Ao término de Gringo: Vivo ou Morto, a primeira impressão que tive foi a seguinte: Como Hollywood é fascinada por indivíduos azarados! Afinal de contas, esses sujeitos menos afortunados já fazem parte praticamente de um subgênero próprio, do qual já saíram inúmeras pérolas. E é exatamente por causa dessa abundância que Gringo: Vivo ou Morto acaba soando tão banal, chovendo no molhado graças a um roteiro que se prende demais a uma trama intrincada e por vezes rocambolesca, sendo salvo pontualmente pelo carisma de suas estrelas.
A começar por David Oyelowo (Jack Reacher – O Último Tiro), um ator subestimado e que parece fadado a se provar eternamente. Aqui ele é Harold, um executivo subalterno que se vê numa teia de reviravoltas ao ver seu emprego ameaçado pelo chefe e suposto amigo Richard (Joel Edgerton, irmão do diretor) que, ao lado de sua calculista namorada Elaine (Charlize Theron), o coloca numa viagem de negócios ao México. Nem é preciso dizer que tudo dá errado, e ele rapidamente vê tudo desmoronar ao seu redor, entrando em conflito com o perigoso traficante Pantera Negra (boa sacada).
Carregando o filme com carisma e um surpreendente timing cômico, Oyelowo diverte (e diverte-se) ao compor Harold como um sujeito tão meticuloso que simplesmente não aceita o fato de tudo dar tão errado de repente. Amoroso com a esposa (Thandie Newton, da série Westworld) e leal ao amigo/chefe, Harold pode até tentar controlar tudo ao seu redor, mas são justamente os detalhes que acabam lhe passando batido, o que gera muito material para os roteiristas Anthony Tambakis (Guerreiro) e Matthew Stone (O Homem da Casa) se esbaldarem.
A dupla, porém se concentra em inchar a narrativa com subtramas e personagens, prejudicando sensivelmente o ritmo da história e dependendo demais dos atores. Tudo parece existir apenas para justificar as reviravoltas, o que acaba convertendo alguns coadjuvantes em meras peças unidimensionais à serviço do plot, como o casal vivido por Amanda Seyfried (Mamma Mia!) e Harry Treadaway (da finada série Penny Dreadful).
Entretanto, mesmo que o diretor Nash Edgerton (ex-dublê) perca o controle em vários momentos, o elenco é bom o bastante para não deixar a peteca cair, caso, por exemplo, de Charlize Theron (Velozes e Furiosos 8) que mesmo interpretando uma caricatura, consegue tirar leite de pedra, trazendo até mesmo camadas de profundidade à Elaine, ao passo que Joel Edgerton (Operação Red Sparrow), surge confortável na pele do inescrupuloso Richard, sendo levemente eclipsado por sua colega.
Investindo grande parte de suas forças em reviravoltas que parecem existir apenas para manter o espectador interessado, Gringo: Vivo ou Morto acaba falhando ao tratar algumas delas com certo descuido (como a subtrama envolvendo Bonnie) numa cena previsível que, para variar, é salva por Charlize Theron.
Em outros momentos, porém, a produção se sai bem, apostando no bom humor de ótimas sacadas como a supracitada referência a Pantera Negra e a boas piadas sobre os Beatles. E mesmo exagerando no didatismo (repare no excesso de analogias), chega a impressionar como o roteiro consegue ser confuso, bagunçando a mente do espectador enquanto caminha aos trancos e barrancos rumo ao final, quando apresenta mais um personagem (interpretado pelo sempre excêntrico Sharlto Copley, de Esquadrão Classe A) em meio a um ritmo descompassado.
No fim, Gringo: Vivo ou Morto, acaba compensando seus problemas com uma história leve e habitada por seres cheios de personalidade. Passa longe de ser tão complexo ou genial como julga ser, mas não desperta aquela desagradável sensação de tempo desperdiçado.
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