Héteros de masculinidade frágil podem achar que finalmente ganharam um filme para eles esse ano. Deve ser a tal da diversidade que tanto falam. Um filme de quando os homens eram protagonistas em tudo e as mulheres ficavam em casa cuidando das crianças? E o assunto principal das conversas é sobre carros e vencer competições? Mais macho que isso só se os pilotos atirassem uns contra os outros.
Felizmente o diretor James Mangold, vindo do merecido sucesso de Logan (2017), evita boa parte dos clichês que poderiam surgir nesse tipo de filme e elege um tema para focar: o orgulho.
Todos os personagens são orgulhosos de si mesmos e de suas conquistas: Carrol Shelby (Matt Damon) é um piloto vencedor das 24 Horas de Le Mans; Ken Miles (Christian Bale) tem orgulho de ser um grande especialista em carros, um dos melhores pilotos do mundo e ter uma linda família que também se orgulha dele; e por fim, temos Henry Ford II (Tracy Letts), orgulhoso de ser neto de Ford e herdeiro de seu vasto império automobilístico.
Mas eis que ao tentar comprar a marca Ferrari para melhorar a imagem e as vendas de sua empresa, Ford II é rejeitado e humilhado por Enzo Ferrari. E com o orgulho ferido adota como missão criar um carro que acabe com a hegemonia da Ferrari em carros esportes e nas corridas, pois Ferrari vencera os últimos 4 circuitos de Le Mans.
Para isso, ele contrata Shelby e sua equipe, que no auge de sua carreira, teve que engolir seu orgulho e parar de correr por conta de um problema cardíaco. Agora engenheiro de automóveis de corrida, ele tem que lidar com o teimoso Miles, que terá seu orgulho posto a prova pelas decisões dos executivos da Ford.
O único defeito do filme em termos de roteiro foi ter eleito um personagem, Leo Beebe (Josh Lucas), para ser o executivo malvado, fazendo todos os outros parecerem pessoas bacanas ou pelo menos, razoáveis. Na verdade, o mais comum é justamente o contrário, já que pesquisas comprovam que a grande maioria dos executivos exibe traços de psicopatia ou se comportam como se fossem psicopatas.
Mas isso não chega a comprometer um filme que deve agradar entusiastas de velocidade, amantes de carros e qualquer apreciador de bons filmes com personagens interessantes como Shelby e Miles. Aliás, Bale se revela cada vez mais um dos grandes atores em atividade, pois ao contrário do que acontece com muitos atores que encarnam personagens famosos demais, não há sequer um momento que faça o espectador lembrar que um dia ele encarnou Batman.
Uma boa cinebiografia, como vivo dizendo, funciona sempre melhor quando se foca em um momento específico da vida do personagem. E Mangold e os roteiristas Jason Keller e os irmãos Butterworth acertaram em cheio em recortar essa grande época do automobilismo mundial, onde a criatividade e a liberdade entraram em conflito com a burocracia e a servidão. Junto a grandes tomadas dos belos carros chispando por todo tipo de pistas, o diretor se debruça sobre seus personagens extraindo deles grandes momentos de humanidade.
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