Uma coisa que ninguém pode negar é que a franquia protagonizada por Ethan Hunt é honesta em sua proposta de trazer ao espectador agentes altamente treinados e competentes em situações… bem… ok, impossíveis.
O que já valeria o ingresso. Mas não é só isso que garante o sucesso da série e sim o cuidado em desenvolver as tramas cada vez mais complexas no cenário internacional sem deixar de respeitar as limitações impostas pelo envelhecimento do personagem e do seu intérprete.
E é assim que passamos a nos importar com Ethan, um sujeito longe de ser fisicamente aquele agente do primeiro filme para ser, agora, diante de ameaças ainda maiores, um sujeito com medos, falhas e desacreditado pelo governo que sustenta toda a operação do seu grupo.
Escrito e dirigido com todos os louvores por Christopher McQuarrie, Missão: Impossível – Nação Secreta apresenta uma organização formada por ex-agentes de todas as inteligências que conhecemos (como CIA, Mossad, KGB e MI6). Imaginando-se como libertadores, o grupo chamado Sindicato pretende colocar em prática um plano que estabeleceria uma balança de poderes entre países. Logo, temos aqui vilões à altura do protagonista formando uma rede capaz de estar sempre um passo a frente das investigações das instituições governamentais. E de Hunt.
É aí que o roteirista se mostra bastante habilidoso ao investir numa trama de contra inteligência, forçando aqueles tidos pelo espectador como heróis a derrubarem as estratégias do Sindicato, que, como fica claro logo no início, pode ser formado por qualquer um, até mesmo por agentes motivados por ideais que confrontam diretamente a noção de segurança nacional e mundial. Dessa forma, quando o vilão justifica suas ações terroristas comparando-as com os inocentes que matou em nome do governo, percebemos o subtexto que McQuarrie inclui como crítica às ações daqueles que detêm oficialmente o controle das nações.
Não faltam sequências frenéticas muito bem conduzidas. Ações no ar, na água e em terra, perseguições de carro, moto e correria. Tudo com a medida certa de urgência. Destaque para a magnífica sequência de ação em uma ópera, onde atos, encenações e música se complementam criando ainda no começo do filme um dos melhores momentos que essa franquia já trouxe com a sutileza de usar uma partitura como marcação do tempo. Essa sequência ainda tem um cuidado especial: o alvo a ser salvo faz referência ao assassinato do herdeiro do trono austro-húngaro em um atentado que culminou na Primeira Guerra Mundial, algo que, aqui, vai de encontro com os interesses do Sindicato.
O elenco está excelente com os atores absolutamente seguros em suas atuações: Jeremy Renner e Rebecca Ferguson entregam atuações impecáveis como agentes duplos pelos quais o roteiro prepara as melhores reviravoltas. Ving Rhames e Simon Pegg voltam como parceiros de Hunt e através deles há o alívio cômico de sempre. Pegg se destaca em dois momentos cruciais da narrativa quando precisa trabalhar um texto para passar em um detector de mentiras e depois quando ele é comandado remotamente pelo vilão Solomon Lane. É uma composição impecável do ator, que precisa transmitir as linhas de diálogo de Lane enquanto sua expressão facial indica reações contrárias ao que está dizendo.
Já Tom Cruise e Sean Harris são os grandes destaques absolutos do filme. Por um lado, Cruise explora o envelhecimento e as imperfeições para dar verossimilhança ao super agente das missões impossíveis. Como é divertido vê-lo pendurado do lado de fora de um avião e depois tropeçar em um carro. Cruise tem controle absoluto do seu personagem e consegue transmitir as decisões com uma simples contração de maxilar (um plano fechado genial do diretor). Já Harris é um vilão à altura, daqueles de olhar frio e que colocam a mão na massa quando precisam. Faltou apenas um desenvolvimento melhor dos outros agentes, limitando a atuação dos outros a meros terroristas carrancudos que acreditam fazer bem ao mundo quando derrubam aviões ou explodem criancinhas.
É um filme fluído apesar de toda a correria, diversas belas locações fotografadas com proeza pelo excepcional Robert Elswit e uma trama suficientemente complexa para atrapalhar muitos realizadores. A montagem contribui para essa fluidez, são inúmeros raccords de movimento que permitem que a narrativa salte de uma locação a outra com o claro objetivo de confundir o espectador, o que torna a sequência quase subjetiva do ponto de vista de quem persegue. Exemplos disso são as sequências de Cuba/França e uma que envolve um pen drive.
Finalmente, vale ressaltar o trabalho de Joe Kraemer, que usa música em perfeita sintonia com o que está em tela. Com uma trilha poderosa e épica (especialmente durante a ópera), Kraemer insere trechos do já clássico tema criado por Lalo Schifrin tanto para provocar o espectador quanto para marcar cenas mais frenéticas, garantindo outro ponto forte nesse filme.
Missão: Impossível – Nação Secreta é um raro exemplo de uma franquia de cinco filmes em ascensão que ganha um fôlego para muito mais história pela frente. Se for pra ser sempre assim, vida longa a Ethan Hunt!
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