Nunca foi segredo que a franquia Maze Runner era mais uma típica adaptação literária que buscava o sucesso de Jogos Vorazes, utilizando-se de uma estrutura que colocava um(a) jovem como a última esperança em um universo distópico.
Pois diferente da estupidez de Divergente (e suas patéticas continuações) e da pieguice redundante de A Quinta Onda, Maze Runner nunca subestimou seu espectador, pelo contrário, já que nunca fingiu ser algo além do que era: uma aventura juvenil sem grandes ambições e cujo principal objetivo era entreter o público adolescente. E foi, de fato, a única franquia sobrevivente, entregando sempre filmes conscientes de suas limitações, mas competentes em seus esforços. Hoje, depois de dois bons longas, a série chega ao fim, sem grande estardalhaço, mas novamente cumprindo o que promete.
Dirigido novamente por Wes Ball (que também comandou os antecessores), a trama já começa em plena ação, num prólogo que coloca o herói Thomas (Dylan O’Brien) liderando seus amigos num audacioso plano para resgatar Minho (Ki Hong Lee), que está preso num trem rumo ao quartel-general da maléfica CRUEL (essas denominações…), que segue utilizando jovens na tentativa de produzir uma cura para o terrível vírus que assola o planeta.
Mantendo a coerência (palavra-chave do projeto) ao continuar sem demonstrar o menor interesse em dimensionar a escala do vírus, Ball conduz a ação com o mesmo pulso firme de antes, fazendo o dever de casa ao investir em soluções variadas para segurar a atenção do espectador sem sacrificar o ritmo; sendo assim, a câmera na mão é utilizada em abundância, assim como os planos aéreos que aqui, servem tanto para mostrar o estado atual do mundo (resumido num amontoado de ruínas), como para estabelecer a geografia de cena, permitindo que o espectador compreenda a lógica da ação sem ter de recorrer a cortes frenéticos.
Isso não impede que os decentes efeitos visuais sejam contemplados em sua plenitude, destacando-se os elogiáveis planos que destacam as ruínas ao longo do vasto deserto que se tornou o cenário e também aqueles em que vemos toda a opulência da “Última Cidade”, que é concebida como uma versão mais light (ou barata) daquela vista em Blade Runner, numa mistura que, curiosamente, não deixa de ecoar nossa atualidade real.
O design de produção, aliás, segue o padrão da franquia, não assumindo riscos e entregando trabalhos suficientemente satisfatórios, o que é corroborado pela boa fotografia da húngara Gyula Pados (A Duquesa) que aplica a tradicional oposição entre o azul e o laranja para compor a paleta de cores, reservando as cores quentes para as sequências do mundo exterior e as frias para aquelas que se passam na seda da CRUEL. Além disso, o compositor John Paesano (das séries ‘Demolidor’ e ‘Os Defensores’) finalmente conclui sua transformação numa versão alternativa de Hans Zimmer, usando seus tradicionais acordes graves junto de elementos eletrônicos para acompanhar a história.
O roteiro de Wes Ball, por sua vez, segue fielmente uma estrutura clássica que deverá despertar um dejá vu a cada 20 minutos no público, o que não chega a ser um ponto essencialmente negativo, já que o diretor-roteirista, embora adepto das convenções, as utiliza de forma orgânica e, consequentemente, correta. Há um preço a se pagar, evidentemente, e ele chega na forma de uma trama previsível e com pequenas reviravoltas que serão captadas sem dificuldades por quem estiver atento.
Ball, em contrapartida, tenta distrair seu espectador com uma avalanche de sequências de ação, conferindo energia até mesmo numa singela conversa num elevador. O que não justifica a insistência do diretor em retratar os soldados da CRUEL como um bando de palermas incapazes de acertar um único tiro a poucos metros do alvo, isso para não mencionar a facilidade com que é possível enganá-los, visto que basta utilizar uma farda para ludibriá-los.
Já Dylan O’Brien (do mediano O Assassino: O Primeiro Alvo), comprova mais uma vez ser carismático o bastante para liderar a franquia, mas este capítulo, em especial, lhe exige uma carga dramática adicional que jamais é entregue pelo ator, falhando pontualmente em momentos mais emotivos ao demonstrar uma lamentável inexpressividade, o que é parcialmente compensado pela vontade com que se entrega nas várias sequências de ação.
E se a competente Kaya Scodelario vai pelo mesmo caminho, o antagonista (com “v” maiúsculo) vivido pelo irlandês Aidan Gillen (o Mindinho de Game of Thrones) acaba convencendo pela vilania aparentemente sem limites, já que, mesmo que Gillen exagere nos sorrisos debochados, suas atitudes terminam falando mais alto. Com participações menores, mas eficientes, Barry Pepper e Giancarlo Esposito têm mais sorte que a veterana Patricia Clarkson (do inédito e excepcional ‘A Festa’), que mais uma vez é desperdiçada pela série.
Concluindo sua história com um clímax explosivo, Maze Runner – A Cura Mortal ainda reserva algumas boas emoções ao seu terceiro ato, principalmente ao ilustrar uma comovente e arrebatadora prova de amizade, mostrando que também há um forte componente emocional em meio a tantas explosões, o que nos leva à lógica constatação de que a franquia Maze Runner pode não chegar aos pés de Jogos Vorazes, mas merece elogios por trilhar um caminho próprio sem jamais esquecer dos fãs, proporcionando um final satisfatório e que, me permitindo a audácia, se mostra muito mais fiel ao seu protagonista do que a história de Katniss Everdeen. E isso, por si só, já é um baita elogio.
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