Detona RalphDetona Ralph parece uma ode de amor a uma geração que já está ficando velha, mas no bom sentido claro, até porque essa é a minha geração.

O filme começa há 30 anos, na época dos saudosos fliperamas de muito poucos bits, com aquelas “circunferências quadradas” e altíssimo grau de dificuldade, que nos faziam marretar os controles até a mão sangrar e pedir dinheiro para nossos pais ao ponto de enlouquecê-los (ou empobrecê-los, o que acontecesse primeiro).

Somos então apresentados ao jogo Fix-It Felix Jr., que faz quase expressa referência à Donkey Kong, em que Ralph é o vilão grandalhão que destrói um prédio e o jogador controla o Felix do título que, com um martelo mágico herdado de seu pai, pula e sobe no prédio, consertando-o, até que, derrotado, Ralph é jogado lá de cima em uma poça de lama.

Em uma sequência de time lapse muito bacana, que traz o filme até os dias de hoje, aprendemos que, apesar do advento de jogos mais modernos, Fix-It Felix Jr. sobreviveu incólume, sem atualizações, sendo um anacronismo tecnológico que demonstra o sentimentalismo e nostalgia dos produtores (John Lasseter entre eles, o rei desse tipo de adorável sentimento), dos roteiristas e do diretor Rich Moore, estreante em longas metragens.

Mas também aprendemos que, depois que o fliperama é desligado, os personagens dos jogos podem transitar livremente de um para o outro, por meio de uma muito bem sacada “central”, que é o filtro de linha em que todas as máquinas permanecem ligadas. Descobrimos, também, que Ralph (John C. Reilly no original em inglês) está infeliz, pois não tem o reconhecimento de seus pares, por ser um vilão. Ele participa de um grupo de ajuda junto com outros vilões clássicos como Bowser (da série Mario Bros.), Doctor Eggman (Sonic), Neff (Altered Beast) e um dos fantasminhas de Pac-Man.

A profusão de homenagens e citações ao longo do filme é impressionante. Nada fica de fora. Desde as presenças mais óbvias como os citados vilões, passando por personagens “desempregados” de jogos desativados como Q*Bert e Coily, até citações e gags visuais com o próprio Mario e Sonic, nada é esquecido pelos roteiristas Phil Jonhston e Jennifer Lee.

Mas eu disse que a fita, por seu tom saudosista, seria mais focada nas “crianças” de 40 anos, aquelas que efetivamente acompanharam a evolução dos jogos desde as preciosidades de 8 bits até os profundamente complicados, ainda que belíssimos jogos atuais, que quase exigem PhD em engenharia para serem detonados (eu sei, é a mente lenta de um cara de 40 anos, que ainda sente dificuldades jogando o primeiro Pitfall falando…). Acontece que a narrativa criada pela dupla de roteiristas consegue ser certeira o suficiente para funcionar em dois níveis: o dos saudosistas e o das crianças pequenas. Afinal de contas, a trama poderia muito bem ser resumida a “vilão de videogame quer ser herói”.

Para aqueles que ainda apreciam animação tradicional, cheguem um pouco mais cedo ao cinema para assistir Paperman (dirigido por John Kahrs), um delicioso curta metragem em preto-e-branco sobre um homem, uma mulher e aviões de papel em um Nova Iorque da década de 40. Belo, sem diálogos e simples. Exatamente como toda animação deveria ser e como os jogos de 8 bits eram.

Classificação: ÓTIMO

 [youtube http://www.youtube.com/watch?v=HSmGkyjXG7U]

Detona Ralph (Wreck-It Ralph)

Sinopse: Vilão de um jogo de videogame tenta provar ser uma boa pessoa, mas acaba libertando um super-vilão capaz de destruir os mundos de todos os jogos existentes.
Direção: Rich Moore
Elenco: Vozes na versão dublada de Tiago Abravanel, Rafael Cortez e MariMoon. Vozes no original de John C. Reilly, Jane Lynch, David Hyde Pierce, Dave Foley, Sarah Silverman, Jack McBrayer, Teddy Newton, Jamie Elman.
Gênero: Animação
Duração: 108 min.
Distribuidora: Disney
 

* Curto e Grosso é a seção da Central 42 dos reviews de filmes e séries, apresentados de uma maneira rápida, direta e sem muito blá blá blá.

 

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