Entre tantas boas adaptações cinematográficas de HQ e bem no período mais lucrativo e promissor do gênero, eis que vem a Fox e entrega um filme embaraçoso sobre o Quarteto Fantástico que sequer faz frente ao segundo longa lançado há exatos dez anos. Apenas uma coisa pode justificar a atrocidade: o claro objetivo de garantir os direitos sobre os personagens.
O filme não traz nada diferente do que já temos visto nesses tantos reboots dos últimos anos: os heróis adquirem os poderes e o vilão é apresentado no primeiro ato; os heróis desenvolvem os poderes e enfrentam conflitos individuais; e os heróis superam as diferenças entre si para enfrentar o vilão que ressurgiu como uma ameaça ao mundo inteiro. É isso que acontece de novo nesse reboot mequetrefe de Quarteto Fantástico.
E pouco se salva. Nem mesmo Miles Teller salva o longa da tragédia que é, pois seu talento mal chega perto de ser explorado pelo diretor Josh Trank. O filme começa razoavelmente bem ao apresentar as versões mirins de Reed (Teller) e Ben (Jamie Bell), mas rapidamente se perde ao envolver jovens extraordinários sob a tutela de um senhor careca capaz de orientar e desenvolver as habilidades de seus “filhos”.
O filme já começa a ruir nesse ponto. Ao tentar estabelecer uma semelhança com os X-Men de Charles Xavier, os três roteiristas forçam uma relação entre Dr Franklin Storm (Reg E. Cathey), pai biológico do Tocha Humana (Michael B. Jordan) e adotivo da Mulher Invisível (Kate Mara), que, pra dizer o mínimo, é tão superficial que deixa de ser relevante, mesmo com tantos minutos investidos para tentar construir essa relação. Aliás, a mesma relação que traz para o grupo Victor Von Doom (Toby Kebbell), o vilão mais rebelde-sem-causa já filmado na história das adaptações de quadrinhos. A falta de criatividade dos roteiristas é tanta que até de “cura” para as mutações dos heróis se fala no filme.
Roteiro piegas, sem inspiração e cheio de bobagens para justificar o que não se explica em sci-fi, vemos frases de efeito jogadas a cada quinze minutos. Logo, entre diálogos expositivos fracos e cansativos, vemos “Seja quem você nasceu pra ser” ou “Sozinhos não conseguiremos, mas juntos mudaremos o futuro” e tantas outras coisas assim. O filme tenta ser ficção científica. Mas passa longe.
Pior: cai na armadilha de justificar tudo com física quântica. Já é o terceiro filme no ano que faz o mesmo, afinal, como ninguém sabe nada sobre física quântica, na cabeça desses roteiristas preguiçosos, basta citar o termo que tudo fica justificado. E, claro, assim eles adquirem os poderes: com física quântica.
Como não bastasse citar o termo, a cinematografia de Matthew Jensen foi lá mostrar a dimensão paralela com planos medonhos dignos de Ultraman. É ali que Dr Destino é construído e que, com mais uma alusão a outra franquia, empresta as motivações de Ultron, só que sem nenhuma preocupação de justificar tamanho ódio pela humanidade. Pelo menos a máscara do Dr Destino resolveu todos os problemas de atuação de Toby Kebbell.
A trilha sonora é um exagero a parte. Tenta dar uma importância que a batalha final não tem. É uma batalha óbvia, previsível e cheia de furos. Assim como as principais ações que precedem o clímax, como por exemplo o momento em que Dr Destino sai pipocando cabeças humanas apenas com o pensamento, mas ignora os quatro ex-amigos de física quântica aplicada.
Esse novo Quarteto Fantástico não se sustenta diante dos anteriores. Igualmente problemático, o filme de 2005 ainda assumia o tom de comédia com muito mais eficiência que a tentativa deste novo de ser ficção científica. Um desperdício enorme para a franquia que deve ainda ter pelo menos uma continuação. Que, honestamente, deveria ser impedida a qualquer custo pela Marvel.
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