A busca pelo público jovem levou a literatura, e consequentemente o cinema, a explorar histórias de personagens jovens inseridos em fantasias diversas onde, além dos perigos da própria aventura, devem enfrentar os desafios inerentes à adolescência e sobretudo à passagem para a vida adulta – com perigos por vezes mais monstruosos do que qualquer criatura fantástica. Essa tendência não é ruim (gerou Jogos Vorazes!), mas é também natural que a busca por um lugar ao sol leve autores a uma corrida na qual não podem carregar o peso da qualidade nos produtos que escrevem. Além da qualidade, livros assim nascem prontos para adaptações cinematográficas, como se o escritor pensasse na tela, e não na literatura – o que fatalmente enfraquece o material.
Maze Runner é mais um exemplo de uma longa lista de filmes adaptados desse mercado. Tem, ao menos, um argumento muito mais interessante do que seus pares. Gosto muito de pensar no labirinto como uma metáfora para esse desafio de se tornar adulto, afinal, além dos perigos inesperados, quantas vezes não nos deparamos com um longo corredor sem saída?
A história é sobre um jovem chamado Thomas (Dylan O’Brien) que chega a um lugar chamado Clareira sem sequer lembrar do seu nome. Descobre-se em uma pequena sociedade livre de tecnologias formada apenas por jovens meninos e não demora muito para perceber que está cercado por um misterioso labirinto onde ninguém além dos chamados Corredores pode sair dali. Ao questionar a permanência dos garotos e após a inesperada chegada da única menina entre eles, Teresa (Kaya Scodelario), Thomas decide enfrentar o labirinto ao lado de outro Corredor chamado Minho (Ki Hong Lee) e por aí toda a aventura se desenvolve.
O ponto de partida para o desenvolvimento dos personagens é o que há de mais forte: sem memória, o que resta de cada um é a característica mais marcante, assim, Thomas leva consigo apenas a sua natureza inquieta de não aceitar o mundo a sua volta sem questionamentos e o mesmo ocorre com os demais – o que de certa forma facilita a estabelecer a função de cada personagem sem precisar estereotipá-los e ainda sobra espaço para desenvolver alguma tridimensionalidade naqueles que mais interessa. Sob essa ótica, é possível notar como o trabalho dos jovens Blake Cooper, Thomas Brodie-Sangster e Will Poulter merece mérito, pois cumprem muito bem essa função ao dar mais dimensões aos personagens Chuck, Newt e Gally, limitados pela natureza do projeto, mas enriquecidos pelos jovens atores.
O roteiro é assinado por Noah Oppenheim, Grant Pierce Myers e T.S. Nowlin, baseado no livro de James Dashner. Funciona bem na construção dos personagens, mas escorrega muito nas cenas que antecedem uma ação, que geralmente cortam o diálogo no momento de uma revelação importante, um recurso barato pra restringir a narrativa usado muitas vezes. Na maioria das vezes isso acontece com o personagem de Aml Ameen e chega a ser irritante. Os roteiristas conseguem construir bem a trama, constroem muito bem a história da Clareira e seus habitantes, mas tudo desmorona no terceiro ato, quando há uma tentativa frustrada e emergencial de explicar a verdade sobre o labirinto e os motivos daquelas crianças estarem ali. Como sugere o material original, Maze Runner se tornará uma série, mas isso não justifica transformar o ato final em uma preparação para uma inevitável sequência em vez de fechar a história de forma mais orgânica. Esse desfecho com muita coisa aberta a poucos minutos do final lembrou a tragédia que foi o longa A Bússola de Ouro, que sequer ganhou continuação.
No aspecto visual, o design de produção é satisfatório. Tanto a Clareira quanto os corredores do labirinto são convincentes, tanto ao estabelecer os primórdios de uma sociedade quanto na concepção de uma constante ameaça representada pelos altos muros habitados por criaturas muito mais fortes e ameaçadoras que os humanos. O figurino e os objetos à disposição daqueles garotos mostra a preocupação de criar o contraste com a fotografia do laboratório cheio de telas modernas e em tons de azul que remetem a uma alta tecnologia daque. O desenho de som também contribui para essa construção e falha apenas quando os meninos seguem um bip de um dispositivo que encontram no final do segundo ato. Não só falha, como derruba parte da verosimilhança construída até ali.
É a partir daí que o projeto desmorona e entra em um ritmo alucinante para tentar amarrar as pontas. Então cede a recursos baratos, uma batalha final com as criaturas que soa óbvia do começo ao fim, a aparição de um personagem sem nenhuma explicação para criar um clímax emocional e, pior, o momento em que encontram uma gravação explicando as dúvidas levantadas durante os atos anteriores.
Não é um filme descartável, a ideia parece promissora, mas infelizmente o filme apresenta um erro grave para o cinema: não se sustenta sozinho. Não tenho dúvidas de que é uma boa adaptação dirigida por Wes Ball, os fãs do livro devem sair satisfeitos. Por outro lado, aqueles que não conhecem a história não devem encontrar muitos motivos para acompanhar a série no cinema. Para identificar esses erros, basta comparar Maze Runner com o que foi feito nos primeiros filmes adaptados de Jogos Vorazes, Harry Potter e O Homem Que Não Amava as Mulheres.
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