Um dos motivos de ter ido assistir Obsessão (o título original é Greta, mas acredito que o título mais óbvio atrairia o público brasileiro) é ter em sua ficha técnica a genial e primorosa atriz Isabelle Huppert.

Acostumada a assistir seu trabalho meticuloso de atriz em filmes franceses, eis Isabelle em uma produção Irlandesa. A escolha para “duelar” com essa gigante nas telas foi certeira, pois Chloë Moretz ( Kick- Ass Quebrando Tudo, Carrie – A Estranha e  O Mau exemplo de Cameron Post), mesmo com seus 22 anos, têm uma carreira bem sucedida e tem escolhido na sua trajetória trabalhos que demonstrem o quanto ela pode ser diferenciada. O desafio de Chloë creio ser apavorante, pois está contracenando com uma diva do cinema e teatro, mas não deixa a desejar, mesmo que o papel de Isabelle seja muito mais interessante e instigante.

A direção fica por conta de Neil Jordan, do sucesso de 1994,  Entrevista com o Vampiro e alguns filmes com certo reconhecimento como Traídos pelo Desejo e Café da Manhã em Plutão. Jordan é conhecido por dirigir clássicas obras de terror e suspense e estava afastado dos longas para criar, escrever e produzir séries (Os Bórgias e Riviera).

Confesso que o título é péssimo e ao entrar no cinema pensei porque Isabelle estaria num filme bobo de suspense com uma atriz adolescente em ascensão. A partir do momento que o filme vai se desenrolando você entende todas as escolhas e começo a achar agoniante e claustrofóbica esta relação doentia diante das telas.

Quando o público mergulha na perseguição de gato e rato, o filme passa a entregar as motivações que fazem Greta (Isabelle Huppert)  agir dessa forma, enquanto Frances (Chloë Grace Moretz) luta por sua proteção e de sua amiga, ao mesmo tempo que investiga tamanha obsessão que a mulher tem por ela.

A direção consegue inicialmente manter a atenção do espectador no desenrolar dessa trama central. Um jogo absurdo, com um primeiro momento com uma falsa ternura que depois vira o próprio inferno.

Na questão de roteiro a história se desenrola bem e Greta apresente a sua verdadeira natureza, mas o roteiro perde o fôlego estendendo sua narrativa de maneira desnecessária, perdendo a atenção e o interesse do espectador. Os sucessivos momentos de obsessão de Greta se tornam enfadonhos e a relação das duas está bem clara e o diretor segue numa mesma tecla.

O grande acerto de Obsessão é Isabelle Huppert que está explicitamente se divertindo em cena, trazendo toda sua experiência e bagagem teatral que vemos na construção de sua Greta e imersa nesta personagem doce inicialmente e posteriormente completamente “fora da casinha”.

Tudo está na medida na construção de sua vilania propositalmente exagerada e a vilania e loucura é levada ao extremo.

A ação acontece em Nova York onde duas jovens amigas dividem um apartamento. Frances e Erica (Maika Monroe). Frances está passando por um momento de luto, após a perda da mãe e do distanciamento que criou com o pai. O que poderia acontecer de interessante na vida de uma garota com uma vida simples, garçonete e que tem apenas como apoio sua amiga?

Percebemos esta dor muito bem interpretada por Chloë deste que perdeu alguém que ama. Frances parece ter responsabilidades demais afetivas e psicológicas e uma carência medrosa ao extremo.

Voltando do trabalho para casa, Frances encontra uma bolsa abandonada em um dos assentos do metrô (acho extremamente instigante este símbolo no filme). Ela decide devolver e inicia uma amizade improvável e incialmente saudável com a pobre dona de casa, viúva e solitária. Aqui há uma inversão e a jovem Frances “adota” Greta como uma amiga “maternal”. O suspense começa a se fortalecer com a  amizade  que começa a ficar estranha quando a garota percebe que Greta não é quem diz ser. Se você fica com medo e desconfia o habitual seria se afastar,  mesmo que Frances tenha prometido seguir para sempre com essa amizade.

Esta promessa foi o maior erro, pois isso desperta o pior de Greta, que começa a perseguir a jovem. Aqui o espectador terá momentos tensos, várias tomadas de Huppert com cara de louca e totalmente obsessiva. Começamos a ficar com medo do que Greta pode fazer. A garota é infernizada com mensagens, ligações e aparições surpresas e não há como ligar com o momento atual em que a discussão sobre abuso psicológico e pessoas que chegam a matar por ciúmes e possessão. Aqui a relação é maternal e uma relação imposta.

Perfeitamente normal uma mãe ser protetora com seus filhos. A questão que Greta criou uma fantasia maternal e completamente sem limite.

O terror se instala nesta perseguição claustrofóbica, criando angústia tanto na personagem quanto no espectador. Qual é o limite de Greta? O que ela quer?   

O filme é um suspense interessante e que te faz questionar o porquê dessa obsessão. É angustiante nos colocarmos no lugar de Frances e até se o espectador apresentar traumas ligadas a parte maternal. O filme começa muito bem, porém fica um pouco maçante, mas destaco a inteligência do roteiro em cenas que explicam essa obsessão e cenas que você torce para que sejam um sonho ruim e não reais.

O trailer é um ótimo chamariz para ser assistido, mas não espere cenas agitadas, mas há picos de adrenalina e cenas como do restaurante com uma tensão e um primor na atuação de Huppert. Ainda fico pasma com ela dançando pela casa, aquela caixa angustiante e a trama que se desenrola sobre as bolsas, a filha desaparecida e os barulhos que a casa de Greta tem misteriosamente.

Ser gentil e ingênuo pode, às vezes se tornar um pesadelo. Se você aprecia o gênero de suspense e thriller psicológico ai está uma boa pedida.

Muito cuidado com “stalkers”, muito cuidado com as relações que podem nos levar ao esgotamento e muito cuidado com Isabelle Huppert, que pode nos surpreender ainda mais em cada trabalho.

Author

Atriz há 16 anos, apaixonada por cinema. Filha do gerente do ex-cinema Marrocos.

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