Confesso que o nome do filme já dá margem para alguns homens, sem cérebro, largarem uma piadinha e todo meu ladoMulheres Alteradas feminista vir á tona. Mas que bom que Mulheres Alteradas já vem com uma bula para o espectador no cinema.

O filme do diretor Luís Pinheiro que está estreando como diretor num longa metragem já traz no início a primeira prescrição:

“Mulher alterada não é louca, é uma pessoa que está mudando “

Assim o título me conquista, pois, alterada não é histriônica ou louca como grande parte machista taxam as mulheres, mas nos vemos na tela sendo retratadas de forma forte e com nossas fragilidades e lidando com nossas crises.  Li, que este filme, retrata a crise de mulheres de 30 e discordo, pois, ela retrata crises que toda mulher pode ter em diferentes idades e inúmeras vezes e isso pode ser transformador.

A crise pode ser transformadora.

Comédias não são o forte do cinema brasileiro e principalmente os que vêm da safra Globo Filmes, mas eles sabem fazer cinemas para família e de riso “fácil “, além de explorar bem a imagem dos artistas da sua emissora.

Aqui temos 4 atrizes com trajetórias diferentes e que têm destaque com seus trabalhos artísticos, além de que são “exemplos” de empoderamento, posições fortes e serem lindas.

4 mulheres (Marinatti, keka, Leandra e Sônia) personificadas por Alessandra Negrini, Deborah Secco, Maria Casadevall e Mônica Iozzi. Cada uma apresenta crises diferentes: no trabalho, no casamento, na vida social e na maternidade.  Então é quase impossível uma mulher não se identificar em algum momento com estas histórias.

O mais interessante é que estas personagens se ajudam entre si. Não há disputas, mas vemos e temos um incentivo que mulheres “unidas” e incentivadoras uma das outras pode ser muito mais interessante.

E é.

Marinatti (Negrini) é o carro chefe do filme, juntamente a Keka (Secco). Por sinal estas personagens (juntamente Sônia e Leandra) saíram dos HQS da escritora argentina Mailena Burundarena conhecida por retratar muito bem e de forma leve e engraçada as situações que todas mulheres passam. A gente tem a sensação, durante o filme, que ainda vamos viver, passar e enfrentar situações como destas 4 mulheres.  O livro é um sucesso e bem popular, logo esteja preparado para um filme comercial, mas não panfletário.

Não é um filme feminista só porque fala de mulher. Por sinal, Luís Pinheiro escolheu muito bem seu elenco feminino, mesmo que eu ache que o elenco seja melhor que o roteiro. O grande trunfo e diferencial de Mulheres Alteradas é que as protagonistas deste filme são mulheres, o que sabemos que não é o habitual.

Além de o momento ser propício para debatermos sobre o feminismo, a abertura de espaço para mulheres no cinema e o quanto pode ser empolgante quando mulheres decidem dar um basta, uma transformação radical ou quando enxergamos o real embuste que enganava muito bem de príncipe encantado.

O roteiro tem soluções previsíveis, piadas de riso fácil e ele piora quando algumas atrizes reforçam a sua fragilidade em palavras e ações com uma atuação exagerada e forçada.  Fiquei em dúvida se o diretor pediu que Alessandra e Deborah fizessem uma atuação mais caricata e over, enquanto Mônica e Maria seguem numa atuação comedida e mais real (o que ao meu gosto agrada mais), mas também não sei se estas duas últimas citadas seguram um filme que necessita um ritmo de atuação frenético e que provoque o riso.

Tanto Alessandra Negrini e Deborah Secco parecem ter ido numa linha dos quadrinhos e um Almodóvar abrasileirado bem mais ou menos. Senti falta de me ver representada na tela (mulher normal, sem roupas sexies ou a la “Sexy and the city” e bem-sucedidas financeiramente).

Falta pluralidade, uma mulher que não se encaixa nos padrões estéticos ditados, algo mais palpável (o que talvez veja em Sônia). Mas acredito que não foi a estética que a direção procurou.

Voltando as atuações que não têm uma uniformidade. Isso seria uma escolha proposital de direção ou o diretor que não soube conduzir?

Mas a direção acerta na escolha técnica do filme. A montagem de Ricardo Gonçalves é precisa nos cortes e traz essa dinâmica interessante que Luís propõe. A direção de arte é deliciosa de ser vista com ótimas escolhas de cores, locações e uso do espaço. A fotografia é bem marcante e a iluminação é usada de uma forma que não costumamos ver no cinema nacional e com uso de filtros que ajudam na narração das histórias.  A luz é um outro personagem que ajuda nas atuações.

Ponto positivo para a trilha sonora que traz uma música dos Mutantes interpretada por Tulipa Ruiz e MC Carol. Os efeitos sonoros e a inserção de trilhas instrumentais trazem um clima divertido e às vezes brega na cena, o que pode arrancar um sorrisinho.

Não farei o spoiler do roteiro óbvio que nos é apresentado, mas já questiono porque no filme a felicidade no amor e no trabalho são impossíveis de terem êxito juntamente? Seria a realidade ou a visão do roteirista ou a própria adaptação da obra da cartunista argentina?

Pelo menos o roteiro traz que o casamento pode nem sempre ser o caminho da felicidade da mulher e que a maternidade não é um comercial de fraldas fofas e do dia das mães.  Mas todas estas crises são parte das nossas escolhas e podem ser em algum momento prazerosas.

Mesmo que esse filme não agrade a algumas mulheres, fica a lição de que podemos ser alteradas e não no sentido negativo, mas uma alteração que leve para uma modificação pessoal, um amadurecimento e que tudo seja um constante aprendizado.

Marinatti solta a seguinte frase:

“Quer saber o segredo do sucesso? Não se apaixone nunca”

E eu teria como sugestão que a frase fosse:

“Quer saber o segredo do sucesso? Primeiro se apaixone por você.”

Author

Atriz há 16 anos, apaixonada por cinema. Filha do gerente do ex-cinema Marrocos.

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