Ao olhar para o pôster de No Olho do Furacão (e nem precisa ser com muita atenção), é possível ter todas as informaçõesNo Olho do Furacão necessárias sobre a produção: Como a própria chamada indica, é um filme “do mesmo diretor de Velozes e Furiosos” (o primeiro) sobre um assalto que ocorre durante uma colossal tempestade (no caso, um furacão). Se você imaginou um hipotético Velozes e Furiosos durante um furacão, já pode esquecer o “hipotético”, pois isso define perfeitamente No Olho do Furacão.

Como você ficou sem munição?
Eu atirei todas as balas.

Dividindo a trama em três núcleos diferentes, o roteiro acompanha um grupo de assaltantes que resolve colocar em prática um audacioso plano para roubar o Tesouro Americano, aproveitando o toque de recolher imposto pela iminente chegada de uma violenta tormenta. O problema é que a abertura do cofre é uma tarefa que só uma agente do governo é capaz de fazer, e ela está indo atrás do chefe de uma empresa capaz de consertar um equipamento interno, numa mera desculpa para uní-la ao terceiro e último núcleo do filme, onde um meteorologista busca evidências para comprovar que a tempestade é, na verdade, um furacão. Só que nesse ínterim, o irmão do tal meteorologista acaba sendo feito refém pelos assaltantes e ele, com a ajuda da agente, deverão impedir que o pior aconteça.

Sem o menor esmero, o roteiro de Jeff Dixon (estreante em longas-metragens) e Scott Windhauser (Cops and Robbers) escancara que esse fiapo de história visa apenas viabilizar algumas sequências de ação, “especialidade” do experiente diretor Rob Cohen, cujo currículo inclui Coração de Dragão, Daylight, Triplo X e o supracitado Velozes e Furiosos. Mas a verdade é que Cohen não parece trabalhar em sintonia com os roteiristas, demonstrando uma preocupante falta de imaginação, por exemplo, na utilização do furacão como fonte de inspiração para potenciais set-pieces. Infelizmente, a tormenta parece existir, apenas, para livrar os mocinhos de situações de perigo ou para justificar o dinheiro gasto em efeitos visuais, em cenas no melhor estilo “destruction porn”.

Além dessa subutilização, o filme perde a verossimilhança de vista ao isolar uma cidade pequena e ignorar autoridades, bombeiros, ambulâncias e esquecer, até mesmo, dos tradicionais cientistas que frequentemente dão as caras em filmes-catástrofe. E já que citei a verossimilhança, se o absurdo costuma ser bem utilizado em filmes de ação, aqui até rende alguns bons momentos, mas o potencial desperdiçado fica evidente a cada tomada. Para piorar, o elenco também não ajuda muito…

Toby Kebbel (do mais recente Quarteto Fantástico), por exemplo, surge no piloto automático, investindo em caretas que às vezes até fazem parecer que o ator está sofrendo de arrependimento por ter aceito o papel, ao passo que a pouco expressiva Maggie Grace (a filha sequestrada de Busca Implacável) nem faz questão de fugir do estereótipo de oficial durona, exibindo também uma vaidade que impede que sua personagem sequer desmanche o penteado. Enquanto isso, o bom Ralph Ineson (A Bruxa) pouco pode fazer para escapar da caricatura que é o seu vilão. 

Contando com diálogos dolorosos do início ao fim (como aquele que abre este texto), o filme em nenhum momento aparenta ter a intenção de fugir de sua natureza (com o perdão do trocadilho). Entregando exatamente aquilo que se espera, No Olho do Furacão tem toda a cara de uma daquelas produções do canal pago SyFy, escapando do trash graças à tola seriedade com que a narrativa é conduzida e por alguns bons momentos evidenciados pela montagem correta e pelos razoáveis efeitos visuais. Ao menos na emissora de Sharknado, os trashes são mais honestos e divertidos…

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Crítico de Cinema e Carioca. Apaixonado pela Sétima Arte, mas também aprecia uma boa música, faz maratona de séries, devora livros, e acompanha futebol. Meryl Streep e Arroz são paixões à parte...

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