Vultos misteriosos que cruzam a tela, espelhos que revelam criaturas obscuras, portas entreabertas com algo sobrenatural surgindo, trilha sonora que sobe o volume… São tantos clichês que fica difícil não encarar A Maldição da Casa Winchester como o que realmente é: uma colcha de retalhos que aproveita uma trama baseada numa história supostamente real e que tenta provocar o susto a qualquer custo, nem que para isso precise recorrer a todos os artifícios supracitados e que já se encontram obsoletos há décadas.
Escrito por Tom Vaughan e reescrito pelos irmãos Peter e Michael Spierig (conhecidos pelo bom ‘O Predestinado’), o roteiro situa a história em 1906 quando o terapeuta Eric Price (Jason Clarke) é contratado para examinar o estado mental da Sra. Winchester (Helen Mirren), proprietária da lendária fabricante de armas, mas que atualmente vive reclusa numa colossal mansão, enquanto afirma estar em contato com espíritos. Claro que no meio disso tudo, o roteiro ainda encontra espaço para tecer uma óbvia crítica às armas, utilizando o mote dos espíritos para embasar um desajeitado argumento anti-belicista que basicamente coloca um personagem avesso a elas, utilizando-as para sobreviver.
Já partindo de uma premissa nada original, a produção tenta passar alguma credibilidade através de seu elenco, que é liderado por um esforçado Jason Clarke, mas que sofre com uma Helen Mirren atuando em piloto automático, o que acaba se revelando um grande problema, já que a vencedora do Oscar é o carro-chefe do projeto. Investindo numa composição monocórdica desde o início, Mirren mescla algumas características de suas personagens anteriores para transformar a Sra. Winchester numa figura serena, honesta e firme em suas atitudes, mas embora jamais desacreditemos de suas alegações, momentos ridículos como aqueles em que ela tenta se comunicar com um fantasma, sabotam qualquer hipótese de levarmos suas ações a sério.
Para piorar, o clímax do filme é um completo desapontamento, onde os personagens são espalhados pela imensa construção e cujos motivos oscilam entre o tolo e o patético. Além disso, colocar uma criança para cantar uma melodia suave é um recurso não só batido, como rasteiro, falhando miseravelmente em seu propósito (amedrontar). E o que dizer de uma cena específica em que um personagem tem a chance de matar outro, mas prefere concentrar seus esforços num terceiro, mesmo estando com várias armas engatilhadas e apontadas para o primeiro?
Pois “plausível” é um adjetivo que pode (e deve) facilmente ser substituído por “previsível”, já que os irmãos Spierig não demonstram a menor habilidade em surpreender o espectador. Seja através dos antecipáveis jump scares ou das insossas reviravoltas, os cineastas comprovam que são muito melhores na construção da atmosfera, que, verdade seja dita, é o que de melhor o longa-metragem tem a oferecer. Para isso, o ótimo design de produção de Matthew Putland (também de ‘O Predestinado’) é fundamental, já que os sofisticados cenários vitorianos são sempre vistos com distanciamento e enfatizando a opulência opressiva que representam e que, neste caso específico, também ganham a ajuda da fotografia de Ben Nott (do último ‘Jogos Mortais’), competente na escolha sombria da bela paleta de cores, mas burocrático na composição dos planos.
Contando com uma trilha sonora que parece existir apenas para (tentar) provocar sustos ou intensificar o clima incômodo, “A Maldição da Casa Winchester” é um horror que será lembrado muito mais pela sua ambientação do que pela sua capacidade de amedrontar os espectadores. E isso, não chega nem perto de ser suficiente.
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