Inúmeras questões podem ser representadas por zumbis (de acordo com o contexto); desde o simbolismo do operário alienado até mesmo a personificação da morte, o medo do desconhecido. E os zumbis agora estrelam outro cenário: o mundo pós-apocalíptico.
O fim do mundo já foi representado no cinema por eventos como guerras nucleares, invasões alienígenas e, não se pode esquecer, as infecções misteriosas têm sido causas bastante populares na aniquilação global fictícia. Temos desde Fim dos Tempos, em que alguma toxina no ar faz as pessoas adquirirem tendências suicidas, até os zumbis famintos e psicóticos de Resident Evil, Eu sou a Lenda, Guerra Mundial Z, entre outros.
Talvez um grande atrativo desse estilo da ficção científica seja que, por mais de um ângulo, parece bastante real que alguma doença, quem sabe até criada por nós mesmos (propositalmente ou não), nos deixe à beira da extinção. Particularmente, acho que esse tópico acaba revelando uma ponderação atemporal e universal para a humanidade: em meio ao desastre, uma das piores emoções é aquela do sobrevivente. Ele tem de acordar todos os dias e encarar a verdade de estar sozinho. O homem não é uma ilha, e perder quem amamos é uma dor indefinível; é perder parte de si mesmo.
Assim chegamos a Maggie – A Transformação. Como alguns dos filmes que eu mencionei acima e muitas outras histórias que você com certeza conhece, nessa trama a questão é muito mais profunda do que o sobrenatural em forma de zumbi ou até a causa do vírus misterioso. O problema é encarar a inevitabilidade da morte, assistir a si mesmo e aqueles que ama rumando a um inexorável fim. Sempre vai ser horrível enterrar alguém da família, mas é extremamente cruel ver um pai enterrando uma filha. Pensando bem, a posição de Wade (Arnold Schwarzenegger) é ainda pior.
Maggie (Abigail Breslin), sua filha mais velha, aparentemente foge de casa e contrai o vírus por meio de uma mordida. A polícia a leva a um centro de tratamento, de onde ela não tem permissão para sair. Wade tem a sorte (ou azar, dependendo de como se pensa sobre o caso) de ser amigo de um médico que autoriza a liberação da menina e avisa sobre os riscos. Em algum momento, ela vai ficar fora de controle e uma decisão deverá ser tomada.
Sabe quando precisam encontrar um culpado para o crime e você tem a sensação de que prenderam qualquer um, só para a população se acalmar? É isso o que o sistema de saúde está fazendo com os infectados que começam a atacar indiscriminadamente: colocam todos em quarentena, a serem tratados com um coquetel de medicamentos que, ao que tudo indica, não resolve nada. Ou seja, uma medida para acalmar corações aflitos considerada “mais humana” do que simplesmente matar os pacientes.
Então, Maggie vai para casa e o pai não planeja entregar a filha de modo algum. Seu corpo apodrece, ela perde parte do tato e o apetite, a visão fica leitosa… e o pai tem de testemunhar impotente toda a transformação. Tem um dia particularmente ruim em que ela volta para casa ensanguentada depois de fazer um lanche com o que tinha sido uma raposa. Maggie pede para que o pai não a entregue à quarentena, para que a mate quando chegar o momento. Ele concorda, provavelmente sabendo que é um fim melhor do que a quarentena, mas é incapaz de cumprir a promessa.
Sem mais spoilers, algumas conclusões a respeito da produção são:
• Abigail Breslin e o Terminator atuaram muito bem, obrigada.
• Maggie – A Transformação tem zumbis mas não é terror nem suspense. Também tem o Schwarzenegger mas não é filme de ação. Dessa forma, liberte-se de ideias preconcebidas ao assistir, se não vai ser difícil gostar de alguma coisa.
• É um filme sobre o medo da morte, inevitabilidade, decisões difíceis, partidas e verdades. Maggie tem de conviver com o fato de que precisa de se despedir de quem ama, de que nunca vai ser adulta ou voltar à escola, de que é um risco para a própria família.
É um ângulo não muito explorado sobre o universo dos zumbis e, na minha opinião, captura algo da própria essência humana.
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