Já temos um forte candidato ao Framboesa de Ouro de 2015. O que já é de se esperar por qualquer coisa que traga Adam Sandler como protagonista. É difícil saber se ele é o responsável por coisas ruins ou se projetos que nascem estúpidos imediatamente o convidam para protagonizar esperando que o público leve menos a sério e perdoe as sucessivas bobagens que alimentam os atos de filmes como Pixels. Aqui, parece ser o segundo caso.
Sandler é um instalador de eletrônicos que no passado foi vice-campeão mundial de arcade. Típico fracassado prestes a ingressar uma jornada de herói, Brenner é chamado pelo presidente dos EUA (seu amigo de infância Cooper, interpretado por Kevin James) para analisar uma estranha intervenção alienígena. Não demora muito até que um time formado outros nerds pra lá de caricatos entre em cena para combater diversos personagens de uma das primeiras gerações de vídeo game. Eddie (Peter Dinklage), Violet (Michelle Monaghan) e Ludlow (Josh Gad) logo se juntam para combater os invasores que chegaram aqui após entenderem mal um a mensagem enviada pela NASA e agora estão prestes a destruir o mundo.
Acostumados a escrever bombas piores que Pixels, Tim Herlihy e Timothy Dowling entregam um roteiro preguiçoso, previsível e sem nenhuma reviravolta. Pixels mais aborrece do que diverte. Algumas piadas funcionam, outras vão na contramão de tudo o que se discute hoje no mundo sobre sexualidade (Qbert transexual é uma piada de muito mau gosto), pra citar apenas um exemplo do que dá errado. Nem mesmo as atuações bacanas de Gad, Monaghan, James e até mesmo de Sandler salvam o filme que afunda a cada ato em clichês absurdos e patéticos. Por outro lado, grandes atores como Dinklage, Brian Cox e Sean Bean ganham papéis estúpidos e sem nenhuma profundidade, o que é lamentável se considerarmos a quantidade de pessoas que verá esse filme justamente por causa de Dinklage.
Seguindo uma lógica de que a fase seguinte é mais difícil que a anterior, o filme chega ao clímax já antecipado pelo prólogo, o que acaba em um desfecho fraco, tolo e sem grandes surpresas, já que Brenner não dá espaço para os outros personagens: é ele quem resolve todas as… fases.
O diretor Chris Columbus liga o automático e deixa a história seguir sem grandes inspirações. E olha que estamos falando de um diretor talentoso que tem no currículo os roteiros de Gremlins e Os Goonies, além de ter dirigido os dois primeiros filmes de Harry Potter. São poucos os momentos em que vemos uma boa sacada do diretor, como por exemplo o plano aéreo da skyline de Nova York durante a noite, onde as luzes dos prédios criam uma rima visual com o aspecto das criaturas. Ou mesmo quando o diretor emprega planos de cima pra baixo para transformar as ruas da cidade em um cenário de Pac Man. Mas é só.
A direção de arte, de forma bem sucinta, tenta ainda resgatar esse padrão visual. Note no jantar, atrás da banda, há um painel que remete a pixels. O figurino de Sandler, laranja chapado, também destoa da fotografia e o aproxima das criaturas que irá enfrentar. Mas veja que são boas tentativas para criar um efeito visual que se aproxime dos efeitos digitais que morrem ali, sem maiores esforços dos realizadores para conseguir um bom resultado.
Naturalmente, o aspecto positivo fica nos efeitos especiais e nas criaturas inseridas digitalmente. Uma pena que sejam todos jogados na tela como uma invasão bárbara e sequer temos tempo de pegar todas as referências que são feitas ali, salvo quem passou boa parte da infância mergulhado nos games. Assim, o ataque das pedras de Tetris destruindo prédios pode passar sem que o espectador perceba a brincadeira que funciona bem, pois acontece junto com outros vinte games que são referenciados durante o visualmente poluído terceiro ato. Logo, falha a ideia de trazer esses personagens dos games que iniciaram toda uma geração a esse mundo digital para que sentisse qualquer saudade. A nostalgia fica só na trilha sonora do filme, que funciona bem para aqueles que viveram a juventude nos anos oitenta e noventa.
Detona Ralph fez muito mais por essa geração de games do que Pixels, que surge mais como uma tentativa frustrada de homenagear o mundo nerd. É um filme muito Adam Sandler (que pra mim é sinônimo de filme ruim). O curioso é que nesse caso não é ele quem afunda o barco. Mas como eu disse, o ator parece atrair porcarias onde atuar.
Se você ainda tiver vidas quando acabar o filme, fique para ver os créditos finais. Resumem o filme de maneira mais honesta e acabam sendo mais interessante do que tudo o que vimos nas horas anteriores.
Comments are closed.