noite sem fim cartazMais um filme de perseguição estrelado por Liam Neeson que figurará apenas como mais um de tantos do gênero com essa narrativa do anti-herói em redenção contra todo mundo. Não chega a ser um filme ruim, garante alguma diversão, mas graças ao roteiro preguiçoso de Brad Ingelsby, não sobram muitas alternativas para a direção de Jaume Collet-Serra.

Jimmy Conlon (Neeson) é um capanga já sem muito o que fazer em tempos de relativa paz, já que o chefão do crime Shawn Maguire (Ed Harris) decide “se adaptar” e regularizar os negócios da família fora do crime organizado. Em desacordo com o pai, Danny Maguire (Boyd Holbrook) encontra uma oportunidade de ganhar muito dinheiro com tráfico e se mete em uma confusão com traficantes armênios. Na tentativa de limpar a bagunça feita pela sua ganância, Danny acaba envolvendo Mike Conlon (Joel Kinnaman), filho de Jimmy, que há tempos evita o pai.

E aí começam todos os problemas. Tudo é conveniente no roteiro de Ingelsby e são tantas coincidências para tapar os furos na história que logo no primeiro ato já deixamos de nos importar com o protagonista e seus familiares, estes  que passam a ser perseguidos por bandidos infiltrados na polícia, além dos tradicionais brutamontes que fazem a segurança pessoal de Shawn. O que é uma pena.

O roteiro tem méritos ao encerrar um arco dramático que parece ser o principal do filme logo no primeiro ato. Sim, a virada para o segundo ato é excelente e coloca o protagonista em uma caçada promissora. Mas tarde demais. Há bons momentos como uma perseguição a um carro da polícia (coisa que queria ver há anos) ou sequências que ressaltam a frieza de Jimmy Conlon. São os pontos altos de um filme muito irregular. A pior de todas as coincidências é o encontro entre Mike e Danny, o que é imperdoável no roteiro que sequer se esforça para justificar como aquilo acontece.

Collet-Serra tem méritos ao investir em planos aéreos de Nova York com travellings rápidos para chegar aos detalhes da narrativa que quer contar. Apesar de serem planos bastante interessantes, o tiro sai pela culatra. Lembram constantemente que estamos em uma metrópole gigantesca e que por esse motivo não deveria ser tão fácil encontrar um banheiro vazio no metrô para uma pancadaria, muito menos reencontrar uma pessoa em uma fuga com tanta facilidade dentro de um vagão de trem.

noite sem fim

Por falar em trens, a montagem exagera ao incluir muitos planos de trens em movimento. O tempo todo há planos com isso que servem também para ensurdecer o espectador com os barulhos dos trens. Narrativamente isso funciona para um encontro importante no terceiro ato que acontece em uma linha cheia de trens estacionados com um silêncio angustiante. O problema é o desequilíbrio nessa construção, que mais incomoda do que ajuda.

Sem se conter em resolver a trama com os personagens principais, o roteirista ainda coloca personagens importantes no terceiro ato. Common interpreta um estereotipado assassino risível que surge sempre em luzes verdes e vermelhas, uma fotografia tão óbvia e mal utilizada que destrói o personagem ao invés de construí-lo. O talentoso Vincent D’Onofrio tem uma participação pálida e quase inexpressiva. Neeson está no automático, não confere peso nem mesmo na dinâmica com Joel Kinnaman, que interpreta o filho de seu personagem.

Seus melhores momentos acontecem na presença de Harris, ator experiente que consegue criar um criminoso tridimensional, violento e vulnerável ao mesmo tempo. Uma pena que o roteiro não explore o personagem tão bem e logo Harris assume o vilão nada coerente com o Maguire visto nos primeiros minutos de filme.

O espectador rapidamente esquecerá esse filme. Não traz grandes reviravoltas, não traz uma trama interessante. Apenas uma correria, assassinatos e uma sequência de coincidências que sem elas o filme não passaria dos primeiros quinze minutos.

Author

Escritor e Crítico Cinematográfico, membro da Associação Paulista de Críticos de Arte e da Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos.

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