Seguindo a maratona cinéfila do Festival do Rio 2017, confira as críticas para os filmes deste terceiro dia da edição.
[divider style=”solid” top=”20″ bottom=”20″]
O Diabo e o Padre Amorth
Orgulhando-se de ter sido o primeiro cineasta a conseguir autorização para filmar um exorcismo real conduzido por um padre do Vaticano, o cineasta William Friedkin prova, mais uma vez, que O Exorcista, seu filme mais famoso, ainda lhe intriga, mesmo depois de 44 anos.
Surgindo como apresentador de seu próprio documentário como uma espécie de Sérgio Chapelin estadunidense, Friedkin tem a preocupação de fornecer todo o background necessário para aqueles que não se lembram da marcante produção de 1973, aproveitando para contar bastidores e embasar suas informações com depoimentos do próprio autor do livro (e roteirista do filme) e de pessoais especializadas.
Falando nisso, é admirável a postura do cineasta em incluir posições de ambas as partes, oferecendo versões de religiosos e de médicos, cientistas e pesquisadores. Claro que o exorcismo em si acaba sendo o ponto alto da produção, e Friedkin faz a preparação de forma adequada, investindo até num suspense pouco sutil. Sem firulas técnicas até mesmo em função das condições impostas para a captação das imagens, o exorcismo é, de fato, impactante, mas o diretor não parece reconhecer isso, já que ao final (sem contar spoilers) julga necessário incluir uma sensacionalista tentativa de criar um clímax, e o fato de não apresentar conteúdo gravado dá margem a especulações acerca da veracidade do que é dito.
Nada que faça tudo ir pelos ares, vale ressaltar, e o material ainda merece destaque por oferecer justificativas plausíveis, mas cuja aceitação dependerá exclusivamente do espectador. Afinal, trata-se realmente de uma possessão demoníaca ou de algum tipo de transtorno dissociativo de comportamento?
NOTA 3/5 ✮
[divider style=”solid” top=”20″ bottom=”20″]
Maudie
Figurinha carimbada de produções independentes, Ethan Hawke é um ator cuja filmografia recente raramente inclui produções voltadas para os cinemas (geralmente são destinadas ao mercado de Home Video), o que não o impede de estrelar filmes dignos de nota, como é o caso deste Maudie, que, além da costumeira competência de Hawke, também apresenta Sally Hawkins em grande atuação, numa demonstração clara de que este é seu ano (vide A Forma da Água).
Com performances dignas de prêmios (e Hawkins representará uma tremenda dor de cabeça para os votantes do Oscar que tiverem de decidir entre suas duas atuações), o longa-metragem dirigido pela irlandesa Aisling Walsh também faz questão de oferecer um roteiro coeso e que extrai imensa ternura.
Completamente voltado para a dinâmica do casal central, Maudie vai direto ao ponto, não se deixando levar por divagações e, com isso, apresenta-se como um dos melhores filmes do ano.
NOTA 4,5/5 ✮
[divider style=”solid” top=”20″ bottom=”20″]
As Boas Maneiras
Graças às famosas comédias da Globo Filmes, que monopolizam o circuito impedindo a divulgação de projetos mais ambiciosos, o Cinema Brasileiro ainda vive sob desconfiança, sempre visto com preconceito e má vontade por grande parcela dos espectadores tupiniquins.
Por isso, quando surge um filme de gênero, um terror, especificamente, há uma verdadeira celebração, como se nosso rico Cinema estivesse limitado às Neo-Chanchadas Televisivas da Globo.
Sendo assim, foi com certa curiosidade que As Boas Maneiras chegou ao Festival do Rio, logo após ser premiado no Festival de Locarno (na Suíça).
A boa notícia é que o longa de Juliana Rojas e Marco Dutra faz jus à expectativa depositada na produção, a má é a que, em função de seu conteúdo, corre grande risco de não ser abraçado pelo público. Debatendo sobre intolerância e diferenças através de bem-sucedidas alegorias, As Boas Maneiras não esquece de agraciar aos fãs do Horror, propiciando uma atmosfera de tensão crescente que, combinada a uma ótima fotografia, permite que o espectador curta mais do que apenas sustos fáceis.
Os créditos também devem ser divididos com o ótimo elenco, destacando-se as protagonistas Marjorie Estiano e Isabél Zuaa, que ainda protagonizam cenas quentes.
Surpreendendo com ótimos efeitos visuais, a produção infelizmente sofre com a inclusão desnecessária de alguns momentos musicais, alongando um filme que já não era curto. Todavia, a melhor forma de assistir (e curtir) As Boas Maneiras é entrando na sessão sabendo o mínimo possível (pode confiar nas surpresas) e, claro, mantendo a mente aberta.
NOTA 3,5/5 ✮
Comments are closed.