É, caro leitor, eis que mais um ano se encerra. E foi um ano frutífero para o cinema, já que tivemos muitos grandes filmes, sendo que alguns até surpreenderam. Afinal, quem imaginaria ver o Festival de Cannes exibir um filme de super-herói? Aliás, quem algum dia chegou a imaginar o Wolverine num filme do calibre de Logan? E quem diria que o sonhado filme da Liga da Justiça pudesse decepcionar tanto?
Pois é, tivemos boas e más surpresas, entretanto, acima de tudo, tivemos grandes filmes. Ainda na parte dos quadrinhos, Mulher-Maravilha fez história e alavancou a carreira da simpática Gal Gadot, ao passo que Guardiões da Galáxia Vol. 2 conseguiu manter a excelência do primeiro filme.
Profissionalmente, 2017 foi ainda melhor para mim, já que fui credenciado pela primeira vez para cobrir o Festival do Rio, onde assisti a mais de 30 filmes. E que filmes! Foi nele que vi Projeto Flórida, Me Chame Pelo Seu Nome e A Forma da Água, que estrearão já no início de 2018 e com boas chances no Oscar.
E já que falei em Oscar, é difícil não lamentar a mais nova ausência do Brasil entre os indicados a Melhor Filme Estrangeiro. Mas por melhor que seja Bingo – O Rei das Manhãs, já sabíamos que as chances não eram das melhores…
Bombas? Sim, também tivemos várias, mas isso vou deixar para você ver a seguir, já que, sem mais delongas, apresento (pelo segundo ano consecutivo) minha lista das dez melhores e as dez piores produções que estrearam no Brasil em 2018.
Como sempre, lembro que essa lista não contempla os filmes que vi em Festivais. Se fosse o caso, Fuga! e Discreet estariam entre os piores, mas estes nem possuem previsão de estréia por aqui…
10. Power Rangers
Cresci assistindo aos combates regados a faíscas e, como fã, confesso ter me decepcionado. Adotando uma atmosfera séria completamente incompatível com o tom farsesco da série de TV, o filme conta a história de origem dos Rangers numa trama repleta de clichês e recheada de péssimos efeitos visuais e más atuações. O que claro, não impediu que, em meio a tantos equívocos, se destacassem Elizabeth Banks (única a não se levar a sério) e o promissor R.J. Cyler (O Ranger Azul). Fracasso de crítica, Power Rangers também registrou um público abaixo do esperado, tendo sua continuação ameaçada pelos fracos 85 milhões de dólares nos Estados Unidos e ínfimos 54 milhões no restante do mundo, para um orçamento de 100 milhões.
9. Esta é a Sua Morte
Giancarlo Esposito (o Gus Fring de Breaking Bad) protagoniza e estreia na direção desta confusa produção independente. Sem foco e aparentando não ter a menor ideia de qual caminho seguir, Esposito patina em meio a uma história absurda e cujos roteiristas prepotentes destilam toda a tolice possível na tentativa de chocar ou comover o público. E não conseguem.
8. A Múmia
Os conturbados bastidores já eram um prenúncio de que uma bomba estava por vir. Com este filme, a Universal planejava contruir um universo compartilhado de monstros (a exemplo do que a Marvel fez com seus super-heróis), mas acabou sabotando os próprios esforços ao investir num diretor pouco experiente (Alex Kurtzman, que só havia feito “Bem-Vindo à Vida”), e depender de um roteiro sofrível que ainda deposita em Tom Cruise suas fichas para evitar o fracasso. Mas nem Tom Cruise consegue minimizar o estrago deste filme bobo e que falha em todas as suas frentes: não assusta, não empolga e muito menos diverte. Contando ainda com uma participação deslocada de Russell Crowe (Gladiador) e um final desastroso, A Múmia foi um fracasso retumbante de público e Crítica e os produtores ainda tiveram a pachorra de colocar a culpa em Tom Cruise…
7. Tinha que ser ele?
Com talentos como James Franco (127 Horas) e Bryan Cranston (da série Breaking Bad), o filme é um tremendo desperdício de elenco. Após realizar os divertidos “Eu Te Amo, Cara” e “Quero Ficar Com Polly”, o cineasta John Hamburg realiza aqui seu pior trabalho, com esta comédia apelativa, escatológica, formulaica e carente de risadas. Determinado a bater o recorde mundial de clichês, Hamburg coloca Cranston como o pai da namorada do personagem de Franco, que encarna um milionário da internet à procura de aprovação para um futuro noivado.
6. O Círculo
2017 foi um ano peculiar para Emma Watson: depois de estrelar um dos maiores sucessos de público e Crítica do primeiro semestre (A Bela e a Fera), a atriz francesa entrega-se a uma das piores produções do ano. Absurdo, confuso e inacreditavelmente equivocado (para não dizer ruim), O Círculo perde-se numa trama pretensiosa, e em nenhum momento deixa claro o tipo de filme que deseja ser. O resultado é uma experiência entediante, incompreensível e de qualidade absolutamente questionável. E ainda comete o pecado de envolver Tom Hanks nessa furada…
5. Transformers – O Último Cavaleiro
Depois de um início promissor e um quarto filme desastroso, a franquia Transformers volta a mostrar dificuldade em sair do fundo do poço. Diretor de todos as produções, Michael Bay, que havia demonstrado qualidade com Sem Dor, Sem Ganho de 2013, prova não ter aprendido com os erros cometidos e retorna ainda pior. Dono de uma carreira tremendamente irregular, Bay desta vez equivoca-se com o básico e ainda peca no que costumava ser o seu ponto forte (e o da franquia): a ação. Tomando uma atitude ainda mais equivocada em relação ao seu herói, Optimus Prime quase salva este longa-metragem. “Quase”, porque seus melhores momentos acontecem faltando menos de 15 minutos para o fim da projeção.
4. Max Steel
Quando até Taylor Lautner dispensa um papel, é sinal de que há algo de errado. Ou, no caso de Max Steel, muito errado. A produção que era encarada como prioridade acabou sofrendo um corte considerável em seu investimento, o que culminou num modestíssimo orçamento de 10 milhões e um filme que reflete o caráter barato de seu desenvolvimento. Abarrotado de clichês e com reviravoltas manjadas, o filme até teve sorte ao escalar o mediano Ben Winchell como protagonista, mas nem Andy Garcia e Maria Bello salvam este subproduto do desastre. A maior surpresa, no entanto, é constatar que a bilheteria superou os 3 milhões…
3. A Comédia Divina
Feito sob medida para ganhar as telinhas globais num futuro próximo, A Comédia Divina exibe a tradicional linguagem tipicamente novelesca das produções Globo. Busca o riso, mas escorrega feio ao apostar em trocadilhos infames, causando constrangimento ao invés de provocar gargalhadas. Se falta criatividade no humor, pior acontece em termos de atuação, já que “falta de coesão” é um eufemismo para o elenco imperdoavelmente irregular. Além disso, a montagem possui cacoetes televisivos e a trilha sonora existe apenas como guia para a emoção do público, isso sem mencionar sua qualidade duvidosa. Efeitos visuais? Melhor nem mencioná-los… Ao fim, nada sobra dessa bomba infernal.
2. Assassin’s Creed
Baseado numa célebre franquia de jogos eletrônicos, a produção encabeçada por Michael Fassbender (o jovem Magneto), buscou nomes de peso como Marion Cotillard (Aliados) e Jeremy Irons (o novo Alfred), mas viu seu diretor (Justin Kurzel, de Macbeth) se perder diante de tantas possibilidades. Adotando mudanças drásticas em relação ao material de origem (a máquina Animus), o roteiro consegue a proeza de desperdiçar todo o potencial dos famosos combates dos games, preferindo construir uma narrativa caótica e logicamente risível. Uma decepção que custou 125 milhões, mas que não rendeu nem a metade.
1. Cinquenta Tons Mais Escuros
Seqüência do ridículo Cinqüenta Tons de Cinza, a produção dá continuidade ao relacionamento doentio entre o maníaco Christian Grey (o insosso Jamie Dornan) e a problemática e “inocente” Anastasia Steele (Dakota Johnson), conseguindo ser pior do que seu antecessor. Afinal, se o primeiro ao menos provocava risos involuntários (se levado a sério, dá uma ótima comédia), este novo filme, talvez por contar com a direção do experiente James Foley (Dominados Pelo Desejo), não apresenta cenas de sexo gratuitamente, mas é sabotado por um roteiro digno de uma telenovela mexicana. Forte candidato ao Framboesa de Ouro, este “filme” sequer estreou em primeiro lugar nas bilheterias americanas, ficando muito abaixo das expectativas do estúdio, mas vai ganhar uma nova continuação.
Menções desonrosas:
Os Penetras 2, Tempestade: Planeta em Fúria, Death Note, Além da Morte, Cães Selvagens, Triplo X – Reativado.
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Agora, vamos falar de coisa boa (não a Tecpix)…
10. Thelma
Assumindo-se como uma moderna versão norueguesa de Carrie: A Estranha, Thelma divide vários elementos com sua inspiração. Estão lá a religião, o medo do julgamento e, principalmente, uma jovem dominada por conflitos internos. Empregando alegorias de forma precisa, o filme traz um elaborado discurso de suporte à juventude reprimida, e a presença forte da religião traz consigo todo um pano de fundo que só contribui para a conexão do mundo de Thelma com o real. Diametralmente diferentes, os pais da jovem protagonista em nada lembram a figura fanática e monstruosa de Carrie, o que afasta esta produção de um caminho que seria mais fácil e previsivelmente decepcionante. O ponto negativo fica por conta do ritmo extremamente lento, que a torna por vezes cansativa.
9. O Filme da Minha Vida
Depois de provar ser um ator carismático e talentosíssimo, Selton Mello vem colecionando pequenas Obras-primas como cineasta, como Feliz Natal, O Palhaço e este sensível O Filme da Minha Vida, onde a história de um jovem professor (Johnny Massaro) é apenas pano de fundo para que a produção mergulhe o espectador numa atmosfera leve, nostálgica e deliciosa. Com uma fotografia exuberante do grande Walter Carvalho, O Filme da Minha Vida traz o próprio Selton Mello num dos papéis mais surpreendentes de sua carreira, além de ratificar, mais uma vez, sua capacidade como Cineasta. Apesar da atuação carismática, mas vacilante, de Massaro e de uma trama que sofre com o ritmo irregular, o longa entrega uma experiência poética e envolvente.
8. Detroit em Rebelião
Novo trabalho de Kathryn Bigelow (vencedora do Oscar por Guerra ao Terror), Detroit em Rebelião faz uma crítica social feroz ao colocar em xeque as ações policiais nas históricas manifestações ocorridas em 1967, onde o racismo possibilitava situações lamentáveis. Com boas atuações de John Boyega (o Finn de Star Wars), Anthony Mackie (o Falcão da Marvel) e, principalmente, Will Poulter (O Regresso), a produção traz todas as qualidades de Bigelow como cineasta, utilizando a estética da câmera na mão e a fotografia crua para criar uma atmosfera densa repleta de tensão e que mantém o público envolvido. Baseado em fatos reais, o longa-metragem comprova que o preconceito racial, infelizmente, continua muito atual e, mesmo que a trama se estenda mais do que deveria, faz de Detroit em Rebelião, um dos melhores e mais relevantes filmes do ano.
7. Logan
A despedida de Hugh Jackman do papel de Wolverine é marcada por uma história triste, melancólica e carregada de intensidade. Com grandes atuações de Jackman e Patrick Stewart (o Professor Xavier), a trama surpreendeu ao narrar um momento delicado da vida dos mutantes. Visivelmente cansado e afetado pelas conseqüências do inevitável envelhecimento (mesmo para um mutante), o protagonista desta vez é apenas Logan, dispensando seu famoso codinome, um sujeito que tem sua rotina abalada pela chegada da jovem mutante Laura (Dafne Keen, impressionante). Mesmo proibido para menores nos Estados Unidos, a produção beneficiou-se da enorme expectativa gerada e quase se pagou somente com sua estréia, fazendo 88 milhões de dólares em três dias (tendo custado 97 milhões). Com 226 milhões em solo norte-americano e um total de 615 milhões de dólares globalmente, Logan foi um enorme sucesso de crítica e público.
6. Monsieur e Madame Adelman
Sucesso de público e aclamado pela Crítica, Monsieur e Madame Adelman foi uma das produções estrangeiras de maior êxito no Brasil. Contando uma história que conquista pela simplicidade, este filme francês investe na emoção para retratar a trajetória nada comum de um casal. Divertido e comovente, tem como um dos seus maiores trunfos sua direção de arte e uma maquiagem competente, além de ótimas atuações.
5. Dunkirk
Amnésia, A Origem e a última trilogia do Batman. Isso para citar somente 3 dos melhores filmes da excepcional carreira do cineasta Christopher Nolan, que depois do questionado Interestelar, retorna com tudo nesse suspense passado na Segunda Guerra Mundial. Com pouquíssimos diálogos, o filme é um verdadeiro espetáculo sensorial que transporta o espectador para dentro da ação, numa trama complexa e dividida em três pontos de vista diferentes. Um primor técnico (Montagem e Som são dignos de Oscar), Dunkirk aproveitou toda a magia do IMAX para entregar uma experiência imersiva e memorável.
4. Mãe!
Caso clássico de “ame ou odeie”, o novo filme de Darren Aronofsky (Cisne Negro, Noé) é também a história mais maluca do ano. Mesmo. Escrito pelo próprio Aronofsky, o roteiro coloca Jennifer Lawrence (Jogos Vorazes), Javier Bardem (007 Contra Spectre), Michelle Pfeiffer (Assassinato no Expresso do Oriente) e Ed Harris (Tempestade: Planeta em Fúria) no papel de signos. Afinal, nesse filme, não há personagens, e sim alegorias, que são trabalhadas por Aronofsky para transmitir uma mensagem acerca da “destruição da natureza” (palavras do próprio cineasta) enquanto algumas das cenas mais insanas do ano vão se acumulando. Pois a trama vai ganhando contornos cada vez mais absurdos, até culminar num terceiro ato alucinante (e chocante). Afinal, “mãe! ” é um filme para quem tem estômago forte e mente aberta. Espere o inesperado.
3. Lady Macbeth
Tematicamente rico, bem escrito e dirigido com disciplina, Lady Macbeth (que não é baseado na obra de Shakespeare) é um deleite do início ao fim. Seja pelas belas atuações ou pela coragem narrativa (que oferece até mesmo um saboroso suspense), Lady Macbeth ousa e, consequentemente, desafia o espectador a rever suas próprias perspectivas. Simplesmente imperdível.
2. O Cidadão Ilustre
Não é de hoje que o Cinema Argentino vem nos brindando com obras dignas de admiração, e O Cidadão Ilustre não foge à regra, mesmo sem a habitual presença do astro Ricardo Darín. Protagonizado pelo competente Oscar Martínez, o filme nos apresenta a uma história que pode sugerir mais de uma interpretação, sempre tratando a Arte com extrema reverência, gerando alguns dos diálogos mais memoráveis do ano. Ao final das contas, mesmo tendo dificuldade para lidar com tantos temas, acaba por oferecer uma perspicaz reflexão.
1. Silêncio
O novo filme do mestre Martin Scorsese traz Andrew Garfield e Adam Driver (O Kylo Ren de Star Wars) em atuações fortes ao lado do sempre competente Liam Neeson (Busca Implacável). Ambientado no século 17, o filme coloca Garfield e Adam como jovens padres portugueses que partem em viagem ao Japão para localizarem um antigo mentor (Neeson), que está em solo nipônico para difundir o catolicismo. Os oficiais japoneses, no entanto, o recebem com hostilidade, torturando e matando os cidadãos locais com inclinação à religião católica, vista com maus olhos pelo governo japonês. Dando uma verdadeira aula de linguagem cinematográfica, Scorsese emprega as 2 horas e 40 minutos com inteligência, aproveitando as belas locações para construir alguns dos mais belos planos de sua carreira, enquanto não se furta de retratar com crueza a realidade da situação e a crueldade dos japoneses.
Menções Honrosas:
Coração e Alma, Mulher-Maravilha, Doentes de Amor, Em Ritmo de Fuga, Z: A Cidade Perdida, Star Wars: Os Últimos Jedi, A Vilã, Patti Cake$, Como Nossos Pais, Assassinato no Expresso do Oriente, O Estranho que Nós Amamos, Guardiões da Galáxia vol. 2, It – A Coisa, Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha, Os Meninos Que Enganavam Nazistas
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Dicas para 2018:
A Festa (The Party), Tschick, The Square – A Arte da Discórdia, Me Chame Pelo Seu Nome, A Forma da Água, Projeto Flórida, Aos Teus Olhos, Em Pedaços, Maudie, O Nome da Morte.
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