3 dias para matar cartazNão há como negar o mérito da tentativa de McG de inovar uma produção que traz um agente secreto letal perto da aposentadoria e já fragilizado que recebe uma última missão em troca de algo irrecusável. Naturalmente, as coisas complicam quando envolve a família da qual ficara distante por muitos anos enquanto cumpria o dever e então vemos o agente Ethan Renner envolvido em duas missões paralelas que se cruzam no terceiro ato de maneira desastrosa.

Kevin Costner bem interpreta o protagonista, diagnosticado com uma doença grave, que tem na sua última missão a chance de testar um remédio experimental oferecido pela agente Vivi Delay (Amber Heard), o que lhe garantiria mais tempo para tentar uma reconciliação com sua filha Zooey Renner (Hailee Steinfeld – que parece repetir o papel de Mesmo Se Nada Der Certo) e com sua esposa Christine (Connie Nilsen). Para conseguir o remédio, o protagonista precisa eliminar alguns alvos e então sua vida dupla começa a lhe trazer problemas nos dois lados.

Sim, havia como 3 Dias para Matar ser algo novo, diferente em termos de estrutura narrativa se não fosse o roteiro de Luc Besson e Adi Hasak. Primeiro pela falta de equilíbrio entre as primeiras (e boas) sequências de ação com o segundo e terceiro ato, quando o protagonista é mergulhado em um drama com sua família que oscila entre momentos fracos de tensão com momentos cômicos dispensáveis (uma cena envolvendo o cabelo da filha é terrível). Nesse sentido, o prólogo competente promete um filme empolgante e logo em seguida McG nos apresenta o drama familiar que segue perdido na projeção com momentos cômicos aqui e ali, sem que o grau de violência usado para construir um dos vilões nos fizesse temer pela família Renner.

3 dias para matar 2

O design de produção ainda garante uma certa inspiração, como por exemplo o objeto roxo que Renner dá a sua filha de presente e que a acompanhará durante boa parte da projeção. Isso é interessante por dois motivos: primeiro que o roxo é a cor relacionada à morte e segundo que já se espera o tempo inteiro que a garota será o alvo mais óbvio dos antagonistas que precisam atingir o agente. Não afirmo aqui que isso acontece ou não, mas aponto que essa construção é bem feita e merece esse crédito. Outro exemplo positivo é mostrar Ethan com uma fita VHS da infância da filha, o que indica o longo tempo que ficou afastado do ambiente familiar de forma objetiva e inteligente. Além disso, os cenários contribuem nas sequências de mais ação e MgG acerta a mão nos planos e movimentos de câmera, principalmente no início e em uma sequência em uma padaria. O desenho de som cumpre sua função, em especial quando ouvimos batimentos cardíacos que antecipam algo importante na concepção do protagonista, bem como o toque de celular do pai quando recebe ligação de Zooey, mas é prejudicado pela mixagem. Em mais de um momento percebemos erros de som a ponto de incomodar – e muito.

Também há um bom trabalho de fotografia de Thierry Arbogast (de Lucy), que consegue criar uma barreira visual entre o mundo da família de Ethan, com cores sóbrias em ambientes abertos e fechados, enquanto o mundo dos agentes secretos está constantemente em sombras, com cores chapadas e luzes focadas nos atores caricatos.

Mas fica longe de atingir qualquer proposta. 3 Dias para Matar traz sim bons elementos, mas que se perdem em um roteiro preguiçoso daqueles que insultam a inteligência do espectador com soluções tolas e mal construídas.

Author

Escritor e Crítico Cinematográfico, membro da Associação Paulista de Críticos de Arte e da Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos.

Comments are closed.