Nem chegamos à metade do ano ainda e já estamos diante de mais uma continuação. Como já comentei, vivemos numa era carente de criatividade, onde sequências, adaptações e refilmagens abundam as salas de cinema do mundo todo. Sim, muitas vezes as coisas dão certo e acabamos nos deparando com algo digno de nota. Mas também não são raras as vezes em que assistimos a algo tão execrável que quase chega a insultar. Pois bem, O Caçador e a Rainha do Gelo está longe de ser algo digno de nota, porém, apesar de se tratar da continuação de uma adaptação (ou remake – “Branca de Neve e o Caçador”), não chega a ofender.
Dirigido pelo estreante Cedric Nicolas-Troyan (técnico de efeitos especiais indicado ao Oscar pelo filme anterior), o filme logo inicia com uma animação que já explica tudo o que aconteceu em Branca de Neve e o Caçador, para que espectadores desavisados e/ou desatentos possam entender a trama, uma forma de fazer com que não seja necessário assistir ao sofrível primeiro filme para acompanhar o segundo.
Aqui, a história se divide em duas partes: a que se passa antes dos acontecimentos do longa original e a que os sucede. Com isso,ficamos sabendo que o caçador Eric (Chris Hemsworth, mais canastrão do que nunca) não é aquela pessoa carrancuda e sisuda do primeiro filme, pelo contrário, é romântico a ponto de fazer juras de amor e até mesmo de enfrentar um reino inteiro por sua amada. E se antes Charlize Theron brilhava como a grande vilã Ravenna, nesse filme ela divide sua vilania com Emily Blunt, que encarna a Rainha do Gelo como se estivesse o tempo todo prestes a cantar Let it Go.
Contando com um roteiro que busca abraçar as características dos contos de fada, o filme só aproveita do filme original o que lhe convém: além do caçador e da bruxa Ravenna, a produção parece ter conseguido espaço para dois dos sete anões, dando-lhes o esperado papel de alívio cômico. Recheado de diálogos expositivos e de frases que beiram a áudio-descrição, o script de Evan Spoliotopoulos e Craig Mazin procura evitar o tom do primeiro filme e investir numa história mais tradicional e descompromissada, resultando numa aventura previsível, inofensiva, mas também leve e descontraída.
O diretor Cedric Nicolas-Troyan, ao invés de se preocupar em conferir energia às cenas de combate, prefere destacar os consagrados ótimos efeitos visuais da franquia, nos apresentando a cenas artificiais e que beiram o exibicionismo, como no instante em que deixa de concentrar o foco em Emily Blunt para perder preciosos segundos mostrando todos os detalhes de um urso polar totalmente gerado por computação gráfica.
Os ótimos efeitos visuais, aliás, embora agreguem valor à produção, não acabam contribuindo tanto para as seqüências de ação, algo curioso se compararmos com o filme original. E por falar nelas, apesar de reconhecer que são todas bem coreografadas Troyan raramente nos apresenta a algo realmente empolgante.
O elenco novamente acaba tendo em Charlize Theron seu grande destaque. A atriz sul-africana assume sua (super) vilania com entrega total, com direito a gargalhadas malignas e tudo o mais. Jessica Chastain usa todo seu talento e carisma para ir um pouco além do típico papel de interesse amoroso, ao passo que Emily Blunt surge como uma espécie de versão live-action da Elsa de Frozen.
O Caçador e a Rainha do Gelo termina como um típico conto de fadas disfarçado de aventura, e que se esforça como pode para driblar uma direção frouxa e um roteiro previsível. O resultado é um filme leve, descompromissado e cujas quase duas horas de projeção não deverão lhe fazer pedir seu dinheiro de volta.
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As chances de assitir esse filme eram de 1%. Com esta crítica, as chances caíram para incríveis 0,1%.