O novo melodrama açucarado de George Tillman Jr. deixa de ser machista apenas nos momentos em que o diretor tira o pé para ser… sexista. E sexista é mais próximo que o diretor consegue chegar quando tenta inutilmente dar às personagens femininas de Britt Robertson e Oona Chaplin algum tipo de importância que não um objeto de desejo dos machos estereotipados vividos por Scott Eastwood e Jack Huston (versão mais jovem do personagem Ira de Alan Alda, que é muito mais ator do que parece ser nesse filme).
Adaptado por Craig Bolotin a partir do livro de Nicholas Sparks, começamos o filme em um rodeio onde o cowboy Luke Collins (Eastwood) sofre um grave acidente. Sem que saibamos nada sobre as consequências, imediatamente saltamos para um ano depois, quando conhecemos a estudante Sophia Danko (Robertson). Diferente das amigas que se derretem estupidamente por cowboys em rodeios, Sophia é atraída somente por Collins, em sua primeira apresentação depois de meses de recuperação. Blablablás depois e graças a uma inusitada tempestade, salvam a vida de Ira (Alda). Sophia recupera alguns pertences de Ira e encontra cartas que ele escrevia ao amor da sua vida, a judia Ruth (Chaplin). A partir daí acompanhamos paralelamente o romance de Ira e Ruth enquanto o relacionamento de Luke e Sophia toma forma.
A única coisa positiva é que o filme não é piegas. Por outro lado, era só o que faltava. Não é piegas para ser machista. O roteiro de Bolotin emprega rimas temáticas que soam artificiais demais. Como por exemplo o desafio de um amor impossível presente nos dois relacionamentos e a paixão por pinturas que as duas personagens compartilham. E aí que a coisa degringola. Na tentativa de construir personagens interessantes com o interesse de ambas por arte, acabam por limitar as duas a meras admiradoras consumistas em vez de dar a elas o talento que as deixaria ainda mais independentes dos companheiros. Isso piora. Bolotin limita o grande desejo da vida de Ruth a ter muitos filhos e ser uma dona de casa. Já Sophia, diante de uma carreira promissora, será constantemente forçada a abandonar a carreira por causa da ambição de Luke que é… montar novamente o touro Rango, que causou seu acidente no começo do filme. Patético.
Além de moralmente desprezível, o filme é ruim. Tem uma fotografia exagerada que até certo ponto funciona para separar as duas linhas narrativas. Mas quando é utilizada para dar um ar de espetáculo aos rodeios cruéis com animais, afunda ainda mais o filme. Além disso, flashbacks e narrações em off para alternar presente e passado são tão mal feitas que lá pra octogésima carta que Ira lê a Sophia (sim, a impressão que dá é essa) ficamos com vontade de sumir do cinema. É absolutamente inverossímil que Ira conte sua vida a Sophia apenas através das cartas que lê. O espanto da personagem quando, depois de muito tempo e muitas cartas, ele lê os momentos mais trágicos de seu relacionamento com Ruth soa falso e risível. A partir de certo ponto do filme é possível antecipar o tipo de raccord que a montagem utilizará para saltar as duas narrativas. Que montagem horrível. Chega ao ponto de incluir uma sequência onde o treino de montaria de Sophia serve de raccord de movimento para uma cena de sexo.
O filme sacrifica personagens secundários sem nenhuma razão e deixa uma série de furos em uma conclusão previsível desde a primeira sequência. O roteiro chega a incluir possíveis antagonistas a Luke, mas jamais vemos qualquer desafio de ser um cowboy melhor que Jared. Outro personagem importante na trama, Daniel (garoto adotado por Ruth e Ira) volta para a trama de forma estúpida e inclusa ali para tentar amarrar poucas das muitas pontas soltas que o roteiro deixa.
O fato é que Uma Longa Jornada se refere à história de Ira e Ruth. Não demora muito para que percebamos que não nada há nada interessante no romance de Luke e Sophia. A subtrama é muito mais interessante do que o arco dramático do protagonista. Então somos submetidos a inúmeros planos que exploram o corpo de Robertson e Eastwood. Em vários momentos, o filho de Clint ainda resgata a cara de cowboy sério que o pai fazia nas décadas de 60 e 70. E o diretor não resite em fechar o plano como se quisesse ressaltar a paternidade do ator para dar alguma credibilidade ao filme que se torna esquecível minutos depois de assisti-lo.
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