O sucesso de Jack Reacher: O Último Tiro foi uma grata surpresa em 2015, pois era um filme com características que o colocariam facilmente entre aquelas produções que são lançadas diretamente em DVD ou Streaming (ou seja, sequer chegam aos cinemas).
Afinal, as limitações eram evidentes na tela e o orçamento menos robusto era um forte sintoma para seus problemas. Mas o fato de ter atraído a atenção de Tom Cruise, transformou o projeto, que conseguiu superar suas falhas graças ao comprometimento e a intensidade de um dos astros mais prolíficos da Hollywood recente.
E ainda que o retorno financeiro não tenha sido dos mais acachapantes (ainda mais se comparado a outros filmes de Cruise), o anúncio dessa continuação já era esperado, devido ao esforço do produtor Tom Cruise de estrelar outra franquia além de Missão Impossível.
Por isso, quando falarmos de Jack Reacher, é preciso guardar as devidas proporções, embora as aventuras de Ethan Hunt tenham mais virtudes que as tramais policiais protagonizadas pelo implacável ex-major.
A trama escrita por Richard Wenk (do bom O Protetor) e revisada pela dupla Edward Zwick e Marshall Herskovitz (O Último Samurai, também com Tom Cruise), tem início nos lembrando da natureza heroica de Jack Reacher (Cruise) que já surge em cena prendendo um delegado criminoso.
Porém, Reacher, mais uma vez, é forçado a sair do anonimato para investigar a prisão da major Turner (Cobie Smulders, da série How I Met Your Mother), com quem se comunicava recentemente e está sendo vítima de uma armação que pode envolver oficiais de alta patente. Convicto da inocência da colega de farda, Reacher resgata a militar e ambos embarcam numa jornada alucinante em busca da verdade ao mesmo tempo em que são perseguidos por um impiedoso assassino profissional, contratado pelo misterioso vilão.
Diante de uma trama tão genérica, o diretor Edward Zwick (do recente O Dono do Jogo) e o veterano montador Billy Weber (indicado ao Oscar por Top Gun) acabam tendo que apostar na velocidade como artifício principal para evitar que o espectador perceba que o que está assistindo, na verdade, é a versão cinematográfica de um mero episódio de uma série de TV. E um episódio bem pedestre, vale dizer, pois a falta de refino é impressionante até mesmo para os padrões da TV aberta.
E essa falta de refino é a principal característica da direção do experiente Edward Zwick, que aqui retoma a parceria com Tom Cruise, com quem trabalhou no ótimo O Último Samurai, em 2003. Zwick oferece talvez seu mais preguiçoso e burocrático trabalho, o que fica evidente nos deselegantes zooms que o filme apresenta em determinados momentos e na maneira frouxa com que conduz as cenas menos agitadas (já que as cenas de ação, ao menos, funcionam).
Sim, a intensidade de Cruise até redime seu trabalho em vários momentos, mas nada justifica as terríveis tomadas em câmera lenta que permeiam, principalmente, o terceiro ato da trama, escancarando mais uma vez a proximidade do filme com as produções televisivas.
A trilha sonora também parece saída do banco de dados de algum site royalty free, pois quem assistiu a Capitão Phillips, Kick Ass, ou Capitão América: O Soldado Invernal, sabe que o compositor Henry Jackman tem talento de sobra para construir algo infinitamente superior aos banais acordes que acompanham as ações do protagonista.
E o roteiro, como já adiantei, não faz jus a uma produção cinematográfica. Pontuando a trama com coincidências que, de tão implausíveis, chegam a ser inacreditáveis, como o encontro “casual” entre Reacher e a esposa de uma testemunha chave, o trio de roteiristas ainda tem a capacidade de incluir uma cena em que um personagem expõe uma série de informações sem jamais tê-las recebido, demonstrando um descuido preocupante por parte dos autores. Sorte deles que o projeto é uma produção de Tom Cruise, um ator cujo carisma é forte o bastante para redimir boa parte dessas imperfeições.
Em certo momento do filme, uma personagem se mostra descontente com as atitudes de Jack Reacher que, ao perguntar o motivo, ouve um sonoro “você é intenso demais”. Uma fala que parece ter sido escrita diretamente para o ator, famoso pela máxima entrega aos personagens e por um nível de comprometimento tão grande que o motiva a cometer insanidades, como dispensar dublês ao escalar o edifício mais alto do mundo (em Missão Impossível 4), ou se pendurar na fuselagem de um avião em pleno vôo (como em Missão Impossível 5). O fato é que existem poucos artistas como Tom Cruise.
Já em relação ao restante do elenco, Cobie Smulders acaba se revelando um acerto, já que a atriz se mostra confortável como a ex-major Turner. O mesmo já não pode ser dito da jovem Danika Yarosh que impressiona pelo nível alarmante de canastrice. Seguindo a mesma linha, Robert Knepper (figura conhecida do mundo televisivo) apenas repete sua tradicional composição vilanesca. Sente-se, e muito, a ausência do grande Robert Duvall, tão divertido no filme anterior.
Sendo assim, Jack Reacher: Sem Retorno é uma previsível e açucarada aventura policial que deve despertar mais interesse pela figura do ator que a protagoniza do que pela história em si. Uma experiência que não chega a ser catastrófica, mas que dificilmente será lembrada no futuro.
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