O dia do casamento é sempre tenso, principalmente para a noiva. São tantas variáveis a serem tratadas que nem mesmo um computador poderia calcular. Foi com esse pensamento que Luciana levantou da sua cama. Durante o café da manhã ela fez vários telefonemas para confirmar se tudo estava no cronograma. O último deles foi para sua mãe, que já estava no caminho para buscá-la. Afinal, Luciana teria o seu dia da noiva.
Leonardo acordou cedo também, olhou para a foto ao lado de sua cama onde ele e Luciana faziam parte de um cenário paradisíaco. Ele sorriu e pensou o quanto amava a sua noiva. O rapaz também fez alguns telefonemas, mas foram para seus amigos. Eles iriam a uma partida de futebol na qual Leo, como era chamado pelos amigos, jogaria pela última vez no time dos solteiros. Na verdade, seria o último jogo do rapaz independente do time que jogava.
O dia foi tranquilo para o casal de noivos. Tudo estava sob controle e a cerimônia seria perfeita. Enquanto se arrumava, Luciana recebeu a visita de sua avó. Uma tragédia havia ocorrido com Dona Lurdes na noite de núpcias e seu marido não sobrevivera. Mesmo depois de anos, o caso nunca fora totalmente esclarecido.
– Minha neta querida, como você está linda! Seu pai vai ficar orgulhoso de entrar com você na igreja – disse Dona Lurdes enquanto segurava o rosto de Luciana com ambas as mãos, uma de cada lado.
– Obrigada, vovó, estou tão feliz! – respondeu a noiva com muita emoção na voz.
– Nada de choro! Uma noiva tem que sorrir durante toda a cerimônia e mostrar a todos o tamanho da sua felicidade – completou a vovó enquanto pegava algo na bolsa.
Dona Lurdes entregou para Luciana um anel. Havia uma pedra de diamante e detalhes em ouro branco ao redor. Havia algo que parecia uma escrita antiga e esse detalhe o deixava ainda mais charmoso. Ela explicou que aquele anel passava de geração para geração da família e que todas usavam no dia do casamento e depois o entregavam para a mãe. Luciana agradeceu, elogiou o anel e viu que pelo lado de dentro havia algo gravado.
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– Nossa, serviu direitinho no meu dedo. Minha mãe usou? – perguntou Luciana.
– Sim, minha querida, todas da família usaram – respondeu Dona Lurdes.
Luciana ia perguntar sobre os números dentro do anel no momento em que sua mãe entrou na sala. As três ficaram conversando sobre ajustes no vestido, maquiagem, flores e tudo mais sobre a festa. A noiva esqueceu.
***
A cerimônia foi um sucesso, de acordo com os convidados, e os noivos, agora recém-casados, partiram em seu carro puxando latas pela estrada. No quarto do hotel, a noite foi realmente longa, não que eles nunca tivessem consumado o ato, mas seria a primeira noite depois de casados.
Exausto, Leonardo estava deitado na cama enquanto ouvia o som do chuveiro. Era Luciana tomando banho. Ele estava quase pegando no sono quando a porta do banheiro se abriu. Era sua esposa, que não estava totalmente nua pelo fato de estar usando somente o véu do seu vestido de noiva. O corpo perfeito da jovem esposa, ainda molhado do chuveiro, que ficara ligado, deixou o rapaz em ponto de bala novamente. Luciana praticamente saltou sobre seu marido. E fizeram sexo loucamente. Depois de alguns minutos, Leonardo já estava chegando ao êxtase, mas sua linda esposa o agarrou pelo pescoço e disse para que ele segurasse. As mãos da jovem começaram a apertar até que Leonardo ficasse sem fôlego. Ele tentou se virar para tirar sua esposa de cima, mas agora alguma coisa começava a furar sua pele. As unhas de Luciana cresceram e ela começou a descer as mãos arranhando também o peito do rapaz, que começou a sangrar. Ele não conseguia gritar e viu que os olhos da sua mulher estavam totalmente negros. Lágrimas de sangue escorriam deles. Ela se aproximou de seu rosto, como se fosse lhe dar um beijo. Leonardo viu que todos os dentes de Luciana estavam pontiagudos e afiados, e, então, sentiu a mordida. O sangue quente escorrendo pelo seu pescoço foi a ultima sensação que teve, e o corpo perfeito de sua esposa banhado de sangue, a última imagem.
Luciana fechou o chuveiro depois de quase trinta minutos. Ao voltar para o quarto, enrolada na toalha, soltou um grito de horror capaz de acordar a todos naquele hotel.
***
Todos saíam da missa de um mês de morte de Leonardo. Luciana usava um sobretudo preto e um par de óculos escuros que cobriam todo seu lindo rosto, agora inchado de tanto chorar. A moça foi em direção a sua mãe. Elas se abraçaram e caminharam até o carro. No caminho Luciana começou a rápida conversa:
– Mamãe, preciso lhe entregar isto – disse, no mesmo instante em que entregava o anel para ela.
Sua mãe pegou o anel e fez o gesto para entregar para Dona Lurdes, que estava no banco de trás do carro. A vovó Lurdes, como diria Luciana, recusou e disse para sua filha que ela sabia muito bem o que fazer.
– Tenho outra notícia para dar – disse Luciana com um pequeno sorriso no rosto – Eu estou grávida! – concluiu.
– Que ótima notícia, filha! – disse a mãe enquanto olhava para a parte de dentro do anel – Tomara que seja uma menina – completou.
Houve um silêncio profundo dentro do carro, parado no semáforo vermelho. A mãe de Luciana continuava a olhar para o anel e viu o que estava gravado…
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