Espaço que aposta na diversão, na interatividade multimídia e dedicado à paixão nacional, mostra também que o futebol faz parte da cultura do país

Seja qual for o campo: gramado, terra, cimento ou areia, ele sempre é um grande acontecimento. Nas transmissões por rádio ou televisão, nos jornais, nos álbuns de figurinhas, nas camisetas ou numa conversa de bar, o futebol é o mais celebrado no país.

Os melhores momentos e um grande acervo sobre o tema podem ser conferidos nas 15 salas que somam mais de 1400 fotografias, 6 horas de vídeo e muita interatividade que compõem o Museu do Futebol. Cada ambiente proporciona ao visitante um tipo de experiência diferente: uma viagem emocionante, lúdica e com muito conteúdo.

Estádio Paulo Machado de Carvalho – Pacaembu

Mais do que contar a história do futebol no único país pentacampeão e sua cultura, o Museu apresenta de uma maneira diferente momentos marcantes do esporte. Junto com flâmulas, símbolos, brasões, camisetas e bolas é o digital que faz a diferença. O uso da tecnologia propicia recuperar sons e imagens da era de ouro do futebol brasileiro. Resgata ídolos, narradores e muitos gols eternizados pelos brasileiros.

Visitar o Museu do Futebol é percorrer o Brasil do século XX e perceber como nossos usos, costumes e comportamentos são inseparáveis da trajetória desse esporte. O futebol tem o encanto de abrir nossos olhos para valiosas questões da história.

O espaço tem como curador o jornalista Leonel Kaz, criador da Exposição Pelé, montada no Masp em 2001, e editor do livro “Brasil – Um século de futebol, arte e magia” (Aprazível Edições). A expografia está a cargo da dupla Daniela Thomas e Felipe Tassara.

Marcas do Rei

Leonel ressalta que no local há bem mais que história de clubes e jogadores. “No Museu oferecemos um contexto sociocultural e político de cada época e copa”, assinala o curador, prosseguindo: “estamos orgulhosos de poder contribuir para despertar a memória coletiva sobre um esporte que faz parte de nossa história. O Museu do Futebol eterniza momentos de grande valor para os brasileiros, amantes ou não do futebol”.

O espaço fica embaixo das arquibancadas do Estádio do Pacaembu, em São Paulo, e ocupa uma área total de 6,9 mil metros quadrados. É uma iniciativa do Governo do Estado e da Prefeitura de São Paulo, com concepção da Fundação Roberto Marinho e apoio da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura e de empresas privadas.

Acessibilidade

Classificado com o museu de terceira geração, o espaço combina diversas mídias para contar como o Brasil transformou o futebol. Além disso, é o primeiro museu no país com programa especialmente desenvolvido para portadores de deficiência. “Não são apenas rampas e elevadores. Temos espaços em que o portador de deficiência vai poder realmente ter uma síntese do que é o museu”, afirmou Hugo Barreto, secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, responsável pela concepção e realização do museu.

Para os deficientes visuais, por exemplo, as salas contam com piso “podotátil”, semelhante ao da calçada da Avenida Paulista. Já na sala com as bolas de futebol gigantes, há uma diferenciação de temperatura quando o visitante estiver dentro da bola. Além disso, os ambientes têm guias de áudio escritos por pessoas portadores de deficiências visuais e auditivas.

Entrada Bandeiras

Uma viagem ao universo da bola

O passeio é feito de forma lúdica, por meio de experiências em torno de ciências e números que o futebol exibe, assim como divertidos jogos interativos. O museu está divido em três grandes setores temáticos: história, emoção e diversão.

Camisas, flâmulas, bandeiras, postêres etc, são todos símbolos de amor aos clubes

Logo na entrada, num grande telão, o atleta do século – o Rei Pelé – nos contempla com boas-vindas em 3 idiomas (português, inglês e espanhol). É o pontapé inicial para a nossa viagem.

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A primeira parada é uma homenagem ao torcedor, cuja ligação com o futebol talvez não passe de mera curiosidade. Camisas, flâmulas, bandeiras, postêres etc, são todos símbolos de amor aos clubes. Ao subir ao primeiro andar, encontramos o setor  na Bola. Nesta área, uma sequência de televisões traz imagens em close de ágeis pés que fazem malabarismos na pelada, passando por campinhos e estádios, numa bela exibição da criatividade e destreza.

Anjos Barrocos são os deuses, heróis ou ídolos de várias gerações de torcedores que agora aparecem pelo caminho. Os 24 criadores do futebol-arte como Tostão, Gerson, Djalma Santos, entre outros, podem ser vistos como anjos cujas asas os transportam pelo espaço até a catedral onde se cultuam a inventiva, a poética e a magia do jogo.

Os deuses, heróis ou ídolos de várias gerações de torcedores que agora aparecem pelo caminho

Uma paisagem futurística é a nossa próxima parada. Uma grande nave azulada é o elo para revermos os mais importantes gols da história do futebol brasileiro, com depoimentos de personalidades. Que tal ouvir um gol de Leônicas narrado por Geraldo José de Almeida ou por Osmar Santos ou Fiori Gigliotti quatro décadas depois? No espaço Rádios isso é possível. Lá é feita uma homenagem àqueles que alegraram as transmissões e ao sistema que ajudou a unir o país e o coração dos torcedores. Alguns dos gols estão disponíveis para download por meio de bluetooth.

Clique nas imagens para ouvir as transmissões

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Ronaldinho Gaúcho

 

Atividades lúdicas e interativas são exploradas ao máximo na Sala Jogo de Corpo, provocando grandes sensações. A área reúne um filme 3D com o jogador Ronaldinho Gaúcho como protagonista. Podemos acompanhar o esqueleto virtual do jogador se movimentar em três dimensões com o auxílio de óculos especiais e se transformar na imagem do craque que nos contempla com suas embaixadinhas.

Bola Virtual e Chute a gol

Que tal bater uma bolinha? Isto é possível! Tanto na área da Bola Virtual – softwares de tecnologia alemã projetam um campo de futebol e bola por meio de iluminação infravermelha –, quanto no Chute a Gol – cobrar um pênalti, diante de um goleiro virtual e, ainda, ter a velocidade e a potência do chute avaliadas na hora por um programa de computador.

A explosão num gol e o agito da torcida é o destaque da área Exaltação, no segundo andar. Aqui é possível compartilhar da alegria e da paixão de várias torcidas.

Origens traça uma linha do tempo a partir do final do século XIX

No lado oposto, entramos na sala Origens, que traça uma linha do tempo a partir do final do século XIX, com a chegada de Charles Miller e a primeira bola de futebol. São 431 fotos que exaltam a saga do nosso futebol e como a fusão étnica deu sentido, jeito de ser e a “ginga” ao esporte.

Passo-a-passo os batimentos cardíacos sobem, aumentando a emoção.

Ídolos da cultura brasileira

Chegamos agora ao espaço Heróis. A cada troca de imagens projetadas num prisma, vemos os ídolos da cultura brasileira, como o poeta Carlos Drummond de Andrade, o maestro Villa-Lobos, o compositor Ary Barroso, que influenciados pelo futebol de Leônidas da Silva, Domingos da Guia e outros mostram que este esporte influenciou as mais diversas manifestações culturais, até as mais eruditas.

Rito de Passagem

Ao som das batidas rítmicas de milhares de corações, alcançamos o Rito de Passagem. Uma área escura e triste que apresenta a maior desilusão do esporte canarinho, a derrota da seleção brasileira para a do Uruguai no final da Copa de 50, no Maracanã. Quadro-a-quadro as imagens do jogo final são projetadas, de repente a bola está dentro do gol! Lentamente o goleiro Barbosa se levanta sem entender o que está acontecendo…

Sala das Copas

Mas ao chegarmos a Sala das Copas, o brio do brasileiro florece. O Brasil é único a participar de todas as Copas do Mundo e, também, o único a ganhar a taça por cinco vezes. Assistimos aos momentos mais marcantes das competições mundiais, muitas das quais saímos vencedores. Totens no formato de taça com fotos e vídeos mostram a moda, a música, os acontecimentos políticos, as transformações sociais e as derrotas e vitórias do escrete brasileiro em cada período.

Experiencia Pele Garrincha

Dedicada à parceria que nunca perdeu uma partida pela seleção, encontramos a Sala Experiência Pelé – Garrincha. Diferentes em quase tudo – estilo de jogo, personalidade, modo de viver – os dois igualam-se como artistas. É possívela ssistir à seis minutos de imagens, dedicadas a cada um dos atletas, revelando a genialidade dos craques dentro das quatro linhas.

Visão do Estádio e de Jogo

Passarela Praca Charles Muller

Para alcançarmos a outra ala do Museu, caminhamos sobre uma passarela. Nela é possível descansar e admirar a vista da Praça Charles Miller. Suspensa por tirantes, a passarela de madeira parece flutuar por trás do pórtico monumental do Estádio do Pacaembu.

Sala dos Numeros e Curiosidades

Placas gigantes, super coloridas, apresentam em linguagem de almanaque a Sala dos Números e Curiosidades. Um trajeto recheado de dados, táticas, datas, estatísticas, histórias e superstição não poderia deixar de ser retratado no futebol. Entre os temas das placas, estão apelidos de jogadores, recordes, placares curiosos de jogos e regras do futebol. A sala reúne brincadeiras interativas (O que você faria se fosse o árbitro?) e nostálgicas (bolas, chuteiras e uniformes de todas as épocas).

Visao panoramica

Ao sair da Sala dos Números e Curiosidades, somos convidados a uma visão panorâmica do Estádio do Pacaembu, em meio às arquibancadas. Essa parada funciona como contraponto à visão da Praça Charles Miller, obtida da passarela que conecta a Ala Oeste à Ala Leste do segundo andar.

Sala da Danca do Futebol

Já a Sala da Dança do Futebol, representada porbolas gigantes, é o lugar certo para revermos alguns dos gestos e movimentos que fazem da malícia do futebol um espetáculo deslumbrante. Por trás da emoção de um gol, de um drible, do arrojo de uma defesa, da luta por uma bola dividida, ouvimos crônicas de comentaristas como Juca Kfouri, Marcelo Duarte, João Máximo, entre outros.

Tocando a bola

A maioria do acervo do Museu do Futebol foi doada por clubes, personalidades e órgãos de imprensa. É um museu sem relíquias, que aposta na diversão e na interatividade multimídia. A inauguração conta também como parte das comemorações pelos 50 anos da conquista do primeiro Mundial da seleção brasileira, em 1958, em gramados da Suécia. Veja o que dizem personalidades que aprovaram e acreditam que o museu é uma grande “bola dentro”: 

Para o ex-palmeirense Ademir da Guia, o museu é o espaço para coroar o futebol brasileiro. “A escolha do local – Pacaembu – não poderia ser melhor… Aqui eu vi meus ídolos de infância jogarem (Zizinho, Barbosa, Nilton Santos…), fiz gols e venci inúmeras vezes”, afirma.

Já o ex-corinthiano Biro-Biro tem grandes recordações do Pacaembu. Lembra de gols feitos em jogos importantes, com o estádio lotado e a torcida gritando seu nome. Com relação ao museu diz: “é um projeto singular. A população tem a oportunidade de conhecer e recordar os grandes craques que fizeram história pelos grama dos brasileiros”.

O tetracampeão e são-paulino Raí salienta que o Museu do Futebol apresenta o esporte contextualizando com a cultura. “O acesso a informação, a tecnologia e aos fatos históricos de cada época, privilegia o futebol e os brasileiros. É muito gratificante ter feito parte dessa história como atleta e cidadão”, diz orgulhoso.

Serviço
Museu do Futebol
Estádio Paulo Machado de Carvalho – Pacaembu
Praça Charles Miller, s/n° – Pacaembu – São Paulo
O horário de funcionamento é de terça-feira a domingo, das 9 às 17h, os ingressos custam R$ 6,00 (adultos) e R$ 3,00 (estudantes e terceira idade). Em dias de jogos, o museu não é aberto para visitação.
Saiba mais em www.museudofutebol.org.br

 

Author

Jornalista, editor, fotógrafo e escritor que ama viajar, música, pessoas e a vida sustentável.

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