociedade atual. Ele está bem, está com sobrepeso (saindo do estigma de galã) e tendo momentos divertidos, mas é sofrível a atuação para o fim do filme.
Mas se prepare para ver os atores sendo usados rapidamente e poucos conseguem desenvolver o personagem. O filme é genial e prende atenção no seu início, as cenas de laboratório são divertidas como criança brincando com bonecos, a ida para Lazerlândia é rica em imagens. É impossível não se sentir atraído pela imersão que Payne traz nos 40 min. de filme, mas é tão abrupta a mudança que ao final saio decepcionada.
Aponto como mérito a fotografia e direção de arte que é primorosa nos detalhes e a sensação que nos causa de encolhimento.
Sinceramente Payne nesta obra me parece inseguro como o seu protagonista e nos apresenta um vômito de ideias que poderiam dar certo, mas que mais erra do que acerta. Talvez esta sátira social o conquiste, mas se você vai em busca de entretenimento por entretenimento não assista. A mim ficou só a vontade de saber como será ser tão pequeno e menor do que sou.
Diretores devem cuidar para não se perder na imensidão de tudo que desejam falar.
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