O Filho Eterno
1982, Curitiba. Roberto, um escritor ainda não publicado, está para ter seu primeiro filho com Cláudia, uma jornalista. Quando Fabrício nasce eles descobrem que a criança tem Síndrome de Down. Roberto não lida bem com a novidade e o que era um sonho ganha um dissabor.
Essa trama toca em temas polêmicos. Não só mostra a forma de um casal lidar com a notícia de ter um filho com Síndrome de Down, mas também a falta de informação que havia sobre o assunto há mais de 30 anos atrás. Além disso é tratado o abandono parental, o preconceito e as frustrações.
Um ponto interessante levantado durante coletiva foi: e se o abandono fosse por parte da mãe, a redenção seria tão aceita? Ao responder a essa pergunta Debora Falabella disse acreditar que não, já que nossa sociedade encara como muito mais absurdo uma mãe rejeitar o filho do que o pai, por verem a mulher como alguém que deveria estar pronta toda a vida para esse momento.
Além de muito tocante ( fica difícil não chorar em alguns momentos do filme) o roteiro ainda tem uma cronologia muito interessante, o passar do tempo é relatado através das Copas do Mundo. Dá, inclusive, para fazer ali uma relação entre a relação que o pai tinha com o futebol, como o filho acabou sendo um anti-amuleto para ele, e como só ao ficar em paz com seus sentimentos em relação ao filho a “sorte no jogo” volta. As cenas de arquivo dos jogos da Copa ajudam a trazer uma emotividade maior aos saudosistas.
Outra característica interessante dessa produção é a caracterização dos anos 1980, muito bem feita – desde as roupas, móveis até ambientes e carros. A trilha sonora é intensa, talvez um pouco demais em alguns momentos do filme, mas nada que atrapalhe.
O elenco tem em seus papéis principais Marcos Veras, Debora Falabella e Pedro Vinícius. Pedro é um garoto encantador que traz veracidade à história, inclusive o diretor relatou na coletiva que algumas cenas foram incluídas por ele, feitas na improvisação do momento.
Débora é serena e centrada durante quase toda a trama, mas é uma cena em que ela mostra sua fraqueza em relação a esse filho especial que insere mais realidade a sua história.
Marcos Veras é uma figura mais conhecida pelo público pelos seus papéis de comédia, então é um pouco difícil se desapegar disso para enxergá-lo com um novo olhar; ainda assim seus sentimentos são tão vívidos que – por mais que seja compreensível o dilema do personagem – é difícil não sentir um pouco de raiva ou revolta com suas atitudes.
Por fim, trata-se de uma história tocante e que, com certeza, veio para questionar algumas coisas, mas acredito que poderia ter um toque um pouco menos novelesco, o que parece meio impossível de não acontecer quando Globo Filmes faz parte da produção.
Ainda assim é uma boa pedida para quem está disposto a chorar dentro do cinema.
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