O que pode levar o espectador até os cinemas para assistir O Primeiro Homem, o novo filme do jovem, mas premiado diretor, Damien Chazelle? Você pode ter interesse no filme, pois Chazelle dirige novamente Ryan Gosling (“Drive”)
e temos um novo “pas de deux” com muitos acertos e raras deslizadas.
É mais um filme sobre espaço, a chegada do homem na lua, mas uma oportunidade de conhecer a vida pessoal de Neil Armstrong sendo retratada de forma delicada e firme e a parte uma experiência sensorial que somos jogados com a entrega de Ryan. Ser um astronauta é ser um desbravador inconsequente que arrisca sua vida.
É como se tivesse uma câmera antiga na mão de alguém, aquele granulado na imagem, as cores claras e antigas e aquela sensação de família feliz americana que vai desmoronando. Temos morte de uma filha, os laços de amizade (mesmo com a disputa velada para ser o principal), as ambições e a sensação de que a partir de um SIM os astronautas estão entrando numa missão suicida
Chazelle dirigiu os premiados e conhecidos “Whiplash- Em busca da perfeição “e “La La Land- Cantando estações”. Há uma grande critica do público por parte deste último (que sofreu com a piada do Oscar por não ter levado a estatueta de melhor filme), mas é interessante o salto que Chazelle faz a partir de sua última obra e traz algo diferente e desafiador. Obviamente vemos a adoração do diretor por trazer as telas personagens sonhadores, obstinado, com uma ambição sedenta e dispostos a tudo (principalmente nos seus personagens masculinos).
Também já indico este filme para os apostadores do Oscar, pois provavelmente este filme estará indicado nas categorias de Desenho de som e mixagem, Montagem, direção de fotografia, talvez roteiro adaptado e qualquer quesito técnico.
Aconselho assistir em IMAX, pois são impressionantes os efeitos sonoros e a sensação claustrofóbica do filme. Fico em dúvida se o diretor receberia indicação, mas ressalto que ele me conquista por trazer um filme fora do habitual de sua trajetória cinematográfica.
O roteiro de Josh Singer nos traz a história do primeiro homem que pisou na lua e toda preparação para chegar até o tão almejado sonho americano. Sabemos já desde início que Armstrong sobreviveu e chegou até a lua e aí que o roteiro de Singer tenta nos prender nos dramas familiares do astronauta, as perdas de muitos amigos de equipe e toda estafa emocional do protagonista. Causa aquela sensação que mesmo que você conquiste algo que queira e os outros queiram, há coisas que doem e nunca são apagadas para se chegar até ali.
O lado emocional de Armstrong é preso e calculado, enquanto ele tem como base sua mulher (muito bem interpretada pela belíssima e hipnótica atriz Claire Foy conhecida pela série “The Crown”. Suas aparições são raras e silenciosas, mas fortes em duas cenas em especiais de cortar o coração, pois essa esposa sofre juntamente aos filhos com o possível falecimento do marido no espaço.
Janet Armstrong teve um marido focado, familiar, era engenheiro e astronauta da NASA, mas mesmo tendo um ótimo currículo e qualidades ele se distanciou por completo da família e dele mesmo. Logo teremos cenas bem sensíveis e bonitas de Ryan e Claire e uma ótima sintonia entre os dois.
Como espectadora nunca me interessei por filmes sobre espaço, NASA e após a sessão ainda sigo com o mesmo pensamento: porque o povo americano investia tanto na corrida espacial, enquanto o povo passava inúmeras necessidades?
No filme vemos protestos de negros contra investimentos na tomada do espaço. É bem claro na obra que os americanos tentam a todo instante superar os soviéticos para ver quem será primeiramente o herói e vai fincar sua bandeira na lua.
Obviamente a cena da chegada é de encher os olhos, os sons te atravessam, a dificuldade para estar lá agonia o espectador e como Damien citou numa entrevista: “Quero me sentir aterrorizado o tempo todo “. Ele consegue em quase metade do filme, pois realmente nos sentimos no foguete, com uma sensação de claustrofobia e como é agonizante ver os terrores de uma viagem espacial.
O ponto que me chama atenção é a visceralidade dos astronautas, a obstinação por um destaque e quantos morreram para que um tivesse êxito para concluir a missão. Armstrong teve muita sorte (???), mas também teve muita inteligência emocional para se tornar um herói e que bom que neste filme não me soa tão piegas o heroísmo. Tanto que me oponho como sempre a dar SPOILER, mas a cena da chegada na lua e o momento emotivo do protagonista me ganha e ali Ryan mostra o quanto é um dos meus atores preferidos. Até agora fico em dúvida se realmente aconteceu aquilo na lua, mas o roteirista Josh Singer (“The Post”) foi certeiro no momento para as lágrimas.
É impressionante a dedicação de dezenas de astronautas no período de 1961 até 1969. Quem conseguiu chegar vivo depois de tantas tentativas teve um ato heroico.
O Primeiro Homem é uma experiência sensorial e visual que devemos nos permitir, mesmo que o filme tenha como ponto negativo um tempo arrastado e uma duração de mais de 2hs. Mas esta sensação de ser uma astronauta, de assistir precisas edições nas cenas que vão nos levando com sutileza e ao fim atordoante pelas mãos de Chazelle é um dos raros destaques do cinema neste ano.
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